Ponto histórico do Rio, Arco do Teles está interditadoPedro Ivo/
O Arco do Teles foi construído no século XVIII para ligar a Praça XV à Rua do Ouvidor por meio da Travessa do Comércio, composta por casarões centenários. Atualmente, apenas o Diário do Rio e o espaço de arte MT Projetos de Arte funcionam na travessa, além do restaurante que se estende da esquina com a Ouvidor.
O comissário administrativo da histórica Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, reaberta em junho, classifica a interdição como tragédia cultural no Arco do Teles. O empresário Claudio André Castro acrescenta que o abandono do casarão seguido do desabamento provocou infestação de ratos no local e infiltrações nos prédios vizinhos, inclusive na igreja, bem tombado de 1750 totalmente restaurado.
"Ao passo que nós compreendemos perfeitamente a necessidade de se isolar por segurança e também de se isolar para proteger o bem histórico tombado que desabou, o que a gente não compreende é como vai ficar impune o descaso absurdo dessa empresa dona do imóvel que desabou destruindo o vizinho e exterminando o comércio da rua", disse Claudio André Castro. "É o abandono e o descaso dessa empresa que é o responsável pela tragédia cultural que se abateu", acrescentou.
A Defesa Civil do Município informou que o momento é de vistoria por parte da Secretaria de Conservação (Seconserva), um trabalho lento e delicado segundo o órgão, para garantir a eliminação de riscos. Em seguida, é responsabilidade do proprietário contratar uma empresa habilitada para estabilizar e reconstruir o imóvel, que é tombado, informou.
O imóvel foi comprado em 2018 pela empresa ALP S/C LTDA. Vegetações estavam crescendo sobre a estrutura do casarão. A reportagem não conseguiu contato com a empresa até a publicação deste texto.
Além da interdição da Travessa do Comércio, o desabamento afetou o casarão vizinho, de número 21, e a chuva provoca infiltrações. Imagens aéreas feitas pela Irmandade Nossa Senhora dos Mercadores mostram os telhados danificados.
"Isso é fruto da falta de conservação, má utilização. A tendência é perder tudo. O Centro da cidade vem de um processo de esvaziamento não é de hoje. Desde os anos 1980 que vem acontecendo. Não há uso residencial", aponta.
O professor pondera que mesmo com o programa de estímulo da Prefeitura do Rio Reviver Centro, ainda não há interesse em utilizar casarões e sobrados do Centro da cidade para habitação social. As imobiliárias têm priorizado espaços vazios para construção de prédios modernos.
"Esses conjuntos arquitetônicos em grupo [como no Arco do Teles] podem e devem ser utilizados para habitação de interesse social, mas o mercado imobiliário não tem o menor interesse em fazer isso. O município deveria oferecer outras formas de financiamento que contemplassem as particularidades financeiras dos proprietários desses imóveis", analisou Claudio Antonio.
A 150 metros da interdição na Travessa do Comércio, a apenas um minuto de caminhada, segue interditada a calçada da Travessa Tocantins, onde caiu parte da marquise do prédio da agência Central dos Correios. Toda a calçada do quarteirão onde fica o prédio está isolada por faixas da Defesa Civil Municipal. Os Correios afirmaram que o projeto de restauro está em fase de aprovação nos órgãos públicos e concessionárias e que o imóvel permanece vazio.
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