Ponto histórico do Rio, Arco do Teles está interditadoPedro Ivo/

Rio - O Arco do Teles, no Centro histórico do Rio, frequentado por turistas e que viu a efervescência de bares e restaurantes diminuir desde a pandemia da covid-19, está interditado desde o dia 7 de outubro, quando parte do teto do casarão de número 19 desabou, deixando escombros no local. Na madrugada de quinta-feira (19), uma equipe da Comlurb removeu as pedras que se acumulavam no local, mas o espaço segue isolado por faixas da Defesa Civil Municipal.
Garçons que trabalham na Rua do Ouvidor, um dos acessos ao Arco do Teles, lembram que durante o dia era comum que grupos com guia de turismo parassem bem em frente ao local onde houve o desmoronamento para contemplação do casario. O incidente aconteceu durante a madrugada e a única pessoa que estava no local era um guarda do imóvel, que não se feriu.

O Arco do Teles foi construído no século XVIII para ligar a Praça XV à Rua do Ouvidor por meio da Travessa do Comércio, composta por casarões centenários. Atualmente, apenas o Diário do Rio e o espaço de arte MT Projetos de Arte funcionam na travessa, além do restaurante que se estende da esquina com a Ouvidor.

O comissário administrativo da histórica Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, reaberta em junho, classifica a interdição como tragédia cultural no Arco do Teles. O empresário Claudio André Castro acrescenta que o abandono do casarão seguido do desabamento provocou infestação de ratos no local e infiltrações nos prédios vizinhos, inclusive na igreja, bem tombado de 1750 totalmente restaurado.

"Ao passo que nós compreendemos perfeitamente a necessidade de se isolar por segurança e também de se isolar para proteger o bem histórico tombado que desabou, o que a gente não compreende é como vai ficar impune o descaso absurdo dessa empresa dona do imóvel que desabou destruindo o vizinho e exterminando o comércio da rua", disse Claudio André Castro. "É o abandono e o descaso dessa empresa que é o responsável pela tragédia cultural que se abateu", acrescentou.

A Defesa Civil do Município informou que o momento é de vistoria por parte da Secretaria de Conservação (Seconserva), um trabalho lento e delicado segundo o órgão, para garantir a eliminação de riscos. Em seguida, é responsabilidade do proprietário contratar uma empresa habilitada para estabilizar e reconstruir o imóvel, que é tombado, informou.

O imóvel foi comprado em 2018 pela empresa ALP S/C LTDA. Vegetações estavam crescendo sobre a estrutura do casarão. A reportagem não conseguiu contato com a empresa até a publicação deste texto.

Além da interdição da Travessa do Comércio, o desabamento afetou o casarão vizinho, de número 21, e a chuva provoca infiltrações. Imagens aéreas feitas pela Irmandade Nossa Senhora dos Mercadores mostram os telhados danificados.
Vista aérea mostra danos em telhados de casarões do Arco do Teles - Reprodução/ Irmandade de N. S. dos Mercadores
Vista aérea mostra danos em telhados de casarões do Arco do TelesReprodução/ Irmandade de N. S. dos Mercadores


Ameaça a patrimônio histórico
O professor do curso de Arquitetura e Urbanismo e do programa de pós-graduação em Patrimônio, Cultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e de mestrado profissional em Projeto e Patrimônio da FAU-UFRJ, Claudio Antonio, observou que a tendência é que o casario da região se perca se não houver políticas que priorizem conservação.

"Isso é fruto da falta de conservação, má utilização. A tendência é perder tudo. O Centro da cidade vem de um processo de esvaziamento não é de hoje. Desde os anos 1980 que vem acontecendo. Não há uso residencial", aponta.

O professor pondera que mesmo com o programa de estímulo da Prefeitura do Rio Reviver Centro, ainda não há interesse em utilizar casarões e sobrados do Centro da cidade para habitação social. As imobiliárias têm priorizado espaços vazios para construção de prédios modernos.

"Esses conjuntos arquitetônicos em grupo [como no Arco do Teles] podem e devem ser utilizados para habitação de interesse social, mas o mercado imobiliário não tem o menor interesse em fazer isso. O município deveria oferecer outras formas de financiamento que contemplassem as particularidades financeiras dos proprietários desses imóveis", analisou Claudio Antonio.

A 150 metros da interdição na Travessa do Comércio, a apenas um minuto de caminhada, segue interditada a calçada da Travessa Tocantins, onde caiu parte da marquise do prédio da agência Central dos Correios. Toda a calçada do quarteirão onde fica o prédio está isolada por faixas da Defesa Civil Municipal. Os Correios afirmaram que o projeto de restauro está em fase de aprovação nos órgãos públicos e concessionárias e que o imóvel permanece vazio.