Aposentado cria espaço literário em praça de Campo Grande para distribuir livros de graça

Rio - Em um local que só havia lixo e entulho, próximo a um campo de futebol, em uma praça em Campo Grande, na Zona Oeste, o aposentado José Carlos Barbosa, de 71 anos, criou uma livraria gratuita que ganhará, em breve, um novo espaço para os leitores.

O projeto 'Livro na Praça' fica na Avenida Aldo Botelho e teve início há pouco mais de um ano. Apesar do pouco tempo, já conquistou o bairro e recebe uma vasta doação de livros, desde infantis até obras clássicas. A iniciativa que leva o nome de 'Espaço Literário Menairdes Barbosa' tem como objetivo incentivar a leitura e permitir que as pessoas possam fazer trocas.

Para o idealizador do projeto, não há venda de livros em nenhuma hipótese. "Tem livro aqui que ninguém nunca usou e está até plastificado. Apareceu um homem aqui querendo comprar um livro sobre o corpo humano e eu falei que não vendo nada", enfatizou José.

O técnico em radiologia Alan Carvalho, de 26 anos, foi ao projeto pela primeira vez e disse que prefere livros de filosofia ou política. "É incrível você ter o acesso aos livros. Não só pessoas da minha idade, mas também as crianças, é importante", disse Alan.

Para Yasmim Armstrong, moradora do bairro de 25 anos, que visitava a biblioteca pela segunda vez à procura de livros infantis para a filha de 2 anos e de poesia, o projeto atendeu a uma necessidade local.

"A gente precisava, porque eu vejo muita criança por aqui brincando, então elas passam aqui e mexem nos livros", afirmou Yasmim.

Além do espaço literário, seu José cuida também do bairro onde mora e varre a rua com muito empenho. Deste espírito comunitário, ele revela que a biblioteca surgiu da vontade de compartilhar conhecimento e que desde o começo a vizinhança abraçou a iniciativa.

"Eu me sinto bem em doar para os outros. Quando eu perdi a minha mãe fiquei muito deprimido e tive o propósito de tirar o lixo para fazer o projeto", diz, orgulhoso, o aposentado.

"Cada um ajudou um pouco. Deram cimento, as telhas e os caixotes. O projeto tem surtido bastante efeito, as pessoas têm vindo com muita curiosidade para conhecer e estou muito feliz", acrescenta Ana Marinha, mulher de José.

A professora Vera Lúcia Barbosa, de 74 anos, é voluntária desde o início do projeto e ajuda a organizar os livros. "Sempre estou aqui selecionando os livros, muita gente traz livros que já estão mofados. Vou mexendo e organizando", disse a professora.

Em pouco tempo, as doações de livros começaram a chegar e o espaço foi ficando pequeno devido à quantidade de livros. Mas, com a ajuda dos vizinhos, foi sendo construída uma tenda e mais prateleiras foram surgindo.




Já Adriana Carvalho, de 48 anos, conheceu a biblioteca por meio de mensagens trocadas em um grupo de comerciantes locais e passando pela região aproveitou a oportunidade para escolher dois livros.

"Eu estou aprendendo a ter paciência. Eu começo a ler e na metade do livro paro e volto um mês depois. Ainda não consegui ter o hábito de ler e finalizar. Estou lendo dois ao mesmo tempo. Mas o espaço é inspirador", afirmou.

O administrador Rogério Marques, 61 anos, também esteve ao lado do idealizador apoiando a iniciativa e, para ele, a colaboração em projeto importante faz parte da coletividade e da função como comunidade: “Nós somos felizardos de ter o projeto aqui no bairro".

O nome do local é uma homenagem a Menairdes Barbosa, mãe de José Carlos, falecida há três anos. Uma obra está sendo feita, com apoio da Prefeitura do Rio, em um quiosque que não estava mais em operação e que passará a abrigar mais livros e dar uma estrutura melhor aos itens.

"O projeto Livro na Praça é tão importante. Aqui, ele consegue unir o lazer, a cultura e atender a todos os gostos. Com a inauguração do novo espaço para a biblioteca, os visitantes poderão utilizar o próprio local para fazer a leitura. A Praça das Cruzadas foi totalmente revitalizada para atender, também, o público do projeto", ressalta o subprefeito da Zona Oeste, Diogo Borba.