Faixa pede mais segurança na Avenida 24 de Maio, no RochaReginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - Moradores dos bairros Rocha, Riachuelo e Jacaré, na Zona Norte do Rio, espalharam faixas pelas ruas alertando as pessoas sobre o alto índice de roubos e furtos que vêm ocorrendo na região. Um dos casos, de grande repercussão, aconteceu no final de setembro, em que um motociclista filmou os momentos de tensão durante um assalto à mão armada. Uma equipe do DIA esteve no local na manhã desta segunda-feira e constatou as faixas na Avenida 24 de Maio, alturas das ruas General Rodrigues e Marechal Bittencourt, além de diversos estabelecimentos e prédios com placas de "Vende-se" e "Aluga-se" ao longo da 24 de Maio e na Rua Marechal Rondon.

Segundo um morador da região, que preferiu não se identificar, ele e os vizinhos decidiram fazer uma vaquinha para produzir as faixas e espalhar pelos pontos mais críticos dos bairros. Com os dizeres "Chega de assalto! Segurança já! Os moradores pedem socorro", eles pretendem chamar a atenção da prefeitura, governo estadual e Polícia Militar para uma solução para a insegurança. Um dos pedidos é a instalação do programa Segurança Presente naquela área.


"Já tem um bom tempo que a região está cada vez pior na questão de segurança. Muitos comércios da rua fecharam. À noite você não vê pessoas nas ruas. Eu sei que toda Zona Norte está complicada, mas aqui está demais. Tem tudo: assalto a transeunte, à mão armada, a automóvel, furtos também roubam tudo. De cabos até estrutura inteira de ponto de ônibus", contou.

O morador explicou ainda que os crimes são frequentes e que às vezes os bandidos voltam aos mesmos lugares. "Esses dias eles roubaram uma caixa d'água de uma moradora, depois voltaram na mesma casa e roubaram o portão. Eles roubam grades da SuperVia, tem garotos que ficam no muro da linha do trem em horário de rush esperando e furtam telefone. São todos os tipos de assalto e furto o tempo inteiro", disse.

A campanha é um pedido de socorro dos moradores: "Não estamos aguentando mais. A gente tem medo de sair na rua, então tentamos chamar atenção pra esse descaso absurdo. Os caras roubam no mesmo horário todo dia, roubaram o portão de uma casa, como roubam o portão de uma casa e a polícia não vê? Roubam grades da linha do trem e a polícia não vê", diz o morador.

Outra moradora do bairro, que também preferiu não se identificar, mora 50 dos seus 52 anos no Rocha. Ela, que é servidora pública, afirma que o bairro sempre foi complicado em relação à segurança, mas diz que nos últimos anos piorou muito. A servidora já teve o próprio carro roubado com uso de um fuzil na Rua do Rocha, há cerca de quatro anos.

"Muito roubo com arma, fora os furtos. Está bem inseguro mesmo. As pessoas evitam ao máximo andar na rua. Às 18h fica tudo deserto. Não tem serviço nem comércio, padaria e bares fecham cedo", relata.
Uma advogada de 31 anos ouvida pela reportagem mora a vida toda no Rocha. Ela participou do recolhimento de contribuições para fazer as faixas de protesto. Quando pode, a moradora opta por transporte por aplicativo para voltar do trabalho, que é na Barra da Tijuca. Ela conta que a sensação é de desespero ao andar do ponto de ônibus até a sua casa. Para ir à academia, no Riachuelo, ela deixa o celular em casa para evitar o prejuízo em caso de roubo. 
"A gente acaba tendo a nossa liberdade limitada. Sinto desespero de ser abordada, especialmente nas ruas Doutor Garnier e Ana Neri. Escureceu, não pode mais ficar andando no bairro. Nem sempre eu posso andar de carro por aplicativo, nesses casos eu vou correndo. É uma falta de dignidade", critica.
Apesar de altos, números estão em queda

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam que o número total de roubos na circunscrição 25, que abrange os bairros Engenho Novo, Jacaré, Jacarezinho, Riachuelo, Rocha, Sampaio e São Francisco Xavier, entre janeiro e setembro de 2023 foi de 888.

Apesar de alto, o número representa queda de 28,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 350 casos a menos. O pico de roubos aconteceu em 2017, quando houve registro de 4 mil roubos na região.

Ao focar nos crimes de roubo a transeunte, nota-se que houve 203 registros do crime até setembro deste ano. Em 2022, foram 320 no mesmo período. A redução foi de 117 casos (-36,6%). O pico de roubo a transeunte nesses bairros da zona norte aconteceu em 2008 com 1083 casos.

O total de furtos na área dos bairros em 2023 já ultrapassou mil casos. Foram 1094 de janeiro a setembro. O número é menor do que o mesmo período do ano passado, que foi de 1414. Em 2022, o crime alcançou 1834 casos, e o pico da série histórica, iniciada em 2003, foi em 2017, com 3171 casos de furtos.

No ISP também há registro de quinze roubos a estabelecimentos comerciais e três roubos a residência este ano. Os dados referem-se de janeiro até o mês de setembro. Também houve um caso de latrocínio ante nenhum caso no ano passado.

Já os crimes violentos letais intencionais se mantiveram estáveis em relação a 2022. Foram 12 casos entre janeiro e setembro de 2022 e 2023. A categoria agrupa os registros de Homicídio Doloso, Roubo Seguido de Morte (Latrocínio) e Lesão Corporal Seguida de Morte.

A moradora ouvida pela reportagem acredita que os números de registro estejam em queda por subnotificação.

"As pessoas estão cansadas e não fazem mais registro de ocorrência. Muita gente deixa pra lá. Não é porque não acontece. Não vi melhora nenhuma. É por que não melhora", opina a moradora.

A reportagem procurou a SuperVia sobre as denúncias de furto de grades e criminosos praticando furto no muro entre a estação de São Francisco Xavier e a travessia do Rocha, mas a concessionária orientou que as autoridades policiais fossem procuradas sobre o tema.

A Polícia Civil não enviou esclarecimentos porque não tem os números de registros dos casos denunciados. A Polícia Militar não retornou até a publicação deste texto.

A Secretaria de Estado de Governo afirmou em nota que solicita que representantes das regiões indicadas, como as associações comerciais ou de moradores, façam um pedido formal para a instalação nessas áreas de bases do programa Segurança Presente. Depois dessa etapa, a Segov ainda leva em consideração alguns critérios, como a mancha criminal, o fluxo de pessoas no dia a dia daquele local, entre outros. No momento, não há previsão para a instalação de bases do programa na região.