Publicado 09/10/2023 17:45 | Atualizado 10/10/2023 06:59
Rio - Composto por 16 comunidades, o Complexo da Maré sofre com a incidência de três grupos criminosos em seu território: o Comando Vermelho, maior facção de tráfico de drogas do estado do Rio; o Terceiro Comando Puro e um grupo miliciano.
A pesquisa Primeira Infância nas Favelas da Maré, publicada pela instituição da sociedade civil Redes da Maré no último dia 27, trouxe um levantamento sobre o domínio dos grupos no complexo de favelas.
A pesquisa Primeira Infância nas Favelas da Maré, publicada pela instituição da sociedade civil Redes da Maré no último dia 27, trouxe um levantamento sobre o domínio dos grupos no complexo de favelas.
Segundo a publicação, as favelas são afetadas da seguinte maneira: O Comando Vermelho exerce o domínio sobre as favelas Nova Holanda, Parque Maré, Parque Rubens Vaz e Parque União. Juntas, as comunidades abrigam 38,7% da população total da Maré.
O Terceiro Comando Puro atua no Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro, Salsa e Merengue, Nova Maré, Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Conjunto Esperança, Vila do João, Vila dos Pinheiros e Conjunto Pinheiros, somando 48,6% da população total.
O grupo miliciano difuso controla as favelas Parque Roquete Pinto, Praia de Ramos e Marcílio Dias, onde moram 12,7% da população da Maré.
O coordenador da Redes da Maré, Maykon Sardinha, lembra que os grupos criminosos vêm consolidando a forma de atuação mais organizada e sistemática a partir da década de 1980. Não só na Maré, mas na cidade do Rio de Janeiro como um todo. A falta de oferta de serviços públicos de qualidade foi dando margem e espaço para uma consolidação dessas redes ilegais em toda a região metropolitana do Rio de Janeiro e do Brasil, principalmente a partir da década de 1990, explica.
A partir da década de 2010, o complexo chegou à configuração que está hoje, com três grupos criminosos. "Na Maré, esses grupos vão consolidando uma forma de atuação territorializada na disputa por pontos de venda e de atuação no território", diz Maycon Sardinha. O aumento dos confrontos entre os grupos armados acontece desde os anos 2000, especialmente na região da Rua Ivanildo Alves, limite entre as facções rivais, explica.
A Redes da Maré observa uma relação entre o modo de atuação violenta dos grupos armados e a resposta que o estado dá no campo da segurança pública no campo da atuação policial.
"Em 2014 e 2015, houve uma ocupação da Maré pelo Exército Brasileiro e logo após a saída dessa ocupação os grupos voltaram a se organizar e inclusive se fortaleceram belicamente para recuperar os territórios anteriores. Os confrontos voltam a ficar muito intensos", afirma o especialista.
As tentativas de repressão aos grupos criminosos pelo estado na Maré não têm surtido efeito positivo e ainda contam com registros de violação a direitos de moradores.
O Terceiro Comando Puro atua no Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro, Salsa e Merengue, Nova Maré, Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Conjunto Esperança, Vila do João, Vila dos Pinheiros e Conjunto Pinheiros, somando 48,6% da população total.
O grupo miliciano difuso controla as favelas Parque Roquete Pinto, Praia de Ramos e Marcílio Dias, onde moram 12,7% da população da Maré.
O coordenador da Redes da Maré, Maykon Sardinha, lembra que os grupos criminosos vêm consolidando a forma de atuação mais organizada e sistemática a partir da década de 1980. Não só na Maré, mas na cidade do Rio de Janeiro como um todo. A falta de oferta de serviços públicos de qualidade foi dando margem e espaço para uma consolidação dessas redes ilegais em toda a região metropolitana do Rio de Janeiro e do Brasil, principalmente a partir da década de 1990, explica.
A partir da década de 2010, o complexo chegou à configuração que está hoje, com três grupos criminosos. "Na Maré, esses grupos vão consolidando uma forma de atuação territorializada na disputa por pontos de venda e de atuação no território", diz Maycon Sardinha. O aumento dos confrontos entre os grupos armados acontece desde os anos 2000, especialmente na região da Rua Ivanildo Alves, limite entre as facções rivais, explica.
A Redes da Maré observa uma relação entre o modo de atuação violenta dos grupos armados e a resposta que o estado dá no campo da segurança pública no campo da atuação policial.
"Em 2014 e 2015, houve uma ocupação da Maré pelo Exército Brasileiro e logo após a saída dessa ocupação os grupos voltaram a se organizar e inclusive se fortaleceram belicamente para recuperar os territórios anteriores. Os confrontos voltam a ficar muito intensos", afirma o especialista.
As tentativas de repressão aos grupos criminosos pelo estado na Maré não têm surtido efeito positivo e ainda contam com registros de violação a direitos de moradores.
"São formas que já são antigas de atuação, que de fato não produzem um resultado efetivo, que é a redução da violência. A atuação das polícias são atuações muito violentas, com muitas violações de direitos nesse território, com invasões a domicílio, com pessoas que não estão ligadas a nenhum envolvimento criminoso feridas ou mortas, inclusive com indícios de execução", registra.
Uma resposta baseada exclusivamente na ação policial, não surte o efeito desejado, finaliza, "É preciso a gente pensar estrategicamente quais são as outras dimensões da vida, dos serviços públicos que precisam ser potencializadas para que de fato a gente encontre um caminho que dê solução para a problemática da violência e da violência armada", reforçou Maycon Sardinha, coordenador da instituição Redes da Maré.
O coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos na UFF (Geni/UFF) concorda que ações focadas em prisões e apreensões de drogas não são suficientes para barrar o controle territorial pela criminalidade.
"A morte dos médicos na Barra parece ser expressiva da intensificação de disputas desde a morte do [miliciano] Ecko, em julho de 2021. Temos visto aumento dos homicídios, que parece estar relacionado à intensificação de disputa", pontua Daniel Hirata.
O coordenador do Geni aponta que duas bases de sustentação dos grupos criminosos merecem ser combatidos: os mercados econômicos legais e ilegais em que atuam, que incluem o tráfico de armas e drogas, o mercado imobiliário e exploração de outros serviços urbanos; e o combate à corrupção nas instituições públicas.
"Tudo isso poderia ser alvo de ações do governo para ampliar a efetiva regulação pública desses mercados para uma ação eficaz, com menos efeito de letalidade", avalia Hirata. "Seria fundamental atuar sobre as bases políticas desse grupo. Em algum momento vamos ter que enfrentar isso", completa.
Hirata lembra, que apesar de necessários, os cumprimentos de mandados de prisão contra lideranças de grupos criminosos não resolvem o problema da violência, já que os grupos entram em disputa interna e externa, com outras facções, para ocupar os cargos vagos com prisões ou mortes.
Uma resposta baseada exclusivamente na ação policial, não surte o efeito desejado, finaliza, "É preciso a gente pensar estrategicamente quais são as outras dimensões da vida, dos serviços públicos que precisam ser potencializadas para que de fato a gente encontre um caminho que dê solução para a problemática da violência e da violência armada", reforçou Maycon Sardinha, coordenador da instituição Redes da Maré.
O coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos na UFF (Geni/UFF) concorda que ações focadas em prisões e apreensões de drogas não são suficientes para barrar o controle territorial pela criminalidade.
"A morte dos médicos na Barra parece ser expressiva da intensificação de disputas desde a morte do [miliciano] Ecko, em julho de 2021. Temos visto aumento dos homicídios, que parece estar relacionado à intensificação de disputa", pontua Daniel Hirata.
O coordenador do Geni aponta que duas bases de sustentação dos grupos criminosos merecem ser combatidos: os mercados econômicos legais e ilegais em que atuam, que incluem o tráfico de armas e drogas, o mercado imobiliário e exploração de outros serviços urbanos; e o combate à corrupção nas instituições públicas.
"Tudo isso poderia ser alvo de ações do governo para ampliar a efetiva regulação pública desses mercados para uma ação eficaz, com menos efeito de letalidade", avalia Hirata. "Seria fundamental atuar sobre as bases políticas desse grupo. Em algum momento vamos ter que enfrentar isso", completa.
Hirata lembra, que apesar de necessários, os cumprimentos de mandados de prisão contra lideranças de grupos criminosos não resolvem o problema da violência, já que os grupos entram em disputa interna e externa, com outras facções, para ocupar os cargos vagos com prisões ou mortes.
"O que ocorre imediatamente é uma luta pela sucessão desses postos. Isso pode intensificar o conflito e tem que ser feito com a devida atenção com o que pode acontecer para proteger a população", acrescenta Hirata.
O especialista avalia que faz falta uma Secretaria de Estado de Segurança Pública, extinta no Governo Witzel. "Além dos controles internos e externos, faz falta o controle político sobre as forças policiais. Quando você não tem o devido controle político, há a possibilidade de aumento da letalidade policial", finaliza o coordenador do Geni/UFF.
Polícia se concentra na Maré
As imagens feitas pela Polícia Civil sobre a ação do tráfico no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, em investigação que durou mais de dois anos, mostraram que criminosos realizam treinamentos semelhantes a táticas de guerra. Em imagens obtidas por drones, um grupo de 15 a 20 homens armados aparece em uma quadra de futebol, sendo instruído a atacar e se defender durante confrontos.
Os vídeos impressionantes levaram o Governo do Estado a anunciar uma operação no Complexo da Maré com o apoio da Força Nacional de Segurança Pública. Até então, o objetivo era prender 1.125 criminosos identificados em inquéritos que investigam a quadrilha do TCP, responsável pelo tráfico de drogas nas áreas da Vila do João, Vila dos Pinheiros, Salsa e Merengue, Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau.
O envio da Força Nacional em apoio ao Estado do Rio foi adiado, após questionamentos feitos pelo Ministério Público Federal (MPF), mas as polícias do Rio realizaram nesta segunda-feira uma megaoperação com mais de mil policiais. No entanto, o alvo não foi a facção que controla as favelas que aparecem nas imagens, mas as comunidades dominadas pelo Comando Vermelho Nova Holanda e Parque União, além das favelas Cidade de Deus, na Zona Oeste, e Complexo da Penha, na Zona Norte, sob o domínio da mesma facção.
A polícia buscou cem criminosos que estão com mandados de prisão em aberto. A motivação foi encontrar lideranças suspeitas de ordenaram a morte do miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, que, segundo a principal linha de investigação da Polícia Civil, foi confundido com o médico Perseu Ribeiro de Almeida na madrugada da última quinta-feira. O ataque matou Perseu e os médicos Marcos Corsato e Diego Bomfim no quiosque da orla da Praia da Tijuca.
A Civil também determinou a busca pelos suspeitos de ordenar a morte dos homens que participaram da ação criminosa, do Comando Vermelho.
Sobre a Maré
Originalmente composta por pântanos e manguezais, a ocupação foi iniciada em 1940, com a construção da Avenida Brasil. Desde então, o território cresceu em duas fases distintas, uma de ocupação espontânea e outra ligada a intervenções do poder público. Com 16 favelas, é o maior conglomerado da capital, situado à margem da Baía de Guanabara e atravessado por importantes vias expressas, como a Avenida Brasil e a Linha Vermelha.
O especialista avalia que faz falta uma Secretaria de Estado de Segurança Pública, extinta no Governo Witzel. "Além dos controles internos e externos, faz falta o controle político sobre as forças policiais. Quando você não tem o devido controle político, há a possibilidade de aumento da letalidade policial", finaliza o coordenador do Geni/UFF.
Polícia se concentra na Maré
As imagens feitas pela Polícia Civil sobre a ação do tráfico no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, em investigação que durou mais de dois anos, mostraram que criminosos realizam treinamentos semelhantes a táticas de guerra. Em imagens obtidas por drones, um grupo de 15 a 20 homens armados aparece em uma quadra de futebol, sendo instruído a atacar e se defender durante confrontos.
Os vídeos impressionantes levaram o Governo do Estado a anunciar uma operação no Complexo da Maré com o apoio da Força Nacional de Segurança Pública. Até então, o objetivo era prender 1.125 criminosos identificados em inquéritos que investigam a quadrilha do TCP, responsável pelo tráfico de drogas nas áreas da Vila do João, Vila dos Pinheiros, Salsa e Merengue, Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau.
O envio da Força Nacional em apoio ao Estado do Rio foi adiado, após questionamentos feitos pelo Ministério Público Federal (MPF), mas as polícias do Rio realizaram nesta segunda-feira uma megaoperação com mais de mil policiais. No entanto, o alvo não foi a facção que controla as favelas que aparecem nas imagens, mas as comunidades dominadas pelo Comando Vermelho Nova Holanda e Parque União, além das favelas Cidade de Deus, na Zona Oeste, e Complexo da Penha, na Zona Norte, sob o domínio da mesma facção.
A polícia buscou cem criminosos que estão com mandados de prisão em aberto. A motivação foi encontrar lideranças suspeitas de ordenaram a morte do miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, que, segundo a principal linha de investigação da Polícia Civil, foi confundido com o médico Perseu Ribeiro de Almeida na madrugada da última quinta-feira. O ataque matou Perseu e os médicos Marcos Corsato e Diego Bomfim no quiosque da orla da Praia da Tijuca.
A Civil também determinou a busca pelos suspeitos de ordenar a morte dos homens que participaram da ação criminosa, do Comando Vermelho.
Sobre a Maré
Originalmente composta por pântanos e manguezais, a ocupação foi iniciada em 1940, com a construção da Avenida Brasil. Desde então, o território cresceu em duas fases distintas, uma de ocupação espontânea e outra ligada a intervenções do poder público. Com 16 favelas, é o maior conglomerado da capital, situado à margem da Baía de Guanabara e atravessado por importantes vias expressas, como a Avenida Brasil e a Linha Vermelha.
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