Esther Souza é skatista e vende roupas no Centro do Rio Reprodução/Acervo pessoal

Rio - A busca pela própria sobrevivência, sustento da família, falta de oportunidades no mercado de trabalho ou o desejo de realizar um sonho são alguns dos motivos que levam os vendedores ambulantes a percorrerem diariamente as calçadas, praias e transportes públicos, carregando mercadorias e armando bancas. No dia 14 de novembro, é comemorada a contribuição que os camelôs promovem para o desenvolvimento da cidade com o Dia do Ambulante.
A jovem Esther Souza, de 25 anos, é skatista e trabalha vendendo roupas em uma barraca na Feira de Antiguidades da Praça XV, no Centro do Rio. Ela conta que desde criança via o avô e o pai trabalhando como camelô. "Sempre aprendi com meu pai que é com trabalho duro que a gente conquista as coisas", afirma.
"Eu comecei a trabalhar como professora quando me formei no Ensino Médio e cheguei a cursar Pedagogia, mas o que eu ganhava não estava suprindo as contas de casa. A partir daí, trabalhei em uma loja no shopping por quatro anos, só que percebi que eu trabalhava muito, mas não era o suficiente para o que eu queria conquistar. Na pandemia de covid-19, comecei a fazer acessórios e encontrei ali uma paixão. Então, eu comecei a ir para a feira vender os acessórios e em outro horário trabalhava no shopping. Foi uma rotina frenética, e eu não conseguia dar mais atenção à minha vida no skate, que era quando aconteciam os campeonatos e eu não podia ir", diz a profissional.
A brecholeira acorda às 3h no fim de semana e leva os produtos para expor. De acordo com ela, agora que está em um ponto fixo, a situação é mais estável. Antes, corria o risco de não conseguir espaço na feira e até mesmo já teve a mercadoria apreendida.
Para ela, a informalidade trouxe mais qualidade de vida. "Ah, saí do shopping, mas ainda trabalho muito, só que tenho mais flexibilidade e posso conciliar o meu horário com um rolé de skate ou uma viagem, que era o que eu precisava", conta. "Faça chuva ou faça sol, lá estamos eu e meu marido, Diogo, trabalhando para mostrar a minha arte através do upcycling, que é a proposta da moda ecológica.Transformar uma peça sem uso em algo novo e receber o reconhecimento das pessoas que apreciam o meu trabalho, procuram e valorizam, me faz querer continuar na área e me motiva", acrescenta.
Sucesso na praia e no asfalto
Rodnei da Silva Moreira, de 47 anos, conhecido como Nei Mate nas areias do Leblon e de Ipanema, na Zona Sul, pelo carisma como vendedor de mate e pela qualidade da bebida, começou a trabalhar como ambulante em 2003, vendendo balas no ônibus. Além disso, já comercializou água e guarda-chuvas nas portas dos shoppings. Em 2015, enfrentando dificuldades financeiras e sem conseguir arcar com as despesas, iniciou a venda de mate nas praias.
A leitura e o trabalho árduo contribuíram para Nei ter ideias criativas. As iniciativas incluem levar o sabor da praia até as pessoas por meio de entregas delivery e um plano de assinatura. Além disso, estabeleceu um ponto de venda próximo à PUC, na Gávea.
"Busquei trabalhar para cobrir as despesas e hoje conseguimos pagar as contas em dia. Isso para mim não tem preço", vibra o empreendedor.
Para ele, a maior dificuldade como ambulante é a discriminação.
 
Lute como uma camelô
Maria de Lourdes do Carmo, de 49 anos, conhecida como Maria dos Camelôs, é ambulante desde 1996 e lidera o Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), fundado em 2003 após sofrer uma agressão durante uma fiscalização. Desde então, ela tem dedicado seus esforços em defesa dos direitos dos camelôs na cidade do Rio.
A profissional conta que o principal desafio enfrentado pelos ambulantes é estar nas ruas sem perder as mercadorias, essencial para sustentar as famílias. Assim como ela, que conquistou a independência financeira e criou os filhos através do trabalho.
"Somos geradores de renda, fazendo a roda da economia girar e contribuímos muito para a venda de produtos como cerveja, chocolates e roupas", enfatiza a representante da classe.
 
Mais de 11 mil ambulantes regularizados
No Rio, essa realidade se expressa fortemente na área central da cidade e também em bairros com grande concentração comercial. A Prefeitura do Rio estima que são 11.153 ambulantes regularizados e conta com o programa 'Ambulante Harmonia', da Secretaria de Ordem Pública, cujo objetivo é promover o ordenamento e harmonizar os espaços públicos entre o comércio, pedestres e ambulantes.
Até o momento, já foram concedidas 641 novas licenças e 716 barracas padronizadas nos bairros do Catete, Méier, Taquara, Cacuia, Vila Isabel, Bonsucesso, Glória e Cascadura.
"O trabalho ambulante é muito importante para a cidade do Rio de Janeiro, isso é inegável. Nós da Secretaria de Ordem Pública temos o trabalho, inclusive, de organizar o espaço público justamente para que o ambulante licenciado, que respeita as regras, possa empreender o seu negócio e, assim, ter um negócio sustentável. Nas praias, nós também demos licenças para os vendedores de mate. Enfim, é um trabalho fundamental e nós precisamos manter a organização do espaço público, respeito às regras de convivência", ressalta o secretário de Ordem Pública, Brenno Carnevale.
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