Dick e sua tutora Irlani SaldanhaArquivo Pessoal

Rio - A tutora do cãozinho Dick, de 17 anos, que morreu após ser arremessado de um táxi-dog durante um roubo em Bangu, na Zona Oeste, revelou ao DIA que teve uma pistola apontada para sua cabeça ao implorar para tirar o animal do carro. De acordo com Irlani Saldanha de Freitas, 67 anos, sua relação com o cachorro era como de mãe e filho.

Segundo a tutora, o assalto aconteceu na porta de sua casa enquanto ela se preparava para levar o cachorro ao veterinário após ele apresentar um problema nas patas traseiras.

"No domingo ele estava com as patinhas traseiras arriadas, então na segunda eu fui na veterinária ver se alguém podia buscar ele, porque eu não tinha força no braço para pegá-lo, ele era pesado. Aí na clínica mesmo eles tinham um cartão do táxi-dog, eu liguei e o rapaz combinou de vir buscá-lo às 11h30. Ele veio, colocou o Dick no banco de trás do carro e falou para eu colocar a cabeça dele no meu colo porque ele podia estranhar o local, nesse período apareceram dois caras armados do meu lado da janela", disse.

Irlani disse que já estava com a cabeça do cachorro no colo e que só faltava o motorista entrar quando os suspeitos anunciaram o assalto. "Eles falaram 'perdeu, perdeu!' e eu só vi a pistola e eles mandando sair do carro. Foi tanta crueldade que eu chorava pedindo para tirar meu cachorro, falei que ele era velhinho e já tinha 17 anos e eles falaram: 'Quero saber de p... de cachorro nenhum, não', e apontou a pistola para mim mandando eu sair. Nisso, eu saí e eles arrancaram em alta velocidade", afirmou.
De acordo com a Polícia Civil, o caso foi registrado na 34ª DP (Bangu). Agentes ouvem testemunhas e analisam imagens de câmeras de segurança. Investigações estão em andamento para esclarecer todos os fatos.

Momentos de desespero

Logo após o maior susto, a tutora disse que ficou na esquina de casa pedir ajuda. Neste momento, uma amiga que passava de carro, ao saber da situação, foi na direção dos criminosos e avistou o cachorro jogado no chão.

"Eles jogaram o Dick na outra esquina, aí eu peguei meu carro e fiquei gritando por ele, nisso meu vizinho falou que ele estava na calçada, mas eu não tinha visto a filmagem, só vi no dia seguinte, mas nem aguento ver", complementou.

O vizinho foi quem acionou as equipes da Secretaria Municipal de Proteção Animal. De acordo com a pasta, uma equipe de fiscalização estava perto do local quando o cachorro foi arremessado. Eles encaminharam a tutora e o animal para a Unidade de Saúde Médica Veterinária de Bangu, que fica próximo ao local do incidente.

No posto, Irlani disse que ficou muito preocupada, principalmente pela idade avançada do animal. "Eu desesperada perguntei se ele quebrou algo porque ele era idoso, mas não tinha quebrado, aí ele fez uns exames para saber se ele estava com hemorragia interna e eu fiquei pedindo a Deus, e no final não estava. Depois a gente foi para delegacia fazer a ocorrência e eu levei ele para o veterinário, onde ele ficou até sábado", lamentou.


A tutora disse também que chegou a ter esperanças de que seu fiel companheiro iria receber alta e voltar para casa: "Sábado de manhã me deu um negócio que eu fui lá ver o Dick, aí eu sentei na sala de espera e vi meu cachorro no Instagram do médico, via o Dick levantando a cabeça pra um lado para outro. Eu fiquei feliz achando que ele ia receber alta, mas quando eu entrei na sala do médico, ele estava chorando. Então eu perguntei se ele tinha morrido e comecei a chorar. Depois eu pensei: Que seja feita a vontade de Deus!"
O cãozinho morreu devido ao trauma da queda. Segundo Irlani, Dick vai ser cremado ainda esta semana. "Eles fizeram tudo que podiam, mas eu chorei muito. O Dick era carinhoso, nós dois tínhamos uma coisa de mãe e filho", lamentou.
Amor à primeira vista

O amor de Irlani pelo cãozinho foi à primeira vista e começou em 2006 quando ela passava pelo Centro de Bangu e avistou o animal sendo vendido com mais outros filhotes em uma caixa de papelão.

"Eu fui no Centro de Bangu e vi um moço com cinco cachorros na caixinha, perguntei a raça ele disse que era um Fox. Dick tinha uma estrela na testa e eu me apaixonei, mas estava R$ 70 reais e eu não tinha dinheiro, aí eu voltei pra casa e contei pro meu sobrinho e meu marido. Demorou 20 min, meu sobrinho foi e me chamou pra ir no portão e ele trouxe um presente, justamente o que eu fiquei apaixonada, o Dick", contou.

Após toda crueldade, a tutora disse que tudo que já fez pelo cãozinho valeu a pena e que ele viveu uma vida recheada de muito amor e carinho.