Mechelle Gonzaga, da Poderosa na Chapa, foi uma das expositoras no Festival Gastronomia PretaCléber Mendes/Agência O Dia

Rio - O Festival Gastronomia Preta agitou o Centro do Rio neste fim de semana, reunindo chefs de cozinha e empreendedores para uma festa que teve início neste sábado (26), chegando ao fim no domingo. Colocando pessoas pretas em destaque através da culinária, o evento idealizado pelo professor Breno Cruz trouxe uma programação para todos os gostos, com uma feira gastronômica que movimenta a Praça da Pira Olímpica, enquanto o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) se tornou palco de diversas atividades culturais.
"O Festival Gastronomia Preta existe pra mostrar a potência do povo preto na gastronomia, nossas trajetórias pessoais e profissionais, e aquilombar. Porque a ideia é fazer com que as pessoas entendam as histórias a partir do Prêmio Gastronomia Preta, ou então a partir dos traços relacionados à cultura", defende Breno, também conhecido como Preto Gourmet.
"A ideia do festival é justamente 'pretagonizar', trazer pra cena, principalmente pra mídia especializada, as potências que existem relacionadas aos profissionais de gastronomia, a nossa comida, à pluralidade da nossa comida, também. E que não nos coloquem no lugar de somente cozinhar comida 'de África', sem demérito nenhum. Pelo contrário, a gente quer mostrar que a gente é plural", declara o professor e criador do projeto.
Feira gastronômica
A chef Mechelle Gonzaga, de 45 anos, dona da empresa de catering Poderosa na Chapa, conquistou o público com seu hambúrguer de feijoada, especialidade que oferece apenas em eventos específicos. "Eu achei que tinha tudo a ver com o Festival Gastronomia Preta e o hambúrguer está fazendo um sucesso muito grande, maravilhoso. Ontem, nós vendemos 150 unidades dele, fora os outros pratos que a gente trouxe", conta a empresária. Apenas no primeiro dia, o evento teve um público de mais de 14 mil pessoas.
Foram mais de 20 expositores pretos, pardos ou afro-indígenas, oferecendo cardápios que iam de acarajé e angu à baiana ao torresmo de rolo e coxinha vegana. Além disso, a feira na Praça da Pira Olímpica ainda contou com uma barraca do Pretonomia, curso de extensão em gastronomia que faz parte do pilar de formação profissional do Festival, que apresentou itens aprendidos e desenvolvidos durante as aulas.
Com 10 anos de experiência no comando do Poderosa na Chapa, Mechelle comemora o lançamento do festival, que realiza sua primeira edição em 2023, surgindo da criação do Prêmio Gastronomia Preta 2022. "A proposta do evento é sensacional! Ter um festival de gastronomia preta, não só de comida afro, mas de comida feita por empreendedores negros é muito legal mesmo", celebra.
"O que é muito interessante, também, é fortalecer esses pequenos negócios de gastronomia. A gente que está participando do evento só teve custo com as taxas, mas não foi cobrado, como é usual, uma taxa de participação. Isso é maravilhoso, porque a gente consegue investir realmente no evento e, ao término, a gente consegue investir na nossa marca, na nossa empresa", explica ela, que já trabalhou em eventos como a Copa do Mundo 2014 e o Rock in Rio. A empresária conta que pretende usar os lucros deste fim de semana para custear um novo produto digital que será lançado no ano que vem.
Culinária e cultura
Além da feira gastronômica, dentro do CCBB, foi montada a Cozinha Show Benê Ricardo, espaço que recebeu chefs como Katia Barbosa, Paulo Rocha e Maristella Sodré, para preparar pratos ao vivo para o público. O local também proporcionou o Ciclo de Debates Mussum, com mesas redondas em que profissionais pretos de diversas áreas debatem sobre raça, diversidade e gastronomia.
Já o Espaço Omô, conduzido pelo movimento Mães Negras do Brasil, contou com jogos de tabuleiro africanos e uma roda de conversa sobre “Alimentação do Futuro”, envolvendo as mães na abordagem
sobre o ODS 2 e a realidade da insegurança alimentar no país.
E é claro que não faltou música boa para embalar o Festival Gastronomia Preta, incluindo atrações como o Grupo Arruda, Verônica Bonfim, Carol Costa e Jéssica Ayô, acompanhada de Ronaldo Malta, além de DJs que tocam durante os dois dias do Festival. Neste domingo, a partir das 18h30, a Beija-Flor de Nilópolis assume o palco para encerrar o Festival como a escola de samba oficial do evento.
A agremiação vai dar o tom para as celebrações após a entrega do Prêmio Gastronomia Preta. Em 2023, a segunda edição da homenagem tem o tema "Mulheres Pretas", com apenas mulheres concorrendo na categoria de "Chef". As 26 categorias do prêmio consideram não somente profissionais de cozinha, mas todos e todas as profissionais que fazem uma experiência gastronômica acontecer.
O prêmio se torna plural também por apresentar categorias singulares como Merendeira, Pesquisadora, Fotógrafo, Com Dendê (que valoriza a influência de África por meio da Bahia), À Mineira (que concederá bolsas de estudo em um curso técnico em Gastronomia em Belo Horizonte para os finalistas que são de Minas Gerais); Coletivo Pretagonista (que reforça a importância dos coletivos com recorte racial); e Futuro(a) Chef – que busca reconhecer a importância da formação profissional em cursos profissionalizantes ou do ensino superior.