Publicado 07/11/2023 18:30
Rio - "Todos os dias são dolorosos e a dor só aumenta. Desde o que houve com o Thiago, minha vida mudou completamente." É assim que a mãe de Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, tem vivido desde que seu filho foi morto em uma operação policial na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. Nesta terça-feira (7), data em que completa 90 dias da perda do filho, Priscila Menezes voltou ao lugar do assassinato acompanhada de amigos e familiares.
Durante o ato, por volta das 18h, o grupo se sentou na Linha Amarela e fechou os dois sentidos do trânsito por cerca de 40 minutos.
"Achamos que estar aqui nesta data é importante para mostrarmos ao Estado que o Thiago tinha uma família. Ele era uma criança que gostava de ir para a escola, gostava de treinar, sonhava em ser jogador de futebol... Infelizmente, eles acabaram com a vida do meu filho, com os sonhos dele. Esse ato não é só pelo Thiago, mas também por outras crianças que perderam a vida assim. Isso é uma maneira de pedirmos para parar a forma que esses policiais agem na comunidade, a forma que entram matando inocentes. A gente quer que isso acabe", desabafou Priscila.
No dia 7 de agosto, o adolescente de 13 anos foi morto enquanto passeava de moto com um amigo na Cidade de Deus. De acordo com familiares, câmeras de segurança mostram agentes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) perseguindo e atirando contra Thiago. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
"Estamos correndo atrás, mas é sempre a mesma coisa: está em investigação sigilosa. Queremos a resposta, queremos que esses policiais sejam denunciados e responsabilizados pelo erro que eles cometeram. O erro de tirar uma vida. Eu nunca mais vou ter meu filho comigo, não vou mais acordar com ele... A falta do meu filho na minha casa com as minhas filhas, tendo que acalmá-las...Tenho duas adolescentes que, do nada, entram em desespero, no choro. Não durmo direito, não vou trabalhar. Estamos nessa luta porque queremos defender o nome do nosso filho, uma criança que não fazia mal a ninguém. Ele não trouxe nenhum risco aos policiais para que agissem dessa forma com ele", lamentou.
Logo após a ocorrência, a PM fez uma publicação no Twitter oficial da corporação com a afirmação de que "um criminoso ficou ferido ao entrar em confronto" com policiais. A postagem, que registrou quase um milhão de visualizações, foi apagada no dia seguinte. Em nota, a PM informou que a publicação foi feita a partir de informações preliminares passadas por agentes que participaram da ação. No entanto, a corporação preferiu retirar o post do ar por entender que o caso está sob análise e investigação.
No início de setembro, os policiais Diego Pereira Leal, Aslan Wagner Ribeiro de Faria, Silvio Gomes dos Santos e Roni Cordeiro de Lima foram presos preventivamente por fraude processual. De acordo com as investigações, os agentes teriam apresentado uma pistola e munições atribuindo à vítima.
Menos de um mês depois, os quatro foram soltos e respondem o processo em liberdade com medidas cautelares. Eles não podem ter contato com pessoas envolvidas no caso, não podem deixar o estado do Rio e tiveram a suspensão parcial do exercício de função pública e do porte de arma.
Diego Geraldo de Souza, que comandava a equipe do BPChq, foi denunciado pelo crime de prevaricação e fraude processual por omissão. Segundo a denúncia do MPRJ, "ele omitiu-se diante do dever de vigilância sobre seus comandados, autorizando que eles atuassem de modo irregular, utilizando veículos e drones particulares durante a operação". O agente não foi preso, mas segue afastado de funções públicas.
"Nos primeiros dias, meu filho foi julgado por gostar de andar de moto, por gostar de usar um cordão. Mas, graças a Deus, isso já caiu por terra. Já foi provado que esses policiais fizeram uma fraude processual, foram presos e denunciados por isso. Mas também queremos que eles sejam denunciados por homicídio", concluiu Priscila.
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