Angela com presente de Natal para os pacientes adultosCleber Mendes

"Fazer o bem sem olhar a quem é", um conhecimento popular que atravessa gerações e a prática é celebrada mundialmente no Dia Internacional do Voluntário, nesta terça-feira (5), data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1985. A iniciativa nasceu visando fomentar o espírito de solidariedade, incentivando a realização de diversas ações voluntárias em diversos países.
O voluntário pode ser definido como aquele que se compromete com um trabalho ou assume a responsabilidade de uma tarefa sem ter a obrigação de fazê-lo. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, aproximadamente 4,2% da população brasileira dedicou seu tempo ao trabalho voluntário. O trabalho voluntário não apenas contribui para a melhoria das condições de vida de diversas comunidades, mas também fortalece os laços entre as pessoas e transcende fronteiras, conectando culturas e nações em prol de um objetivo comum: fazer a diferença no mundo.
Neste ano, o INCAvoluntário, braço social do Instituto Nacional de Câncer (INCA), completou 20 anos de atuação, desempenhando a missão de suavizar a jornada de pacientes com câncer e seus familiares. Por meio do trabalho de voluntários, parcerias, doações financeiras e de serviços, a instituição realiza ações diárias de humanização e bem-estar nas quatro unidades hospitalares localizadas no Centro e nos bairros de Vila Isabel e Santo Cristo, oferecendo apoio emocional e atividades como oficinas de automaquiagem com doação de kits profissionais, visitas de personagens infantis, palhaços, músicos, passeios turísticos e culturais, além de palestras motivacionais.

O empresário Marcello Seda, de 33 anos, é voluntário desde 2015 no HC III, Vila Isabel, voltado para o atendimento de pacientes com câncer de mama. Hoje, Marcello faz parte do “Acolhimento”, grupo que recebe e orienta os pacientes que chegam ao Instituto.
“Eu não sou o mesmo Marcello de antes. Quando uma pessoa vai para o trabalho voluntário, percebe que os problemas são muito menores do que a pessoa os veste. Eu conheci várias pessoas que, quando chegam no Inca, a doença não tem cura, e elas estão lá lutando com a vida com um sorriso no rosto, estão felizes, estão brincando, e a gente chega lá às vezes reclamando porque acordou mais cedo ou pegou trânsito. Então, assim, realmente muda tudo, porque você enxerga a vida de uma forma diferente, você começa realmente a dar valor ao que tem valor e a dar amor para quem está do nosso lado, né? Porque a gente não sabe o que vai acontecer amanhã", destacou.
Já Angela Cunha, de 70 anos, também é voluntária no INCA I, desde 2019. Ela atua na Central de Atendimento ao Paciente e, neste ano, passou a ser voluntária do Grupo de Apoio aos Laringectomizados (GAL), que se reúne para um prática de exercícios de reabilitação da voz, troca de experiências e ensaio do Coral dos Laringectomizados.
Para a voluntária, a demonstração de resiliência e serenidade por parte dos pacientes diante de um quadro desesperador e, em alguns casos, que já não tem mais cura, é um aprendizado.
“Sendo voluntária, aprendi que estamos todos no mesmo barco. O outro é um espaço de mim mesma, e a minha felicidade é estar com o próximo, com aquele que surge na minha vida. Eles ficam muito agradecidos pelo nosso trabalho, mas não sabem que nós é que agradecemos”, enfatizou.
A assistente administrativa Roberta Ferreira Nascimento é responsável pela gestão de voluntários do INCAvoluntário e explica que muitos já tiveram contato com a doença, seja na família ou através de um conhecido, e se transformam em voluntários em retribuição ao que receberam de outros voluntários quando estavam enfrentando um câncer. Entre os que integram o grupo, estão pessoas de 18 a 70 anos, e também há aqueles que não tiveram nenhum contato com a doença, mas têm empatia e vontade de fazer o bem.


Amar sem medidas
A fisioterapeuta Giovanna Magalhães, com 24 anos, dedica seu tempo como voluntária em ações sociais voltadas para a população em situação de vulnerabilidade social. Além de seu engajamento em eventos solidários, ela também ajuda no Abrigo Sagrados Corações de Jesus e Maria, em Vigário Geral, na Zona Norte do Rio.
O Abrigo, administrado pela Comunidade Católica Shalom, recebe idosas acima de 60 anos em situação de vulnerabilidade social com o intuito de proporcionar um lar, acolhimento e dignidade. Atuando no abrigo, a jovem profissional vai além do fornecimento de cuidados especializados. Ela se envolve ativamente na promoção de atividades adaptadas às necessidades das idosas, visando a melhoria da qualidade de vida.
Giovanna compartilhou um pouco sobre como sua jornada no voluntariado começou: "Minha história no voluntariado começou quando conheci a Comunidade Católica Shalom. Na época, havia acabado de me formar, cerca de dois meses antes, e me chamaram para ajudar no abrigo e eu aceitei. O voluntariado não oferece compensação financeira, mas recebo muito mais em gratidão, por meio de carinho, cuidado e reconhecimento pela minha profissão. As pessoas expressam sua gratidão de várias formas, seja com gestos, sorrisos e elogios ao meu trabalho", relatou a jovem.
Ainda de acordo com Giovanna, o vínculo criado com as idosas é o mais impactante: "Por ser um tratamento paliativo de manutenção, tive um contato contínuo com elas. Elas sentiam falta quando eu não podia comparecer e expressavam essa falta. Isso me trouxe alegria, sabendo que meu trabalho era aguardado e esperado por elas", enfatizou a profissional.
Além do trabalho no abrigo, neste ano, Giovanna participou do "Halleluya Solidário", evento dedicado a auxiliar pessoas em situação de rua. Ela destaca que nesta experiência de voluntariado o mais importante foi ouvir e poder dar voz a quem muitas vezes é invisibilizado pela sociedade.
Solidariedade que conecta o mundo
A empreendedora social Joana Gamillscheg realiza trabalhos sociais voluntários desde 2016, mas a vida dela mudou quando começou a atuar em ações internacionais. Joana foi para um santuário de elefantes na Tailândia e também desenvolveu trabalhos sociais na África do Sul, na cidade do Cabo, trabalhando em comunidades carentes de recursos.
A partir disso, ela fez uma transição de carreira e deixou o mundo corporativo no qual trabalhou há mais de 10 anos para se dedicar ao voluntariado. Realizou também uma viagem de oito meses participando em mais de 10 projetos sociais no continente africano e asiático. Tornou-se embaixadora do movimento do voluntariado consciente, fundou a Karibu, que é um negócio social que conecta voluntários a projetos sociais no Brasil e pelo mundo.
“O voluntariado se tornou a minha vida. Foi através dele que conheci meu marido, tenho a minha empresa, lancei os meus livros e capacito voluntários para irem para o campo pensar no legado das ações”, disse.
“Quando nós percebemos o impacto que isso gera na vida das pessoas, o quanto a gente, de fato, está fazendo uma transformação na vida de muitas comunidades, de forma consciente, responsável, ética, prezando pelos valores culturais, isso é muito gratificante e faz valer a pena todo esse esforço”, compartilhou a empresária.
Como ser voluntário
De acordo com Joana, não basta a pessoa chegar num projeto só com amor e carinho. O voluntariado tem que ter capacitação e precisa saber o que está fazendo. “O voluntariado não é comunidade hippie”, brincou.

As principais dicas para o voluntário, segundo Joana, são: capacitação, pesquisa sobre o local onde você está indo atuar, saber qual mazela social a instituição visa sanar, quais atividades são desenvolvidas, como outras organizações com o mesmo objetivo procedem, observar antes de agir, buscar conhecer os fatores culturais da região e que tipos de comportamentos são esperados de você como voluntário.
Para quem tem vontade de começar no voluntariado, mas não tem tempo, o especialista em produtividade, Christian Barbosa, explica que a melhor forma de se organizar é fazer um planejamento das atividades. Mas não apenas um planejamento do dia, e sim planejar pelo menos três dias para frente.
“As pessoas planejam um dia, o que está muito errado. Isso te coloca simplesmente na reatividade e na urgência, fazendo coisas que já apareceram e não permite que você coloque faça o que você gosta de verdade”, afirma Christian. 
O especialista acrescenta ainda que cada pessoa tem que entender aquilo que é fundamental para ela, faz sentido e faz feliz. Se o trabalho voluntário é importante e faz a pessoa se sentir regenerada e mais feliz, então é uma das coisas que deve ser feita durante esse momento da vida. Levando em consideração que esse momento que faz sentido é individual e específico, e para alguns pode ser em curto período ou um tempo mais longo.

Serviço:

Para ser voluntário por meio do INCAvoluntário é preciso se inscrever pelo site e ler atentamente alguns pré requisitos: https://www.incavoluntario.org.br/seja-um-voluntario-no-inca/

Já para ser voluntário no Abrigo Sagrados Corações de Jesus e Maria é necessário entrar em contato para mais informações através das redes sociais da instituição ou pelo telefone: (21) 3451-8193 ou (21) 98146-1587.