Polícia Civil diz que Eduardo Sobreira Moraes está envolvido na morte do advogado Rodrigo CrespoDivulgação
Publicado 05/03/2024 17:07 | Atualizado 05/03/2024 17:59
Rio - Eduardo Sobreira Moraes, de 47 anos, suspeito de envolvimento no assassinato do advogado Rodrigo Marinho Crespo, foi preso, na tarde desta terça-feira (5). Ele se entregou na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Mais cedo, Leandro Machado da SilvaCezar Daniel Mondego de Souza já haviam sido detidos.
Moraes é apontado pela investigação como o responsável pela vigilância e monitoramento da vítima nos dias que antecederam o crime, e também no dia da morte, na parte da manhã até o início da tarde, utilizando um Gol branco, similar ao dos executores.
Eduardo já havia sido alvo de uma operação, realizada nesta segunda-feira (4), quando os agentes da DHC cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ele e ao policial militar Leandro da Silva. Ambos não haviam sido encontrados.
Na última sexta-feira (1º), quatro dias depois do homicídio, o suspeito foi nomeado para um cargo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Eduardo iria trabalhar como assistente no Departamento de Patrimônio, assumindo o posto no lugar de Cezar Daniel de Souza, outro suspeito de participação no crime, que foi exonerado na mesma data.
De acordo com o Portal da Transparência da Alerj, Cezar recebia remuneração de R$ 2.029,37. Com a exoneração, o valor seria pago, então, para Eduardo. Questionada, a Alerj disse que assim que tomou conhecimento sobre o caso, e antes mesmo de ter sido realizada a posse, o órgão tornou o ato de nomeação de Eduardo sem efeito em publicação no Diário Oficial.
Outras prisões
Na manhã desta terça-feira (5), o policial militar Leandro Machado da Silva se entregou na DHC. De acordo com a investigação, o PM entregou para Eduardo o carro usado no monitoramento do advogado. Ele seria responsável por toda a logística do assassinato.
O agente, inclusive, já foi investigado e preso pela prática de homicídio, e por integrar grupo paramilitar com atuação em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Leandro, que está afastado das ruas por responder a outro inquérito policial, ainda teria ligação com Vinícius Pereira Drumond, filho do falecido contraventor Luizinho Drumond, que controlava o jogo do bicho na Zona Leopoldina. Ele também é investigado por fazer parte de uma organização criminosa responsável por execuções no Rio.
O advogado, Diogo Macruz, responsável pela defesa do PM, sustentou que o motivo para o aluguel do carro usado no crime não era de conhecimento do seu cliente. "A prisão do Leandro hoje não tem a ver com o processo. O Leandro é um cara que sublocava os carros. Essa sublocação que fez com que ele viesse parar aqui, justamente porque, aparentemente, alguém que cometeu esse crime cruel utilizou-se de um desses veículos. Mas o Leandro, em si, não tem relação com o processo, com a morte do colega advogado", disse.
De acordo com Diogo, Leandro alugava carros para pessoas trabalharem. A maioria dos locatários os utilizava para serviços de aplicativo de transporte. "É uma sublocação. Ele se aproveitou da questão de 'vou ganhar um dinheiro' e sublocava os carros que, para ele, eram alugados, mas ele não tinha um domínio do que as pessoas que alugavam esses carros poderiam fazer, e não, ele não fazia a menor ideia do que aconteceu, ele não está envolvido nesse crime", afirmou.
O advogado também discorda do outro inquérito policial e afirma que não há qualquer indício de relação entre o seu cliente e Vinícius Pereira Drumond, filho do falecido contraventor Luizinho Drumond, que controlava o jogo do bicho na Zona Leopoldina e teria contato constante com o dono da locadora.
"Isso não se manteve no depoimento, pois não ficou provado essa ligação do Drumond com o meu cliente. Pelo contrário, o meu cliente já falou que não sabe sequer qual é a casa, nunca nem veio aos condomínios daqui, caso o Drummond more nessa região. Ele não conhece o Drummond. Também não tem relação com o jogo do bicho. O PM é só isso: policial militar e pai de família", garante.
O primeiro a ser preso nesta terça-feira (5) foi Cezar Daniel de Souza. Assim como Eduardo, ele também é apontado como responsável pela vigilância e monitoramento do advogado. Rodrigo foi morto a tiros no último dia 26, por volta das 17h, na Avenida Marechal Câmara, no Centro do Rio.
Cezar era assistente no Departamento de Patrimônio na Alerj e foi exonerado na última sexta-feira (1º). Ele estava nomeado desde 2019, na gestão anterior da Casa, e deixou o cargo para que o Eduardo entrasse em seu lugar. No entanto, a ação não chegou a ser concluída, já que a portaria foi tornada sem efeito. A Alerj disse ainda que ter tornado o ato de nomeação do Eduardo sem efeito não interfere na situação de Cézar, que segue exonerado e o cargo está vago.
A defesa do suspeito, Manoel de Jesus Soares, negou as acusações e que o cliente não conhece os outros suspeitos, apenas Eduardo: "Claro que não. Nem tocou. Nem conhece nenhuma das pessoas que estão sendo mencionadas por vocês. O Eduardo é um conhecido dele. Ele não nega que o conhece. A relação deles é de caserna. Não sei. Estou deduzindo. Não perguntei isso a ele. Ele diz que conhece o Eduardo e utilizou, de fato, uma viatura de aplicativo que era conduzida pelo Eduardo, da propriedade dele, sem maiores detalhes", afirmou, dizendo que Cezar andou com o colega no entorno da Lagoa, pois estavam procurando um local para uma comemoração.
Manoel afirmou que Cezar nega qualquer ligação com contravenção ou jogo do bicho.
Relembre o crime
O homicídio aconteceu em frente ao escritório onde o advogado era sócio fundador, na calçada do prédio da OAB-RJ. De acordo com imagens de câmeras de segurança, um carro branco se aproximou da vítima às 17h16 da última segunda-feira (26). Em ação que durou cerca de 14 segundos, um homem encapuzado deixou o veículo e efetuou diversos disparos contra Rodrigo.

Antes de atirar, o homem ainda chamou o advogado pelo nome. Ainda segundo a DHC, a atitude demonstra, inicialmente, que o executor queria ter certeza de que estava abordando o alvo certo. O advogado foi baleado duas vezes quando estava de pé e outras dez após cair. Rodrigo estava lanchando com o sobrinho no momento em que foi surpreendido pelo criminoso.
O advogado foi enterrado no início da tarde da última quarta-feira (28), no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio.
Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) desde novembro de 2011, o advogado fazia parte da Comissão de Direito Processual Civil. Também era sócio fundador do Marinho & Lima Advogados, tinha experiência em Direito Civil Empresarial com ênfase em Contratos e Direito Processual Civil. Ele se formou em 2005 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e tinha pós-graduação em Direito Civil Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Conforme consta no Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), Rodrigo estava à frente das defesas de processos por posse, aquisição de bens materiais, indenização por bens materiais e confissão de dívidas. O advogado também atuou contra Glaidson Acácio dos Santos, o 'Faraó dos Bitcoins', em um processo que correu entre 2022 e 2023 na 3ª Vara Cível da Barra da Tijuca, Zona Oeste. O inquérito foi arquivado porque o homem que processou Glaidson deixou de se manifestar à Justiça após não conseguir a gratuidade no processo.
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