Coletiva de imprensa sobre a morte do advogado Rodrigo Marinho CrespoPedro Ivo/Agência O DIA

Rio - O policial militar Leandro Machado da Silva, procurado por envolvimento na morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo, de 42 anos, é investigado por fornecer dois veículos utilizados no crime e fazer parte de uma organização criminosa responsável por execuções no Rio. O agente, que está afastado das ruas por responder a outro inquérito policial, ainda teria ligação com Vinícius Pereira Drumond, filho do falecido contraventor Luizinho Drumond, que controlava o jogo do bicho na Zona Leopoldina.
Segundo o delegado Felipe Cury, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, o suposto grupo de extermínio do qual o PM faz parte, mata pessoas por dinheiro, sem nenhuma motivação pessoal.

"Foi um crime com requinte de crueldade, à luz do dia. Foram 18 disparos à queima roupa que revelam a assinatura de um determinado grupo criminoso que já vem sendo investigado. É um grupo perigoso, que atua mediante a pagamento de contratação independente de quem for a vítima", disse Cury.

Cury, o secretário da Polícia Civil, Marcus Amin, e os delegados Alexandre Herdy e Rômulo Assis participaram de uma coletiva de imprensa realizada nesta segunda (4) na Cidade da Polícia e informaram que com base nas investigações que descobriram que a vítima estava sendo monitorada desde o dia 22 até a última segunda (26), pelo segundo suspeito identificado como Eduardo Sobreira Morais. 

Segundo os delegados, um dos veículos foi usado para monitoramento da vítima, enquanto o outro foi utilizado pelos executores. Os dois, no entanto, foram vistos no dia do crime. O primeiro seguiu o advogado de casa até o trabalho e ficou no local até a chegada do segundo carro, do qual desceu o assassino, que atirou 18 vezes na direção de Rodrigo.

"A vítima foi atingida por 21 tiros devido à entrada e reentrada. O carro em que estava o executor fugiu para Avenida Brasil, mas rastreamos e esse veículo teve a placa identificada, mas era clonada", reforçou Cury.

Durante as investigações, os agentes localizaram um outro veículo clonado com a mesma placa do usado na execução, que foi apreendido em Maricá. Enquanto o carro original está com a proprietária em Minas Gerais.

Já o veículo usado para monitoramento era de uma locadora e foi alugado pelo policial militar e entregue a Eduardo, que usou o automóvel por mais de três meses. Os dois fazem parte de uma organização criminosa investigada pela DHC.

"Nós já tínhamos um trabalho em cima do grupo criminoso, nós conseguimos cruzar o Leandro Machado a outro investigado que já está envolvido em outros homicídios sofisticados e de extrema ousadia", disse Herdy.

Relação com o filho do contraventor

Ainda durante as investigações, principalmente quando a locadora foi identificada, Vinicius Drumond pareceu ter uma ligação muito próxima aos envolvidos, aponta Cury. "Ele, inclusive, ligava para as pessoas da locadora quando os agentes estavam realizando diligências no local".
"Quando nós obtivemos a documentação na locadora em relação aos veículos utilizados no crime, identificamos uma série de fichas, com uma pasta específica do PM machado, com vários veículos alugados ali e dentro desta pasta havia vários carros relacionados ao Vinicius. Além disso, quando levamos o dono para ser ouvido, o Vinicius estava ligando incansavelmente para ele", acrescentou Cury.
A locadora ainda costumava realizar contratos com empresas, e já esteve envolvida em alguns escândalos de corrupção e fraudes. "O que descobrimos é que existia uma relação muito próxima dela com esse grupo, porque os alugueis eram feitos de modo quase que formal, citando apelidos, localidades, a uma pessoa sem qualquer documento, então a gente sabe que existia essa possibilidade, mas o que sabemos até o momento, é isso".

O delegado chegou a pedir na Justiça um mandado de busca e apreensão contra Vinicius, mas foi negado. Ainda são cumpridos nesta segunda (4) cinco mandados de busca e apreensão contra o PM Leandro Machado Da Silva e Eduardo Sobreira Moraes. Os dois já são considerados foragidos da Justiça.
Em relação ao PM, as investigações esclarecem que ele era o integrante que fornecia os meios para as execuções dos crimes. "Não temos evidências de que ele estava lá no momento da execução, mas temos a confirmação da participação dele no fornecimento de todo material logístico, inclusive os veículos", complementou o diretor do departamento.
Sobre Eduardo, a função dele na organização ainda é investigada. "A gente está numa fase inicial entendendo quem é o Eduardo verdadeiramente, porque nem os familiares mais próximos sabem dizer para quem ele trabalhava, só que trabalhava para alguém com muito dinheiro. Nós sabemos que ele trabalhou como segurança de uma determinada escola de samba, e de um político", explicou o delegado.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos citados. O espaço está aberto para manifestações.
O que diz a PM
Procurada, a Polícia Militar informou que o agente do 15ªBPM (Caxias) já estava afastado do serviço nas ruas, pois responde a um outro inquérito por participação em organização criminosa, sendo preso preventivamente em abril de 2021. A corregedoria já havia instaurado um procedimento administrativo disciplinar que pode culminar com a exclusão da corporação.
A PM informou que repudia e condena qualquer cometimento de crime realizado por seus agentes, "punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos".
Relembre o caso
O crime aconteceu em frente ao escritório onde o advogado era sócio fundador, na calçada do prédio da OAB-RJ. De acordo com imagens de câmeras de segurança, um carro branco se aproximou da vítima às 17h16 da última segunda-feira (26). Em ação que durou cerca de 14 segundos, um homem encapuzado deixou o veículo e efetuou diversos disparos contra Rodrigo.

Antes de atirar, o homem ainda chamou o advogado pelo nome. Ainda segundo a DHC, a atitude demonstra, inicialmente, que o executor queria ter certeza de que estava abordando o alvo certo. O advogado foi baleado duas vezes quando estava de pé e outras dez após cair. Rodrigo estava lanchando com o sobrinho no momento em que foi surpreendido pelo criminoso.

Rodrigo foi enterrado no início da tarde de quarta-feira (28), no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio. A despedida foi marcada pelo silêncio e tristeza de familiares e amigos, que não quiseram comentar o caso.

Quem era a vítima?
Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) desde novembro de 2011, Rodrigo Crespo fazia parte da Comissão de Direito Processual Civil. Também era sócio fundador do Marinho & Lima Advogados, tinha experiência em Direito Civil Empresarial com ênfase em Contratos e Direito Processual Civil. Ele se formou em 2005 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e tinha pós-graduação em Direito Civil Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Conforme consta no Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), Rodrigo estava à frente das defesas de processos por posse, aquisição de bens materiais, indenização por bens materiais e confissão de dívidas. O advogado também atuou contra Glaidson Acácio dos Santos, o 'Faraó dos Bitcoins', em um processo que correu entre 2022 e 2023 na 3ª Vara Cível da Barra da Tijuca, Zona Oeste. O inquérito foi arquivado porque o homem que processou Glaidson deixou de se manifestar à Justiça após não conseguir a gratuidade no processo.