Estado do Rio já registrou 15 mortes por dengueAgência Brasil

Rio - A vacinação contra a dengue para crianças, iniciada no dia 23 de fevereiro, enfrenta um pouco de resistência. Na cidade do Rio de Janeiro, apenas 26,7% das 140 mil crianças entre 10 e 11 anos foram imunizadas. Do total previsto na expectativa, que engloba 354 mil crianças e adolescentes até os 14 anos, o número de imunizados equivale a apenas 10,6%, que totalizam 37.669 doses aplicadas. Crianças de 12 anos começaram a ser vacinadas nesta segunda-feira.
A explicação para um número tão baixo seria o receio de pais e responsáveis com a nova vacina, além da possibilidade de efeitos colaterais. O DIA conversou com infectologistas e eles garantem: não há nada a temer.
Alberto Chebabo, presidente na Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma: "A vacina tem indicação de ser utilizada e não tem sentido se postergar essa vacinação." Chebabo acredita em confusão em relação a vacina Dengvaxia. "Alguns casos de doenças graves foram registradas em pessoas soronegativas (quem nunca teve contato com o vírus da dengue) com uso da Dengvaxia. No momento, a vacina está em desuso pelo lançamento da Qdenga, mas é encontrada em algumas clínicas", explicou. 
Inclusive, em relação à Dengvaxia, a recomendação da Agência Nacional de Saúde (Anvisa) é de que o imunizante não deve ser tomado se nunca houve contato com a doença. "Trata-se de uma precaução, pois os dados preliminares desse estudo complementar não são conclusivos. Para quem mora em áreas onde nunca foram registradas epidemias de dengue, a recomendação é não tomar a vacina, pois as pessoas dessas áreas provavelmente são soronegativas", explica a Anvisa.
Já em relação à Qdenga (atual vacina aplicada), Chebabo afirma já haver um estudo importante de segurança. "Um estudo de 5 anos de acompanhamento. A Organização Mundial de Saúde (OMS) mudou todos os critérios de estudo das vacinas de dengue e a Qdenga passou por todo esse crivo dessas modificações dos trabalhos científicos e se mostrou bastante segura", afirmou.
A vacina Qdenga foi aprovada pela Anvisa, que reforçou que o medicamento também foi avaliado pela agência sanitária europeia (European Medicines Agency – EMA), tendo recebido uma recomendação positiva no âmbito do programa "EU Medicines for all" um mecanismo que permite a avaliação de medicamentos destinados à utilização em países de baixa e média renda fora da União Europeia (UE). Sua comercialização foi aprovada na UE 2022.
"Não vejo sentido de uma pessoa questionar a segurança a partir do momento que ela passou por todos os estudos, foi avaliada pelas principais agências regulatórias, está liberada pela Anvisa, é uma vacina que não se justifica medo. Ela é segura", diz o presidente da SBI.
A infectologista e membro da Câmara Técnica de Vacinas do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Tânia Vergara, endossa o colega: "A vacina é segura. Foi avaliada em 18 estudos clínicos com cerca de 27 mil participantes."
A médica detalha ainda o método de funcionamento da vacina: "A Qdenga protege contra os quatro sorotipos do vírus da dengue – Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4. É feita com vírus vivo atenuado, ela interage com o sistema imunológico no intuito de gerar resposta semelhante àquela produzida pela infecção natural, como outras vacinas que já fazem parte do nosso cotidiano vacinal."
Sobre os possíveis efeitos colaterais, o também infectologista e pediatra Marcos Lago complementa: "São muito bem tolerados. São efeitos colaterais leves, como os que dão na vacina da rubéola, sarampo, catapora... que também são vacinas feitas com vírus vivo atenuado. Esse tipo de tecnologia é antiga e muito bem conhecida de vacinação, e por isso existe muita segurança em relação a todos os efeitos, além de todos os estudos feitos ate agora."
"Não há nenhum motivo para que a gente tenha qualquer medo ou restrição em relação a utilização da vacina da dengue", conclui.
Quem teve dengue deve se vacinar
Tânia ainda explica que quem já teve dengue também deve tomar a dose. "Além da resposta à vacina ser melhor que da infecção natural, ela também reduz o risco de dengue grave. Se teve dengue recentemente é preciso esperar seis meses para receber a vacina. Quem teve diagnóstico de dengue entre a primeira e a segunda dose a orientação da SBIM é de manter o esquema vacinal, desde que o prazo não seja inferior a 30 dias em relação ao início dos sintomas", afirma. "Dengue pode ser uma doença muito grave. Não deixe de vacinar suas crianças e adolescentes", alerta.
Até o momento, o município do Rio confirmou duas mortes. Já o estado, ao todo, tem 15 óbitos e 92.517 mil casos prováveis. 
O público-alvo total da campanha de vacinação da dengue é de 10 a 14 anos. A capital fluminense também está vacinando adultos de forma pioneira, na região de Guaratiba, que tem forte histórico de incidência de dengue em epidemias passadas e também neste ano, por meio de sorteio.
A epidemia de dengue foi decretada no dia 21 de fevereiro no Estado do Rio. O número de casos registrados, à época, era de 20 vezes acima do esperado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Antes disso, no início de fevereiro, o prefeito Eduardo Paes determinou estado de emergência de saúde pública também por conta dos números de contaminados.
Para evitar a proliferação, é altamente recomendado evitar água parada em recipientes, como vasos de planta, pneus velhos, piscinas, garrafas, entre outros; limpar lixeiras, ralos, bebedouros de animais e objetos que possam acumular água; não despejar lixo irregularmente em terrenos baldios ou em outros locais inadequados.
A secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello, comentou sobre a campanha. "Preparamos um guia que também está disponível em nosso site, com todos os pontos que você tem que verificar em casa: as calhas, a bandeja da geladeira, os pneus, garrafas, e qualquer local que possa acumular água. Importante que a população esteja atenta e verifique esses possíveis criadouros, ao menos, uma vez por semana", disse.
Pais ressaltam importância da imunização
No primeiro fim de semana de vacinação, no dia 25,  O DIA conversou com pais que levaram seus filhos de 10 anos, idade que estava liberada, para se imunizarem contra a dengue no Super Centro de Vacinação, em Botafogo, Zona Sul, e alertaram sobre a necessidade do combate ser uma ação coletiva.
A servidora pública Viviane Rojas, de 38 anos, levou a filha Gabriela Miranda, para se vacinar. Ela contou que o marido já ficou internado em decorrência da doença, o que faz com que todos na família fiquem mais atentos ao problema. "Minha preocupação com a dengue existe porque é uma doença que só pode ser combatida coletivamente. Não adianta apenas eu e minha família realizarmos os cuidados para eliminar os focos do mosquito, todos precisam fazer a sua parte", disse.
Renata Monteiro, de 48 anos, compareceu ao local com a filha Maria Luiza Monteiro e reforçou que a vacinação é fundamental para ampliar a imunização. "No âmbito individual, a gente consegue amenizar ou até mesmo prevenir a doença. No coletivo ajudamos a diminuir a propagação. No momento, temos que vacinar o maior número de crianças na idade que a vacina está disponível. Torço que em breve já esteja disponível para todas as idades", avaliou.
Calendário de vacinação
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) começou a vacinar nesta segunda-feira (4) crianças de 12 anos contra a dengue. O imunizante já estava disponível para o grupo de 10 e 11 anos e continuará sendo aplicado nesta faixa etária. 
A vacina está disponível em todas as 238 unidades de Atenção Primária do município, além do Super Centro Carioca de Vacinação, em Botafogo, na Zona Sul, que funciona todos os dias, das 8h às 22h. Já o Super Centro Carioca de Campo Grande, na Zona Oeste, no Park Shopping, também funciona diariamente, de acordo com o horário do centro comercial.
Para receber a vacina, a criança deve estar acompanhada de um responsável e apresentar a carteira de identidade ou certidão de nascimento. O esquema vacinal é de duas doses, com um intervalo de três meses.
Segundo a SMS, a vacinação para as demais idades terá as datas anunciadas nos próximos dias.
Este grupo entre 10 e 12 anos foi priorizado pelo Ministério da Saúde, por ser uma faixa etária que apresenta maior risco de hospitalização pela dengue.