Operação para demolição de imóveis continua no Complexo da MaréReginaldo Pimenta/Agência O DIA
Publicado 26/08/2024 09:25
Rio - A operação de demolição de imóveis de luxo irregulares construídos pelo tráfico no Complexo da Maré, na Zona Norte, voltou a deixar alunos sem aulas na manhã desta segunda-feira (26). Nas comunidades, duas escolas estaduais não abrem há uma semana, afetando cerca de 1424 estudantes. Já na rede municipal, 24 unidades estão fechadas. Esse é o oitavo dia seguido de ações policiais na região.
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De acordo com Secretaria de Estado de Educação, estão suspensas as atividades no Ciep 326 - César Pernetta e no Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes desde a última segunda-feira (19). Enquanto, as escolas municipais estiveram fechadas por três dias seguidos, funcionando em horários alternados apenas na quinta (22) e sexta-feira (23).
"A pasta segue avaliando diariamente as condições de segurança para decidir sobre a abertura ou fechamento das escolas, seguindo o protocolo Acesso Mais Seguro, feito em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha", explicou a Secretaria Municipal de Educação.
Segundo a gestão das unidades, os conteúdos pedagógicos perdidos são repostos. Para Ong Redes da Maré, ao todo, 9 mil alunos já foram afetados. 
Durante a ação, agentes do Batalhão de Ações com Cães (BAC) apreenderam grande quantidade de drogas. O material foi encaminhado para a 21ªDP (Bonsucesso).

Até o momento, as equipes da Prefeitura finalizaram a demolição do pavimento de um dos prédios, o que permite a entrada das máquinas, restando apenas a desocupação dos prédios imóveis vizinhos para o trabalho com a retroescavadeira. Já foram descaracterizados 32 prédios, com mais de 162 apartamentos. 

No domingo (25), durante ação nas comunidades da Maré, a Polícia Militar, com auxílio de cães farejadores, apreendeu uma tonelada de maconha nos dutos de ar da área externa de uma escola municipal na Nova Holanda. O prejuízo para a facção criminosa é de cerca de R$ 1 milhão. A unidade foi usada pelos bandidos para esconder as drogas enquanto ela estava fechada e sem a presença de funcionários.

Moradores protestam contra demolição

Na última sexta-feira (23), mais de mil pessoas ocuparam a Avenida Brigadeiro Trompowski com faixas pedindo paz e afirmando que os apartamentos demolidos são propriedades da população local, e não do tráfico. Segundo moradores, eles estão sendo despejados de suas casas. Na ocasião, os comércios locais ficaram fechados. Ao todo, o condomínio de luxo abriga 40 imóveis.
Devido as denúncias, no sábado (24), uma equipe da Secretaria de Habitação esteve na comunidade Parque União, na Maré, e cadastrou cerca de 40 unidades. Nos próximos dias será feita a análise dos cadastros feitos, verificando quais se enquadram no direito de receber o Auxilio Habitacional Temporário, sendo considerada inicialmente a lista da Associação de Moradores no primeiro dia de atuação da Seop na comunidade.
O que diz a Polícia Civil?
De acordo com investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), o Parque União vem sendo utilizado há anos, por meio da construção e abertura de empreendimentos, para lavar o capital acumulado com o comércio de drogas. Os agentes apuraram ainda a participação de funcionários de órgãos representativos da comunidade no esquema.

Os imóveis foram erguidos sem nenhuma autorização da prefeitura e não possuem responsável técnico pelas obras. Engenheiros da Prefeitura estimam prejuízo de R$ 30 milhões aos responsáveis pelas construções.

Segundo a Polícia Civil, as ações no Parque União revelam uma estratégia da facção criminosa de colocar ao menos uma pessoa em cada unidade habitacional para fingir que são moradores e dificultar as demolições.
Ainda no início das operações, os agentes localizaram imóveis de luxo que eram usados por traficantes. Dentre eles, duas coberturas, avaliadas em R$ 5 milhões, chamaram a atenção. Uma delas possuía dois andares, acabamento em mármore e porcelanato, além de uma grande área de lazer, com churrasqueira e uma piscina de 40 mil litros de água. O imóvel possuía vista privilegiada para a comunidade, para um campo de futebol e uma área onde eram realizadas festas.

Já a segunda era um quadriplex com acabamento de luxo, jacuzzi e closet, escadas com lâmpadas de led automático, além de uma piscina com cascata e churrasqueira. No térreo da unidade os agentes encontraram um quarto com dezenas de caixas de vinho e champanhe.
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