Chiquinho Brazão é o primeiro réu a ser interrogado no processo sobre as mortes de Marielle e AndersonReprodução
Publicado 21/10/2024 17:46
Rio - O deputado federal Chiquinho Brazão, primeiro réu a ser interrogado no processo sobre o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, disse que tinha uma boa relação com a vereadora e que ela possuía um futuro brilhante. O parlamentar é acusado de ser um dos mandantes do crime, assim como o seu irmão, Domingos.
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Brazão está preso desde março em um presídio de segurança máxima. Na tarde desta segunda-feira (21), o Supremo Tribunal Federal (STF) deu início à fase de interrogatórios dos cinco réus por envolvimento no caso. Chiquinho respondeu às perguntas por meio de videoconferência.
Ao ser questionado sobre Marielle, o deputado garantiu que tinha uma boa relação com a vereadora, sendo ela definida como uma pessoa amável. Chiquinho ainda disse que o assassinato foi uma "maldade".
"Foi maldade o que fizeram. Marielle tinha um futuro brilhante sem dúvida nenhuma. Sempre foi minha amiga. Era uma vereadora muito amável. A gente tinha uma boa relação. Ela sempre foi muito respeitosa e carinhosa", comentou.
Durante o depoimento, prestado ao juiz Airton Vieira, auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, o parlamentar chorou ao falar sobre seus familiares e afirmou que nunca teve contato com o ex-policial militar Ronnie Lessa, que o apontou como mandante do crime e revelou que teve reuniões com os irmãos Brazão sobre o caso. De acordo com ele, Lessa estaria protegendo alguém.
"Não tenho dúvida de que ele poderia me conhecer, mas eu não tenho lembrança de ter estado com essa pessoa. Nunca tive contato com Ronnie Lessa. Nada ali (delação premiada) é verdade", afirmou o deputado, que voltou a negar a participação dele e do irmão Domingos no crime. 
O interrogatório faz parte do processo que julga os cinco réus pelo assassinato de Marielle e de Anderson, ocorrido em março de 2018. Os acusados já tinham prestado depoimento depois das prisões e apresentado suas defesas após as denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR). Após essa fase processual, os advogados dos réus e a acusação terão cinco dias para avaliar a necessidade de novas diligências. Se isso não acontecer, o processo entra na fase das alegações finais.
Os irmãos Domingos e Chiquinho, além do delegado Rivaldo Barbosa, viraram réus pelas mortes depois da decisão da Primeira Turma do STF em junho. Eles também respondem pelo homicídio tentado da assessora Fernanda Chaves e organização criminosa.
Além dos três acusados, a PGR também denunciou Ronald Paulo de Alves Paula, major da Polícia Militar, e Robson Calixto Fonseca, conhecido com Peixe. Os dois se tronaram réus pelos assassinatos e vão responder a uma ação penal pelos crimes.
"Há provas suficientes de autoria e materialidade e a PGR expôs os fatos criminosos, a qualificação dos acusados. Se esses indícios serão confirmados durante a ação penal, para isso teremos o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa aos acusados. A denúncia descreveu de forma coerente e pormenorizada os supostos crimes cometidos, os homicídios consumados e tentados, além de organização criminosa", declarou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, na decisão.
Nesta terça-feira (22), está previsto o interrogatório de Domingos Brazão. Na quarta-feira (23), o de Robson Fonseca. Na quinta-feira (24), o do delegado Rivaldo Barbosa. Já na sexta (25), o Major Ronald será ouvido.
Acusação
A denúncia apontou que os irmãos Brazão foram os mandantes do crime. Segundo o documento, eles teriam planejado o assassinato em razão da atuação política de Marielle que dificultava a aprovação de propostas legislativas que facilitavam a regularização do uso e da ocupação de áreas comandadas por milícias no Rio de Janeiro.
A dupla teria contado com o apoio do delegado Rivaldo Barbosa. A PGR afirma que ele teria se encarregado de dificultar as investigações, utilizando-se de sua posição de comando na Polícia Civil do Rio para assegurar que os mandantes ficariam impunes.
Já o Major Ronald é acusado de monitorar as atividades de Marielle e fornecido aos executores informações essenciais para o crime.

Robson Calixto Fonseca, o Peixe, responde por integrar organização criminosa com os irmãos Brazão.
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