Mãe de Juliana Leite Rangel, Daisy Rangel afirmou que agentes dispararam diversas vezes contra carro da famíliaReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Agentes da PRF admitem, em depoimento, que atiraram contra carro de jovem baleada na cabeça
Juliana Leite Rangel, de 26 anos, está internada em estado grave no Hospital Adão Pereira Nunes, em Caxias. Apesar da gravidade, o quadro clínico dela é considerado estável
Rio - Três agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) admitiram, em depoimento, que atiraram contra o carro do pai de Juliana Leite Rangel, de 26 anos, baleada com um tiro de fuzil na cabeça na Rodovia Washington Luiz (BR-040), na altura de Duque de Caxias, na noite de véspera do Natal. Ao Jornal Hoje, da TV Globo, o superintendente da PRF no Rio de Janeiro, Vitor Almada, contou que os policiais alegaram que ouviram tiros e pensaram que tinham sido disparados de dentro do carro do pai da Juliana, mas depois reconheceram que cometeram um grave equívoco.
Ainda de acordo com Almada, a equipe costumava trabalhar em serviço administrativo, mas estava fazendo patrulhamento por conta da escala de Natal. O superintendente entende que nada justifica o que aconteceu e não muda a gravidade do erro cometido, além de apontar que a abordagem foi totalmente equivocada e fora dos padrões de treinamento. Por fim, Almada pediu desculpas à família de Juliana e colocou a PRF à disposição das vítimas.
Dayse Rangel, mãe da jovem baleado, está acompanhando a filha no Hospital Adão Pereira Nunes, em Caxias, desde que a moça deu entrada na unidade. Emocionada, ela foi consolada pela equipe médica e contou que os agentes da PRF ficaram desesperados após perceberem que atingiram a jovem.
"A PRF mandou tiro na gente para matar todo mundo, mais de 30 tiros. Aí acertaram a cabeça da Juliana. Quando a gente conseguiu parar o carro, a gente teve que ficar abaixado. Eu gritei: 'para que a aqui é família' e responderam: 'vocês que estão dando tiro na gente'. Quando tentei falar com a minha filha, ela já estava caída no carro, toda ensanguentada. Eu gritei para o policial: 'você matou a minha filha'. Aí ele botou a mão na cabeça, deitou de bruços e ficou batendo no chão, vendo a besteira que tinha feito", contou Dayse.
Além da jovem e a mãe, estavam no carro o pai da vítima, um outro filho do casal e a mulher dele. A família saiu de Belford Roxo e seguia para a casa de uma irmã de Juliana, em Niterói, onde celebrariam o Natal. Ainda de acordo com Dayse, os agentes da PRF não prestaram socorro.
"Eram dois homens e uma mulher. Eles não prestaram socorro, ficaram igual barata tonta quando viram que tinham acertado minha filha. Dois policiais militares que me viram gritando e socorreram a Juliana. Ela continua em estado gravíssimo, mas disseram que ela está melhorando. Ainda precisa de muito cuidado, estou aqui na esperança", contou emocionada.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (25) no Hospital Adão Pereira Nunes, a médica intensivista Juliana Paitach explicou que a paciente está em ventilação mecânica e recebendo medicamento para manter a pressão estável. Apesar da gravidade, há um padrão de estabilidade, uma vez que a jovem não apresentou piora no quadro de saúde.
"A Juliana tem o estado grave, porém está estável, recebendo tudo o que ela precisa, está em ventilação mecânica e no coma induzido. Do que ela chegou para agora, não teve piora, ela se manteve num grau de gravidade que estabilizou com a medicação e não teve piora. Ou seja, temos uma gravidade, mas num padrão de estabilidade, até o momento", afirmou a médica.
A equipe que acompanha Juliana vai esperar as próximas 24 horas para poder repetir exames, como uma nova tomografia, para que não haja risco de piora na parte cerebral. Os profissionais vão avaliar, entre outras coisas, se a paciente está apta ou não para a retirada da ventilação mecânica.
Segundo a intensivista, o projétil que atingiu o crânio de Juliana foi retirado durante cirurgia, quando chegou ao hospital na terça-feira. "Apesar da lesão cerebral ser uma lesão grave, ela não tem um sinal de gravidade que a gente faz uma hipertensão intracraniana. Na imagem inicial, você vê que não tem esse sinal de gravidade, então, a gente vai ter que acompanhar, ver como vai evoluir".
A médica apontou também que ainda é muito cedo para saber se a vítima terá sequelas. "Ainda não tem como saber, eu falo que o cérebro é uma caixinha de surpresa. É uma paciente jovem, que foi atendida com rapidez, com muita eficiência e tem tudo para evoluir para uma positividade. Mas não tem como a gente saber, tem que aguardar, realmente". A profissional confortou a mãe de Juliana que, ainda muito abalado, permanece no hospital desde a noite de ontem.
Nesta quarta-feira, a Polícia Rodoviária Federal informou que afastou preventivamente os agentes que balearam a jovem de todas as atividades operacionais. A corporação também determinou abertura de um procedimento interno e a Coordenação-Geral de Direitos Humanos acompanha a situação e presta assistência à família. O caso é investigado pela Polícia Federal, que instaurou um inquérito, realizou perícia, ouviu os policiais e as vítimas e apreendeu as armas para análise pela perícia técnica criminal.
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