Com a ferrovia, a espécie pode ser prejudicada mais um vezRenan Areias/Agência O Dia

"Quando você observa o mico-leão-dourado na natureza, é uma sensação única de poder apreciar um animal que corre sério risco de extinção. E você consegue vê-lo ali, solto e protegido". As palavras são do repórter fotográfico Renan Areias, do jornal O DIA, que, numa de suas folgas, foi conhecer a Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD), em Silva Jardim, no Estado do Rio de Janeiro, e não se arrependeu. Ficou encantado com o local e agora preocupado com uma ferrovia que pode atravessar o parque e a única região onde vive a espécie, como denunciou o jornalista Sidney Rezende no Informe do DIA.A AMLD lançou uma campanha pela alteração do traçado da ferrovia EF-118, explicando que o empreendimento ameaça 40 anos de esforço para salvar o mico-leão-dourado. A ferrovia passará por Silva Jardim, Rio Bonito e Casimiro de Abreu, três cidades que estão dentro da Área de Proteção Ambiental Bacia do Rio São João/Mico-Leão-Dourado. A ONG também falou sobre o assunto para as autoridades nas audiências públicas promovidas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em Brasília e no Rio de Janeiro em fevereiro.
"A Associação já está alertando as autoridades e vai trabalhar para quer a população saiba sobre os problemas do avanço do projeto com o traçado proposto. São áreas que já foram restauradas da vegetação de Mata Atlântica, e há uma possibilidade concreta de revisão deste traçado. É absolutamente possível esta alteração. Em vez de o trem atravessar áreas protegidas e sensíveis para a biodiversidade, atravessaria áreas de pastagem, sem qualquer risco para toda essa riqueza, que é de todos nós", disse Luís Paulo Ferraz, secretário executivo da Associação Mico-Leão-Dourado.
Pelo projeto, ainda segundo a ONG, a ferrovia atravessa uma reserva biológica, uma área de proteção ambiental e uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). "O mico-leão-dourado ainda está aqui, símbolo da conservação da natureza no Brasil. A espécie sobreviveu ao desmatamento de mais de 95% do seu único território: as florestas de baixada do interior do Rio de Janeiro", lembra Luís Paulo.
Importância da biodiversidade
O assessor de ecoturismo do Parque Ecológico Mico-Leão-Dourado, Anderson Luís Ferreira, conhecido como Anderson Montanha, também é um dos defensores ferrenhos do local. "A história do mico-leão-dourado passa por diversas ameaças e a mais recente é o projeto da ferrovia EF-118, que liga a cidade do Rio de Janeiro a Vitória, no Espírito Santo. A área do traçado atravessa áreas protegidas por lei. Além disso, destrói diversas áreas de florestas, algumas delas que eram pastagens e foram restauradas. E estamos sugerindo um traçado alternativo que não corta a floresta", explica Anderson, lembrando da importância de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). "Por lei, essa floresta é preservada para sempre!", ressalta.

Nas visitas guiadas ao Parque Ecológico do Mico-Leão-Dourado, Anderson explica a todos o valor da biodiversidade na região. E para defender os micos-leões-dourados, que só existem no interior do estado do Rio de Janeiro, na Bacia do Rio São João, são realizadas várias ações para monitorar a população de mico-leão-dourado, proteger a floresta, envolver as escolas e a população na educação ambiental, promover parcerias com proprietários rurais, poder público e diversas entidades, tudo com o objetivo de ampliar o engajamento social na conservação da natureza.

Atualmente, de acordo com o último censo divulgado pela AMLD, existem cerca de 4.800 micos-leões-dourados na APA da Bacia do Rio São João/Mico-Leão-Dourado. Outros animais da Mata Atlântica também ocorrem na região, como a preguiça-de-coleira (também ameaçada), onças, lontras, tamanduás e uma grande diversidade de aves. "Recebemos muitos visitantes que vêm de diferentes países ver os micos e observar aves aqui. Temos aves importantes que vivem na mesma floresta do mico, como cabeça-encarnada, cabeça-branca e tangará-rajado", afirma o assessor.
Anderson lembra ainda que uma família de mico-leão-dourado precisa de 50 hectares para viver. "Esse território garante a saúde e alimentos para a espécie. Quando faz dois anos, ela já está preparada para construir a sua família e procura outra floresta. Essa espécie é muito importante e, por isso, precisa de corredores verdes e áreas conectadas para se multiplicar", explica.

Crianças ficam encantadas

Durante todo o ano, cerca de 1.800 alunos de escolas públicas visitam, sem custo, o parque. "Quando as crianças vêm aqui, gostam de interagir, mas nem sempre os bichos aparecem, mas a gente fala que os animais estão sempre nos olhando. Existem armadilhas fotográficas que são câmeras espalhadas pela floresta, e assim sabemos a quantidade de animais que vivem por aqui", diz Anderson, que, assim como Renan, acredita que as visitas guiadas incutem nos estudantes a importância da preservação do meio ambiente e da educação ambiental. "Quando estive no parque, havia um grupo da Fiocruz. Acho de suma importância a questão da educação ecológica que é passada nas visitas. Os guias são muito prestativos e informam bem. O local onde fizemos a visitação dos micos é bem estruturado e a conservação ótima", diz Renan.
Posicionamento da ANTT
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) relembra que realizou Audiências Públicas presenciais entre 27 e 31 de janeiro deste ano para debater o projeto de concessão da Ferrovia EF-118. Foram três encontros, incluindo um em Vitória/ES, no dia 29 de janeiro, onde representantes da sociedade, como a Associação Ambiental, apresentaram contribuições relacionadas ao traçado e às questões ambientais do projeto. O período para envio de sugestões permaneceu aberto até 12 de fevereiro.
De acordo com a assessoria de comunicação, neste momento, a ANTT está analisando todas as contribuições recebidas para definir a proposta final, considerando diretrizes de política pública e viabilidade técnica. No entanto, a Agência destaca que os estudos iniciais já contemplaram aspectos ambientais e que, posteriormente, o projeto passará pela fase de licenciamento ambiental junto aos órgãos competentes.
Já o Ministério dos Transportes  informou que o traçado estudado é referencial e considerou a melhor alternativa em diversos aspectos, como geológicos, geotécnicos, ambientais, entre outros. Os projetos básico e executivo do trecho serão desenvolvidos pelo futuro concessionário e poderão sofrer alterações, incluindo melhorias em aspectos ambientais, caso sejam necessárias.
Saiba mais
A Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) é sediada em Silva Jardim e fica no km 219 da rodovia BR-101 (sentido sul), a cerca de 130 quilômetros do centro da cidade do Rio de Janeiro e 139 quilômetros do Aeroporto Internacional do Galeão. De caráter científico, social e educacional, a missão é promover a conservação da Mata Atlântica na baixada costeira do estado do Rio de Janeiro, e toda sua fauna característica, em particular o mico-leão-dourado. Com isso, a AMLD contribui também para assegurar a qualidade de vida de toda a população da região.
"A ONG tem mais de 30 anos, mas o parque é recente. Antes, a Associação funcionava na Reserva Biológica de Poço das Antas, que é uma unidade de conservação federal. Desde 2019, a AMLD tem uma sede própria que está aberta ao público para visitação'', conta Anderson.

O Parque Ecológico Mico-Leão-Dourado é único! Todos os atrativos estão relacionados ao habitat do mico-leão-dourado, à Mata Atlântica e às ações de conservação para salvar a espécie do risco de extinção. Os visitantes podem conhecer as trilhas em meio à floresta, uma torre de observação, mirantes e contemplação da natureza, além de uma exposição permanente.

Existem dois tipos de visita. Você pode ir apenas ao parque ou fazer também a observação de micos pelo passeio agendado separadamente na Trilha do Mico. Para mais informações, acesse o site www.micoleao.org.br.
A campanha por um novo traçado da ferrovia EF-118 pode ser acompanhada também nas redes sociais da AMLD, no https://www.instagram.com/associacaomicoleaodourado/.