A reportagem ouviu professores de engenharia elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) foi procurado e informou que o tema não se enquadra no escopo do instituto.
Para o professor adjunto do Departamento de Engenharia Elétrica (Dee) da UFRJ e do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), Gustavo da Silva Viana, o caso com baterias de bicicletas elétricas é parecido com os que envolvem celulares.
O docente relata que as causas de explosão da bateria de lítio, que são as baterias usadas nas bikes e aparelhos celulares, são sobreaquecimentos, sobrecarga, dano físico, curto-circuito e defeitos de fabricação.
"Se a bateria esquenta demais (por carregamento excessivo, curto-circuito ou exposição ao calor), a temperatura interna pode ultrapassar um limite crítico de 150 °C. Isso inicia reações químicas incontroláveis dentro das células da bateria", esclarece Viana.
Ainda conforme o professor, para evitar que ocorra esse tipo de acidente, é muito importante sempre usar o carregador original. Além disso, ele orienta para que a recarga seja feita de preferência em locais ventilados, distante de matérias inflamáveis e nunca à noite sem supervisão, como foi o caso do incêndio no Leblon.
Gustavo ainda orienta cuidados para produtos sem certificações, baterias que sofreram danos caindo no chão, além de evitar deixar a bicicleta sob sol intenso e sempre ter uma manutenção e inspeção regulares.
"Resumindo, deixar a bateria carregando de um dia para outro não é adequado, pode causar 'inchaço' da bateria e superaquecimento. Outro ponto são carregadores de má qualidade, que não têm circuitos adequados para a demanda da bateria" ressalta ele, que acredita que esses são os hábitos mais comuns.
Já o professor adjunto da Uerj do Departamento de Engenharia Elétrica, Leonardo de Arruda Bitencourt, explica que, apesar de a bateria de íon de lítio ser a melhor tecnologia no momento, elas são instáveis.
"Para exemplificar, as baterias automotivas são de chumbo e a gente não vê esse tipo de coisas ocorrendo por aí, certo? É porque é uma bateria mais estável. Em compensação, ela não é capaz de armazenar tanta energia como essas de íon de lítio, que usamos em eletroeletrônicos" esclarece o pesquisador.
Leonardo segue na linha dos cuidados descritos pelo professor Gustavo Vianna e acrescenta alguns outros cuidados como não guardar a bicicleta com panos em cima do equipamento, dentro de pequenos espaços fechados e recomenda que os consumidores não façam adaptações para deixar o motor mais potente.
"Se a pessoa fizer isso, pode acabar exigindo uma corrente maior da bateria, que por sua vez irá esquentar mais do que o projetado e acabar explodindo", detalha.
Ambos os especialistas também reforçaram que é recomendável supervisionar o momento da recarga e, em caso de a bateria esquentar muito ou ficar "estufada", o ideal a ser feito é melhor interromper o carregamento na hora.
O Corpo de Bombeiros contabilizou 36 incidentes envolvendo bicicletas elétricas do dia 01 de janeiro até 10 de março (segunda). Dentro desse número, existem atendimentos que envolvem fogo, queda e colisão de veículos.
Alguns cuidados necessários com esse tipo de veículo:
Em relação a bateria:
- Não carregar além do tempo máximo de carga, dormindo ou fora de casa; - Não colocar a bateria em locais quentes nem na exposição ao Sol; - Observar a alteração de cor, forma, aquecimento além do normal, produzindo fumaça - Suspender o uso; - Carregadores e baterias precisam ser originais do fabricante, não de origem paralela; - Não carregar em locais que possam bloquear a sua saída.
Sobre celulares:
Sempre que for carregar coloque o dispositivo longe de superfícies como tecido e madeira. Dê sempre preferência a locais como concreto, pedra ou superfícies metálicas. Nesses locais, o risco de propagação do fogo é muito pequeno.
Fuga térmica é uma reação em cadeia violenta de reações químicas exotérmicas resultando em um aumento incontrolável na temperatura do sistema.
Em caso de emergência:
- Acionar o 193; - Desligar a rede elétrica da casa; - Isolar a bateria em local de preferência arejado e longe de outros equipamentos; - Água em quantidade pode ser usada pra resfriar e interromper a reação térmica.
Incêndio na bateria gera, além dos gases mais comuns (CO), o fluoreto de hidrogênio que é tóxico e irritante para os olhos, mucosas e pulmões, informou a corporação.
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