Hospital Federal do Andaraí não oferta tratamento para o câncer de JorgeArquivo / Agência O Dia
Rio - Vivendo dias difíceis, a família de um paciente, de 55 anos, internado no Hospital do Andaraí, no Andaraí, Zona Norte, busca, sem sucesso, uma transferência hospitalar urgente para uma unidade com recursos para tratamento hematológico. O professor Jorge Luis de Souza Nunes chegou ao hospital após passar mal e desmaiar no trabalho, no último dia 14. Após passar por exames, foi constatado que ele estava com uma anemia profunda, além de portar uma bactéria no sangue. Posteriormente, ele ainda foi diagnosticado com um tipo de câncer no sistema linfático.
Ao DIA, Josiel Nunes de Souza, irmão de Jorge, explicou que ele foi levado ao Hospital do Andaraí por colegas do trabalho depois de passar pela emergência em uma unidade de saúde em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, que o aconselhou a procurar um hospital maior. Já na unidade municipalizada, Jorge foi internado para tratamento da bactéria, inclusive realizando transfusão de sangue e hemodiálise.
Internado, Jorge ainda foi diagnosticado com linfoma, um tipo de câncer que atinge o sistema linfático. À família, a equipe médica explicou que é possível alcançar a cura, mas que o paciente iniciaria uma corrida contra o tempo, e que, no entanto, o tratamento não poderia ser feito no Hospital do Andaraí, e sim em uma unidade de saúde com serviço de hematologia.
"Ele está internado no Hospital do Andaraí para tratar a bactéria, que um dia vai melhorar. Saindo de lá, ele vai para onde, já que não tem vaga para ser tratado? Ele precisa ir direto para um hospital que tenha o tratamento. A informação que nós temos é que esse câncer tem cura, mas precisa de tratamento. Ele não pode esperar. Vai esperar quanto tempo? Para piorar? A gente está correndo contra o tempo”, disse Josiel
A partir daí, a família começou a correr atrás de uma transferência para que Jorge pudesse dar sequência ao tratamento do câncer. Sem conseguir vaga, eles recorreram à Justiça, que determinou a transferência urgente do paciente no último dia 18. Na ordem judicial, a juíza ainda determina que, caso não haja vaga na rede pública, o paciente deveria ser transferido para uma unidade particular, com todas as despesas pagas.
A ordem judicial, porém, não foi acatada e o prazo expirou, enquanto Jorge segue internado no Hospital do Andaraí. Sobre a situação do irmão, Josiel revela que toda a família ficou abalada e cobra respostas.
"É revoltante, um sentimento de tristeza. É um descaso com um ser humano. No Hospital do Andaraí, meu irmão está sendo muito bem atendido, mas precisa de tratamento especializado. A minha revolta é com os políticos, eles precisam olhar melhor para a saúde do país. Não só a minha, mas tem muitas famílias sofrendo e ninguém está nem aí para nada. É uma dor", desabafa.
Procurada pelo DIA, a Secretaria Estadual de Saúde, por meio da Central Estadual de Regulação, informou que “o paciente foi inserido no Sistema Estadual de Regulação (SER) pelo setor de emergência do Hospital do Andaraí em 14 de março. Posteriormente, [a unidade] cancelou o pedido de transferência informando que o paciente foi absorvido pelo Hospital. Não há outra solicitação ativa de transferência em nome de Jorge Luis de Souza Nunes”.
A Secretaria Municipal de Saúde, por sua vez, disse que não recebeu qualquer ordem judicial em benefício de Jorge. Segundo a pasta, o estado de saúde do professor é estável e não há sinais de agravamento clínico.
"A direção do Hospital do Andaraí informa que o paciente está recebendo todos os cuidados indicados para o seu caso. Ele está em tratamento de uma infecção e em investigação diagnóstica sobre a causa deste quadro. No momento, não há indicação de transferência para outra unidade. A direção da unidade está à disposição da família para outros esclarecimentos", diz a nota.
Histórico familiar preocupa
A saúde de Jorge e a urgência na transferência para o tratamento são assuntos delicados para a família, que recentemente passou pela perda de um parente, que também lutou contra um câncer, e outro diagnóstico da mesma doença.
Segundo Josiel, um de seus irmãos faleceu há dois meses, depois de travar uma luta contra o câncer. De acordo com ele, desde que foi diagnosticado, também teve dificuldades para ter acesso ao tratamento. Quando o conseguiu, a doença já estava em estado avançado, não dando resultados.
“Nós lutamos para conseguir um tratamento para ele e só conseguimos através de contatos. Fizemos de tudo dentro das nossas possibilidades, mas ficamos de pés e mãos atados. Meu irmão faleceu porque demorou muito para começar o tratamento”, disse Josiel.
Pouco depois deste diagnóstico, a família se deparou com outra adversidade. De acordo com Josiel, outra irmã também foi diagnosticada com câncer. Assim como o irmão, ela também apenas conseguiu acesso ao tratamento depois de muita luta.
“Nós corremos para pedir ajuda e foi onde a minha irmã conseguiu fazer o exame que diagnosticou o câncer. Ela passou por uma cirurgia e, graças a Deus, está bem, fazendo quimioterapia e sendo acompanhada”, contou Josiel.
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