Yasmin Brunet foi criticada porque estava muito magraReprodução/Instagram

Rio - Em recente entrevista no podcast "On Purpose with Jay Shetty",  a cantora Selena Gomes abordou de forma corajosa a realidade de ser uma pessoa famosa nas redes sociais. "As mulheres estão em uma situação muito pior", disse ela, apontando a intensidade das cobranças que recaem sobre o sexo não tão frágil assim, especialmente quando se trata de aparência e comportamento. Famosas brasileiras como Bruna Marquezine e Yasmin Brunet, entre outras, também passaram por críticas aos seus corpos muito magros e estilos de vida.Médicas e nutricionistas explicam os perigos por trás dessa nova onda estética. Para especialistas, essa busca desenfreada pelo emagrecimento pode trazer consequências sérias para o corpo e a mente, impactando não apenas as celebridades, mas também seus seguidores, que tentam replicar padrões muitas vezes irreais e começam a fazer dietas sem ajuda médica e a ficar sem comer, dando início até a um processo de  bulimia ou a aneroxia.
Excesso prejudicial

O emagrecimento por si só não é um problema, mas quando se torna excessivo e sem acompanhamento profissional, pode comprometer gravemente o organismo. Dietas extremamente restritivas e o uso de medicamentos para perda de peso podem resultar em deficiências nutricionais, perda de massa muscular, desregulação hormonal e até transtornos alimentares, como alerta a endocrinologista Stephanie Kozen.
"O emagrecimento se torna prejudicial quando começa a impactar a saúde física e mental. A magreza excessiva pode levar à fadiga crônica, problemas gastrointestinais, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas e até infertilidade. Muitas pessoas não percebem que estão colocando suas vidas em risco para atingir um ideal estético muitas vezes insustentável", explica a especialista.
A nutróloga And Yara também reforça que a busca incessante pela magreza pode se tornar prejudicial quando ultrapassa os limites da saúde. "Uma alimentação equilibrada deve fornecer todos os nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo. Quando uma dieta se torna extremamente restritiva, com baixíssima ingestão calórica e eliminação de grupos alimentares essenciais, ela deixa de ser benéfica e passa a ser prejudicial à saúde", alerta.
A cardiologista Dra. Eline Lobo, que trabalha com equilíbrio hormonal, enfatiza os riscos de dietas e medicamentos sem acompanhamento profissional.
"uso de medicamentos para emagrecer sem acompanhamento médico adequado pode trazer sérios riscos à saúde, incluindo problemas cardiovasculares, ansiedade e alterações de humor. Além disso, muitos desses medicamentos não atuam na mudança de hábitos, o que pode levar ao efeito rebote”, pontua.
O perigo do emagrecimento rápido

A facilidade de acesso a medicamentos para emagrecimento tornou essa busca pela magreza ainda mais acelerada – e perigosa. O Ozempic, remédio originalmente criado para tratar diabetes tipo 2, tem sido amplamente utilizado por famosos e influenciadores para a perda de peso rápida. No entanto, seu uso indiscriminado pode desencadear efeitos colaterais graves.
De acordo com profissionais de saúde, o Ozempic não foi criado para fins estéticos. "Quando utilizado sem acompanhamento médico e sem real necessidade clínica, pode causar efeitos colaterais severos, como náuseas, vômitos, tonturas, fraqueza, perda de massa muscular e até problemas gastrointestinais graves. Além disso, a perda de peso rápida e sem uma reeducação alimentar adequada pode resultar no chamado ‘efeito rebote’, em que o indivíduo recupera os quilos perdidos rapidamente", explica And Yara.
Dra Eline Lobo reforça que a busca pelo emagrecimento acelerado pode colocar a saúde em risco."O grande problema é que muitas pessoas utilizam esses medicamentos sem necessidade clínica, e isso pode causar um efeito devastador no organismo. O corpo não foi feito para perder peso de forma drástica e descontrolada", alerta.
A cardiologista metabólica Priscila Sobral emite sua opinião a respeito: "A cultura da magreza impõe padrões estéticos muitas vezes inatingíveis e perigosos para a saúde. Quando o desejo por um corpo 'ideal' ultrapassa os limites do equilíbrio, vemos casos em que o emagrecimento se torna excessivo e coloca em risco o bom funcionamento do organismo. O coração, por exemplo, é diretamente afetado por dietas muito restritivas e perda de peso rápida e extrema, podendo desenvolver arritmias, queda de pressão arterial e outras complicações mais graves. Emagrecer com saúde é diferente de buscar um corpo que responda apenas a um padrão visual. É fundamental priorizar o bem-estar físico e emocional, com acompanhamento médico e metas realistas".
Dietas restritivas e ilusão da perda de peso rápida
Outra estratégia comum na busca pela magreza extrema são as dietas altamente restritivas, que eliminam grupos alimentares essenciais e reduzem drasticamente a ingestão calórica. No entanto, esses métodos podem gerar um efeito contrário e provocar ganho de peso a longo prazo.
A nutricionista Isabella Lacerda explica que a maioria dessas dietas não ensina a pessoa a ter uma relação saudável com a comida, apenas restringe o prazer e gera frustração.
"Muitas pessoas acreditam que dietas restritivas são a solução, mas, na verdade, elas apenas criam um ciclo perigoso de compulsão. Quando você retira da sua vida os alimentos que dão prazer e usa a comida apenas como um meio de emagrecer, o que acontece quando essa dieta acaba? Você volta a comer como antes, e o peso retorna – muitas vezes ainda maior", afirma Isabella.
A especialista reforça que a reeducação alimentar é o único caminho para um emagrecimento saudável e duradouro. "Não existe atalho. Se você não aprende a se alimentar de forma equilibrada, qualquer método que promova emagrecimento rápido será temporário. Você pode perder peso com remédios ou cirurgias, mas se não cuidar da alimentação, ele volta. E essa obsessão por ser magra está fazendo as pessoas adoecerem – física e mentalmente", pontua.
Famosas e a exaltação do corpo esguio
Bruna Marquezine, Yasmin Brunet e Selena Gomez não são as únicas a enfrentarem a pressão por um corpo cada vez mais magro. Maya Massafera, Kim Kardashian e Bella Hadid também têm sido alvo de comentários sobre emagrecimento extremo. A influência dessas celebridades na cultura pop é enorme, e muitos seguidores tentam replicar seus padrões estéticos, sem considerar os impactos na saúde. O problema é que, muitas vezes, o que vemos nas redes sociais não reflete a realidade – edições de fotos, cirurgias estéticas e dietas insustentáveis criam uma imagem artificial do que é 'ideal'.
Saúde antes da estética
A obsessão pela magreza extrema já trouxe sérias consequências no passado, e agora ressurge com força em meio às redes sociais. Mas os especialistas são unânimes: a verdadeira saúde está no equilíbrio, não na obsessão pelo corpo magro. "É possível emagrecer de forma saudável, mas isso exige paciência, reeducação alimentar e hábitos sustentáveis. O que não podemos aceitar é que a saúde seja colocada em segundo plano por um ideal de beleza que nunca será suficiente. O corpo ideal é aquele que te permite viver bem, com energia, disposição e autoestima real, não baseada apenas em um número na balança", conclui a endocrinologista Stephanie Kozen.