Um grupo de mães esteve em uma das sedes da operadora, na Barra da Tijuca PEDRO IVO/ AGENCIA O DIA

Rio - Um grupo de mães vive dias de angústia diante da possível interrupção dos tratamentos multidisciplinares de seus filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). As crianças são atendidas na clínica Follow Kids, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, que anunciou a suspensão dos serviços a partir do dia 2 de maio. O motivo, segundo a direção da unidade, é a ausência de repasses financeiros por parte da operadora de saúde Unimed Ferj.
A técnica de enfermagem e instrumentadora cirúrgica Erica dos Reis, de 37 anos, é mãe de um menino de 9 anos que realiza terapias na clínica desde setembro do ano passado. Ela conta que foi surpreendida por um e-mail da unidade informando sobre a paralisação.
"Para ele, hoje, ficar sem as terapias impacta tanto no desenvolvimento escolar, quanto social, em todas as questões da vida dele. Na questão motora, psicológica, em tudo. Isso é muito grave. Meu filho vai ter um retrocesso, uma regressão absurda", explica.
Para muitas famílias, a situação não é inédita. A comerciante Simone Guerra, de 47 anos, lembra que enfrentou uma crise semelhante no ano passado, durante o processo de fusão entre a Unimed Ferj e a Unimed-Rio. À época, um acordo mediado pelo Ministério Público e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) garantiu a continuidade dos atendimentos.
"Há um ano atrás, nós passamos por esse mesmo problema na fusão da Unimed Ferj e Unimed-Rio. Foi feito um acordo com a presença do Ministério Público, a ANS, onde a Unimed se comprometeu a fazer a regularização dos débitos, tanto com as clínicas quanto com os médicos pendentes, e manter o tratamento", detalha. 
Na tentativa de buscar respostas, um grupo de mães foi até uma das sedes da operadora, na Barra da Tijuca, nesta terça-feira (15). No local, eles foram informados por funcionários que já há uma tentativa de acordo em andamento.
"Nós ligávamos para a Unimed, e eles diziam desconhecer isso, diziam que não procedia. Nós fomos lá hoje, pedimos um posicionamento. Fomos atendidas por uma das administradoras, onde eles reconheceram para gente, de forma verbal, que existe a dívida e que eles vão tentar fazer uma negociação em uma possível reunião, mas tudo verbalmente. A gente não tem garantia que isso vai realmente acontecer", conta. 
A advogada Sandra Fidelis, de 52 anos, teme as consequências para o filho de 8 anos. Ele, que não falava nem brincava com outras crianças, apresentou grandes avanços após um intenso processo terapêutico.
"Como todo autista, o atendimento de terapias dele é intensivo, ou seja, diário. Nós conseguimos muita evolução para o meu filho em razão desse número de terapias, ele era um paciente não verbal, um paciente que não apontava, não conseguia brincar com outras crianças, muito agitado, então, assim, ao longo desse tratamento, hoje ele já fala, já consegue brincar, já frequenta a escola. Foram muitos ganhos que ele teve e que se essa clínica suspender mesmo os atendimentos, isso vai impactar de forma terrível na nossa vida", desabafa.
A situação é ainda mais crítica porque, segundo as denúncias, não há nenhuma outra clínica na região que atenda o plano e tenha uma equipe multidisciplinar capacitada para dar continuidade aos atendimentos.
"A Unimed não tem para onde realocar essas crianças, não tem rede credenciada de acordo com a própria informação da Unimed. A única rede que tem credenciada é em Niterói. Você imagina colocar uma criança autista dentro de carro para fazer 2h30 de ida e 2h30 de volta? Meu filho não consegue", desabafa Erica.
A Clínica Follow Kids informou que é credenciada da operadora Unimed Ferj, que direciona diretamente os pacientes. Eles confirmaram que existem pendências financeiras e, apesar das cobranças insistentes, ainda não receberam nenhuma proposta concreta de quitação.
"A Unimed Ferj já foi notificada de que, caso não haja uma solução até o dia 02 de maio de 2025, seremos obrigados a suspender temporariamente os atendimentos aos beneficiários desta operadora, até que os débitos sejam quitados. A continuidade dos atendimentos se tornou insustentável diante da falta de compromisso com os pagamentos, o que vem afetando seriamente o nosso caixa. Continuamos abertos ao diálogo e esperamos uma resolução o quanto antes", diz a nota.
A reportagem entrou em contato com a Unimed Ferj, que disse apenas estar comprometida com a qualidade e continuidade dos serviços prestados, trabalhando incansavelmente para garantir que todos os beneficiários recebam os atendimentos adequados.