Quando se passa pelo portão da Faetec - Fundação de Apoio às Escolas Técnicas do Estado do Rio de Janeiro - , na unidade Quintino, a impressão é que, além de educação, o lugar é um mundo de oportunidades para quem quer aprender, evoluir e deslumbrar um futuro promissor.
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A reportagem do jornal O DIA passou um dia inteiro nas dependências da unidade de Quintino, Zona Norte do Rio de Janeiro, e saiu de lá com a certeza de que somente a educação salva, como afirmou o presidente da instituição, Alexandre Valle, no cargo desde novembro de 2024.
Da Casa da Criança até a pós-graduação, passando por projetos que atendem a toda região, a Instituição oferece cursos de enfermagem e análises clínicas, hotelaria, protético, teatro, línguas, barbeiro, oficinas de bijuterias, além de aulas de dança, futebol de salão, lutas, hidroginástica e natação, entre outras atividades. E o melhor – tudo gratuito e com profissionais gabaritados.
Em entrevista ao jornal O DIA, o presidente da Faetec, Alexandre Valle, fala dos desafios e da importância da educação no país.
O DIA: Quais são os seus desafios na presidência da Faetec?
Alexandre Valle: Não tenho dúvida de que são muitos. A educação no Brasil é um grande desafio. Ainda mais aqui que tem educação profissionalizante. Estamos trabalhando para inverter essa lógica. De nada adianta eu formar o meu aluno e o diploma ser apenas um papel. O que preciso é inseri-lo no mercado de trabalho. Estamos conversando com diversas empresas com objetivo de elas nos dizer qual é a sua demanda e a gente atendê-las. São vários as empresas que estão carentes de mão de obra qualificada. Vamos trabalhar para suprir essas carências.
Estamos montando um projeto com a Secretaria de Turismo do Estado, que é a Escola Profissional de Turismo. Vamos fazer parcerias com os representantes dos hotéis, das pousadas, dos bares e restaurantes onde possamos fazer um termo de cooperação para que os nossos alunos, ao se formarem, sejam absorvidos pelo mercado de trabalho. É a Faetec produzindo mão de obra de acordo com as necessidades do mercado.
É tendência hoje, no Brasil, a fotovoltaica. Então nós temos que formar instrutores para fotovoltaica, para atuar com energia solar. Vamos formar pessoas para trabalhar em carros, motos e bicicletas elétricos, uma realidade no Brasil hoje . A Faetec está atenta a essa realidade. Nós temos mais de 300 cursos fixos, além das escolas técnicas.
O DIA: No que vocês investem atualmente?
Alexandre Valle: A orientação do secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Anderson Moraes, e do governador Cláudio Castro é que a gente faça um investimento urgente na troca dos laboratórios das nossas escolas técnicas e a gente já está trabalhando nesse sentido.
O DIA: O projeto + Esporte & Saúde atende os estudantes e moradores da região. Como você vê isso?
Alexandre Valle: Dispomos de infraestrutura esportiva grandiosa que não pode nem deve ficar ociosa e é muito gratificante ver o Estado cumprindo o papel dele. Quando a gente vê o projeto atendendo crianças a partir dos 6 anos de idade e adultos de até 89 anos, praticando natação, ginástica, esporte é muito prazeroso, pois estamos melhorando a qualidade de vida das pessoas. Vale lembrar que esses alunos passam por exames de avaliação a cada três meses.
O programa tem feito tanto sucesso que estamos expandindo para as unidades de Marechal Hermes, Santa Cruz e Niterói. Em Marechal Hermes, tivemos 345 matrículas somente no primeiro dia. O projeto quer atender pessoas que muitas vezes não têm condição de pagar uma academia, de ter um personal.
O DIA: Como é o projeto Intramuros?
Alexandre Valle: O Intramuros é uma parceria da Faetec com as prefeituras. São laboratórios de iniciação científica, onde as crianças, das redes pública e privada, podem utilizar os equipamentos, tudo monitorado pelo gestor da unidade municipal. Vamos avançar na execução dessa obra e entregar esses laboratórios para diversos municípios do estado. Entre os já inaugurados estão os municípios de Tanguá, Resende e Barra do Piraí.
O DIA: Qual a importância da educação para o país?
Alexandre Valle: A educação é o caminho para a construção de um país melhor. Não sou professor, mas quando fui secretário de educação, a convite do governador Claudio Castro, acabei me apaixonando. Agora é arregaçar as mangas e trabalhar junto com uma equipe mais do que qualificada que temos na Faetec e entregar a educação que nosso povo merece.
O secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação -SECTI, Anderson Moraes, também falou com a reportagem.
O DIA: Como o senhor avalia a sua gestão nesse quase um ano como secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação -SECTI?
Anderson Moraes: Tem sido um período de muito trabalho e dedicação para fortalecer as políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação no estado. Pessoalmente, acredito que estamos fazendo um excelente trabalho, com a ajuda dos nossos servidores e todo o apoio do Governador Cláudio Castro. Em menos de um ano, conseguimos avançar bastante com os investimentos e com a melhoria dos serviços públicos prestados à população.
O DIA: Quais os desafios que o senhor tem atualmente?
Anderson Moraes: O aperfeiçoamento dos currículos dos cidadãos do Estado por meio do Centro Tecnológico de modo que ele tenha condições de atender e concorrer as ofertas do mercado de trabalho e contribuir para o desenvolvimento da sociedade.
O DIA: O projeto Intramuros atende 35 crianças, de 8 a 12 anos, permitindo aos estudantes do ensino fundamental o primeiro contato com a área tecnológica. A ideia é expandir esse projeto para alunos de outra faixa etária?
Anderson Moraes:O projeto é fundamental para iniciar o estudante desta faixa etária no mundo da ciência, neste sentido estamos levando-o para todo o Estado do Rio de Janeiro. Atingindo este objetivo, poderemos avançar na faixa etária da adolescência, dialogando com as Universidades essa expansão. Sempre é possível melhorar, porém, ele foi pensado para que o estudante da rede pública possa ter a formação inicial necessária para se qualificar como um futuro pesquisador e cientista na sociedade, se assim ele desejar.
Saúde interessa
Quem quer se habilitar na área da saúde deve ficar muito atento. A unidade da Faetec/Quintino oferece curso de enfermagem, de análises clínicas, e de protético. Aos 18 anos, Jullye Fernanda Moreira da Silva faz o de técnica de enfermagem e está muito feliz. "É algo muito satisfatório, incrível. Até porque estamos lidando com vidas, né? Eu vou começar o estágio agora no próximo período. Estou ansiosa porque eu gosto desse contato do hospital com pessoas".
Outro aluno satisfeito é Lucas Alves, de 22 anos. Ele fazia Análises Clínicas e resolveu trocar para enfermagem do trabalho. "O curso de especialização em enfermagem do trabalho atua principalmente nas empresas. Dependendo da quantidade de funcionários que a empresa tem há necessidade de um enfermeiro ou um técnico de enfermagem. E eu acho que é interessante a gente divulgar esse curso, porque mostra que a enfermagem é muito ampla. Não necessariamente os enfermeiros, os técnicos, eles atuam no hospital, a gente pode trabalhar em empresas em outros setores", explica.
Há 18 anos a professora Patrícia Xavier ministra aulas no curso de Análises Clínicas. "Os nossos alunos passam por três módulos semestralmente, um curso de um ano e meio, e eles também fazem estágio nos laboratórios públicos. Assim, eles ficam prontos para o mercado de trabalho. Muitos dos nossos alunos já saem do estágio direto para o mercado de trabalho. Nós temos ex-alunos na Marinha, na Aeronáutica", conta ela.
João Pedro Moutinho Silva Andrade, de 17 anos, entrou no curso de análises enquanto ainda fazia o ensino médio no ano passado. "Eu sempre quis trabalhar na área da saúde, mas nunca quis ter todo esse contato que o povo da enfermagem tem. Todo esse contato cara a cara. Eu sempre tive muito amor e muito carinho pelo backstage, assim, por dizer, pelos bastidores. Então, eu sempre gostei muito de biomedicina, farmácia. Então, tipo, o curso é uma coisa que está me deixando muito próximo dessa área", avalia.
Curso de protético
O professor Rubem C. Veloso explica que a procura pelo curso de protético é grande. Ele conta que o curso é gratuito só no Rio de Janeiro e na Amazõnia. "Vem muita gente da Baixada Fluminense e as pessoas já saem daqui direto para o mercado de trabalho, normalmente para as Forças Armadas, principalmente na Marinha. O curso tem duração de um ano e meio com três módulos e as pessoas saem preparadas mesmo. Trabalhamos com dentistas e só mexemos em gesso", diz ele, que trabalha na Faetec há mais de 20 anos e conta que até 1970 era só homem que atuava nessa área, mas agora as mulheres dominam a técnica também.
Movimentar o corpo é primordial
O esporte é um dos pilares principais das aulas oferecidas pela instituição. Há 25 anos na instituição, Jeter de Souza é o coordenador do Avanço Esporte, que atende alunos da Faetec e da região. Além disso, existe o projeto + Esporte & Saúde , que é voltado para os moradores não só do bairro, mas também de outros locais. "Temos futebol, natação iniciante, avançada, hidroginástica. Nós temos os nossos horários da comunidade e da escola. Tem musculação e dança. Todas essas modalidades, tanto o pessoal da Faetec como o do bairro podem fazer", explica o profissional.
Há mais de um mês no projeto, as donas de casa Rosangela Miranda, de 66, e a aposentada Tania Rosa, 62, estão gostando de fazer hidro, aulas funcionais, natação e dança. "Estou achando excelente para as pessoas aqui da Piedade. Acho ótimo porque, inclusive, é grátis. Uma iniciativa muito boa que deve continuar", disse Dona Rosangela.
Dona Tania também é só elogios. "Eu estava ociosa e precisava me movimentar por causa dos músculos. O tempo vai passando e a gente vai enfraquecendo. É bom para o corpo e para cabeça também. Passei a conhecer gente nova. Isso é ótimo", afirma.
Os netos de dona Rosa Helena: Luan Gabriel, 13 e Hiago Carola, 6, aproveitam bem o campus. Eles fazem Taekwondo terças e quintas-feiras, e futebol e natação aos sábados, na unidade de Quintino. "Depois que eles entraram para a luta estão mais confiantes e calmos. Meus netos adoram e o padrão aqui é muito alto", diz dona Rosa Helena, que sempre assiste as aulas do professor Eduardo Lopes. Ele fala da importância da luta na vida de seus alunos.
"De fato, qualquer atividade física ou esporte já contribui tanto nessa questão comportamental, quanto na questão psicomotora, na questão da formação da cidadania, e tudo mais. Eu sou professor de educação física há 30 anos, já dei aula de diversas modalidades esportivas, e o Taekwondo é uma das que eu dei por mais tempo, treino os alunos e tudo mais. A luta tem uma peculiaridade, que é a questão da disciplina", diz o professor.
Representar faz bem
O professor e coordenador de teatro da Faetec, Marco Aurélio, explica como acontecem as aulas na unidade. "Todos os nossos cursos são de qualificação profissional e voltados para a comunidade. Meus cursos, na maior parte deles, são multidisciplinares com expressão corporal, interpretação teatral, voz, a própria interpretação, história do teatro brasileiro. A gente também tem música, contadores de história. e prática de linguagem teatral", diz ele. Atualmente na unidade de Quintino são atendidos cerca de 120 alunos. "A gente abre cursos semestralmente. Os nossos cursos têm 20 semanas de duração. Dá em torno de 5 meses, mais ou menos".
Para Marco Aurélio, a arte é de suma importância para todos. "Eu costumo dizer que é feijão com arroz. A gente não vive sem arte. apesar de não perceber o quanto a arte está inserida na nossa rotina. A gente escuta música todo dia, assiste às séries, aos filmes, enfim, às novelas, para quem gosta. A gente vai ao teatro, a gente gosta de dançar. Então, a arte faz parte do nosso dia a dia. E, infelizmente, acho que a gente não consegue entender a importância da arte, não só o pós-entretenimento. A gente entende a arte como entretenimento na maioria das vezes. Só que a arte faz parte da economia do mundo. Ela gira em torno de economia. Graças a Deus, hoje já existe um termo chamado economia criativa. Então, o teatro faz parte dessa economia criativa".
Aos 33 anos, o videomaker Josimar de Oliveira quer ser ator e passou a fazer os cursos oferecidos pela Faetec. No ano passado fez o de iniciação e agora está fazendo o curso de atuação para futuramente fazer o de dublagem. "Eu já tinha todo um envolvimento com essa área do teatro, mesmo trabalhando na área técnica, eu já tinha todo um envolvimento, e gravava muitas peças, espetáculos e tal, então eu sempre gostei muito desse meio. Quero mesmo ser dublador", diz ele, que descobriu sobre o curso, perto da sua casa e não perdeu tempo.
Oficina de barbeiro
Mudar de profissão com mais de 50 anos pode parecer estranho, mas não para quem quer encontrar novos caminhos como é o caso de Márcio Dias, de 53 anos, que se inscreveu no Curso de Barbeiro oferecido pela Faetec."Estou procurando empreender, ganhar mais conhecimento. Eu trabalhava na área de logística. Hoje estou trabalhando com música, barbearia, tatuagem", diz ele que está gostando muito do curso e se reinventando assim como Fábio Anderson, de 54 anos, que atuava como segurança e agora está as voltas com a tesoura. Ele e a esposa pretendem abrir um salão de beleza no Encantado onde moram. "Estou adorando essa nova fase".
Ao escutar esses relatos, o instrutor Thiago Melo, de 37 anos, fica orgulhoso e explica o curso é feito em cinco meses mais ou menos e os alunos contam com aulas três vezes por semana. Ele conta que os interessados podem se inscrever no curso pelo site e que todos são gratuitos.
Se você está interessado em fazer alguns dos muitos cursos oferecidos pela Faetec não perca tempo. É só acessar https://www.faetec.rj.gov.br
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