A profissional de RH, Cris Antoniol, fala da importância do pertencimentoArquivo pessoal

Se tem algo que mexe com qualquer ser humano é o trabalho. Existe o cansaço quando as demandas são inúmeras, mas a falta de emprego ou a dificuldade de lidar com pessoas em seu ambiente corporativo pode até fazer com que desenvolva a Síndrome de Burnout. O importante é manter o equilíbrio e, principalmente, o bom humor, claro que esse comportamento não significa ser o bobo da corte ou o palhaço do escritório.De acordo com Cris Antoniol, profissional de RH, Gestão e Liderança, é preciso que se tragam pessoas para cuidar de pessoas. "Quando a gente tem esse conceito que as pessoas da nossa empresa são os protagonistas dos nossos processos, dos nossos produtos, das nossas entregas, a gente agrega um valor de pertencimento a esse colaborador", diz a profissional.
Ela explica ainda que movimentos de escuta, de acolhimento, de troca, você consegue ali perceber qual é a tendência do seu público e aonde você pode mitigar possíveis conflitos e ruídos. "Quando você vê uma ideia sua, nem que seja numa mídia interna da sua empresa, você se sente valorizado. E isso faz com que você trabalhe e acesse partes do seu cérebro onde a criatividade e a empatia vão estar sempre sendo ativados e movimentados", explica.
Em 1º de maio, é comemorado o Dia do Trabalhador. O jornal O DIA entrevistou alguns profissionais para falar sobre o bom humor no ambiente do Trabalho. São eles a especialista em Gestão da Saúde pela UFRJ e Ciencia da Felicidade pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, Chrystina Barros, o hipnoterapeuta clínico Renê Skaraboto e o psicólogo clínico Luti Christóforo.
O DIA: Como as empresas podem readaptar a cultura organizacional de modo que ambas as partes saiam em vantagem?
Chrystina Barros: Quando a gente fala de ambas as partes, estamos falando das lideranças e dos colaboradores. Eu ainda vou incluir quem recebe esse serviço, quem interage com essa empresa, todos se beneficiam. A gente sabe que todo trabalho tem uma tensão entre aquilo que se planeja e aquilo que se realiza. Isso por si só já traz uma carga. Mas a gente pode trabalhar essa carga com uma comunicação não violenta e trazendo além disso o bom humor, o que de maneira nenhuma significa perder o foco. Podemos trabalhar a comunicação, a postura, as interações para reduzir essas tensões. E a liderança é o exemplo. Um líder que sabe rir de si mesmo, que promove um clima saudável, que abre os ouvidos abre uma escuta ativa e uma comunicação não violenta. Com certeza isso é semente para bom humor.
Existe fazer rodas de conversa, onde cada um pode trazer algum assunto do seu fim de semana, do seu dia, pode compartilhar momentos com a sua família, trazer isso de alguma forma para o trabalho. Isso ajuda muito a manter essa leveza, estimula o engajamento, a autenticidade e isso faz com que pessoas se tornando mais engajadas tragam melhores resultados e sejam inclusive mais confiáveis, porque isso ajuda na cultura de segurança. E a cultura de segurança é fundamental para que os erros sejam trazidos como oportunidade de melhoria e não como um mecanismo de punição a qualquer pessoa ou por baixo desempenho ou por erro. Obviamente, guardados aqui todos os rituais de verificação, de cumprimento de regras, aspectos éticos, técnicos, mas a gente, com ambiente leve, estimula essa cultura de segurança, leveza e confiança.

Luti Christóforo: Quando o ambiente de trabalho se torna mais leve e acolhedor, todos ganham. Iniciar reuniões com uma postura mais descontraída, permitir momentos de riso e promover uma comunicação mais humana ajuda a reduzir o estresse e aumenta a conexão entre os colaboradores. Isso cria um clima emocionalmente seguro, onde as pessoas se sentem à vontade para colaborar, criar e opinar.
Um passo importante nessa transformação é a adoção da psicoterapia institucional, com psicólogos atuando dentro da própria empresa ou por meio de parcerias externas. Esse cuidado preventivo fortalece o clima organizacional, ajuda a resolver conflitos antes que se agravem e oferece suporte emocional individualizado aos colaboradores. Empresas que investem nesse tipo de ação criam um ambiente de confiança, com mais engajamento, menos afastamentos e melhores resultados.

Renê Skaraboto: Analisando essa questão da terapia do riso, né, dentro das empresas, a gente precisa, num primeiro momento, desvencilhar daquele olhar de que a terapia do riso está vinculada somente às grandes risadas, às piadas, às gargalhadas e coisas assim. Claro que essas são uma das expressões mais fortes desse processo, mas a intenção é criar um ambiente leve, bem-humorado e tranquilo. Então, as empresas podem reestruturar os seus ambientes para que o ambiente todo possa conversar com isso, deixar as pessoas mais tranquilas, mais leves, com um humor mais alto. Então, numa reunião, por exemplo, obviamente que o líder não vai fazer uma piada quando entrar na sala de reuniões, mas dar um bom dia, boa tarde, boa noite pode parecer algo meio estranho, mas às vezes nessas reuniões os líderes ou os pares estão tão estressados que nem cumprimentam o outro. Então ter uma rotina saudável, garantindo um conforto melhor naquele ambiente.
Quando estamos falando da empresa, no geral, nós também estamos falando das próprias políticas da empresa com os seus funcionários e vice-versa. É importante mostrar que a empresa está se preocupando com o funcionário e o próprio colaborador também, ter os seus momentos de mostrar que está se preocupando com a empresa, ser reconhecido pelas metas alcançadas, isso faz com que o ambiente se torne mais agradável para trabalhar. A intenção desse estudo, de analisar que o bom humor faz com que o indivíduo produza mais, isso precisa ser ampliado a toda empresa. Pessoas em ambientes confortáveis e seguros têm proatividade, alegria, motivação, criatividade para poder entregar na produção que eles estão fazendo.

O DIA: Com o crescimento dos afastamentos por Burnout, a pressão por entregas de resultados imediatos, em um curto espaço de tempo, e a competitividade entre os funcionários, quais alternativas podem ser aliadas no combate às frustrações que levam ao esgotamento físico e emocional?

Chrystina Barros: O esgotamento emocional pode trazer transtornos físicos. Então, a saúde física pode estar comprometida, mesmo naquele trabalho, por exemplo, dito e visto como um trabalho de escritório. E aí a gente precisa pensar em três pilares, de prevenir esse ambiente, o burnout, de dar o senso de pertencimento às pessoas e é óbvio que ninguém quer pertencer a um lugar ruim. Então trazer o senso de pertencimento já é você construir com as pessoas um bom ambiente. A gente pode estimular, por exemplo, que o momento do café, ao invés de dizer para as pessoas que elas não podem ter o tempo do café, que o tempo do café seja dentro do escritório e não na rua, por exemplo. que as pessoas possam compartilhar até os seus próprios alimentos, o lanche, o almoço, diretores, todas as pessoas. Então, com isso, você trazendo leveza ao ambiente, engajando as pessoas, você fortalece solidariedade e aí, dessa forma, você cria um ambiente para que elas tenham suas válvulas de escape, descarreguem as tensões e voltem de maneira objetiva para os seus trabalhos, para a resolução de problemas.

Luti Christóforo: O esgotamento emocional, tão presente nas queixas de burnout, geralmente nasce da soma entre pressão constante, metas excessivas, falta de reconhecimento e ambiente pouco acolhedor. Para enfrentar esse cenário, é fundamental criar espaços de escuta e apoio, oferecer pausas programadas, valorizar o esforço, e praticar uma gestão mais humanizada e equilibrada.
Entre as iniciativas mais eficazes, está a inclusão da psicoterapia institucional. Psicólogos que atuam dentro da empresa, ou como parceiros externos especializados, podem oferecer suporte contínuo, identificar sinais precoces de adoecimento psíquico e auxiliar na mediação de conflitos. Além disso, desde 2024, a nova Lei 14.831 reconhece e certifica as empresas que adotam práticas voltadas à saúde mental no trabalho, promovendo um ambiente mais saudável e produtivo. Cuidar das pessoas deixou de ser apenas uma virtude e passou a ser também um diferencial estratégico.

Renê Skaraboto: Todas essas patologias que estão acontecendo no campo corporativo, né, então, os burnouts, os esgotamentos dos colaboradores, a alta competitividade entre um e outro. Bom, como já dizia o Charlie Brown, o homem que está em paz não quer guerra com ninguém. Então isso vai diretamente alimentando essa ideia de que quando nós temos colaboradores bem-humorados, que estão com autoestima elevada, eles reduzem a competição interna e aumentam a colaboração interna. fazendo com que a própria equipe se ajude, a própria equipe queira crescer unida. Muitas vezes esses burnouts, esses esgotamentos estão muito vinculados mesmo a essa desorganização da corporação. Eu acredito que hoje as equipes estão passando por esse processo de desestruturação. Está cada um puxando para um lado e estressando o todo. Então ambientes amorosos e respeitosos, nos quais em que realmente o indivíduo se sinta bem, ele consegue se sentir com a potência elevada e vai dar o melhor dele para a equipe. Se todos fizerem isso, o todo acaba ganhando e automaticamente cada um recebendo o seu feedback positivo pelos louros da equipe.

O DIA: De que forma as relações podem se tornar mais humanizadas, sem que se perca o respeito e seja possível formar uma liderança mais empática? Isso pode combater a evasão ocupacional - o famoso, "turnover"?

Chrystina Barros: O chefe é uma pessoa que também erra, reconhece seus erros, pede ajuda, aceita a favor. Tem pessoas que não aceitam favor porque se sentem dessa maneira rebaixadas, digamos assim. Então você ter uma liderança que escuta, que é coerente, que tem clareza no que fala, uma empresa onde as políticas sejam claras e transparentes para todos, isso tudo ajuda a você engajar de uma forma séria. A gente com isso vê que tem trabalhos que mostram que 40% das demissões são as pessoas pedindo para ir embora daquele ambiente, mais até do que uma liderança.

Luti Christóforo: Nas relações no ambiente de trabalho é preciso reconhecer que por trás de cada colaborador existe uma história, emoções e necessidades que precisam ser ouvidas. Lideranças empáticas não anulam o respeito ou a autoridade, pelo contrário: elas inspiram confiança, engajamento e criam conexões verdadeiras com suas equipes.
Esse tipo de vínculo contribui diretamente para reduzir o turnover, pois colaboradores tendem a permanecer onde se sentem valorizados e compreendidos. Relações mais humanas são construídas por meio de escuta ativa, reconhecimento sincero, e uma comunicação que respeita a individualidade sem abrir mão da responsabilidade coletiva. É nesse equilíbrio que se forma uma liderança moderna e eficaz.

Renê Skaraboto: Com relação à parte de fixação, da estabilidade do funcionário, do colaborador na empresa, é mais do que óbvio que ambientes bem-humorados, leves, convidativos têm uma retenção de funcionário muito maior. E como fazer isso? Bom, nós precisamos de treinamento. As pessoas acham que ser bom, feliz e alegre é algo natural do indivíduo. E eu falo que não. É algo treinável A gente tem que treinar principalmente quando estamos falando do campo corporativo. Tem vezes que eu preciso entregar um bom humor, uma autoestima elevada, mesmo não sentindo muito aquilo. Porque, de repente, sou num cargo de liderança, num cargo de destaque, eu preciso camuflar um pouco aquilo. E isso, então, é treinável. Todas essas emoções positivas, potencializadoras do ser, do indivíduo, são adaptadas quando entram no campo corporativo para que seja compatível realmente ao ambiente, mas que ao mesmo tempo gere esse aumento de potência nos indivíduos. Então, aumente realmente o estado de eficiência, de concentração, de atenção, de bem-estar no colaborador e na equipe toda.

O DIA: Como a inclusão do humor, de forma natural, pode ser um diferencial competitivo? É possível que candidatos mais bem-humorados se destaquem em entrevistas de emprego?
Chrystina Barros: O bom humor é diferencial, tem trabalhos da psicologia positiva, que mostram que pessoas mais bem-humoradas são mais colaborativas e mais criativas. A gente sabe que a própria felicidade tem uma composição genética, mais de 60% são de perfil, porque a felicidade está associada com a liberação de uma série de hormônios e mediadores químicos que ajudam na sensação de relaxamento e prazer. Mas aquilo que não é genético pode ser exercitado, do mesmo jeito que a gente exercita os nossos músculos. Então, a gente pode promover rodas de conversa, reuniões objetivas, claras, rápidas, resolver problemas, responsabilizando sim, mas não no sentido de punição, no sentido de crescimento, de valor. e isso tudo acaba criando um ambiente favorável ao humor.
Na própria entrevista, dar um momento para que a pessoa seja espontânea, possa falar um pouco dela, até abordando como ela se percebe em termos de humor, isso mostra a própria preocupação da empresa e mostra que isso é uma empresa se colocando de maneira diferenciada para além daquelas questões técnicas exclusivas quase que de produtividade. Então tudo isso ajuda muito para que a empresa tenha essa marca empregadora, ganhe diferencial competitivo e o humor, assim como a felicidade, seja uma estratégia para lucro, sustentabilidade, perenidade e uma competitividade saudável para que a gente queira entregar o melhor para aqueles que a gente atende no nosso trabalho.

Luti Christóforo: o bom humor é uma competência emocional que tem grande valor no ambiente corporativo. Quando bem dosado, ele traz leveza para momentos tensos, facilita o trabalho em equipe, amplia a criatividade e demonstra maturidade emocional. Pessoas bem-humoradas tendem a inspirar confiança, lidar melhor com frustrações e manter o ambiente mais positivo.

Em entrevistas de emprego, esse traço pode ser um diferencial importante. Transmitir serenidade, empatia e leveza (sem perder a seriedade) faz com que o candidato se destaque, especialmente em cargos que exigem trabalho em equipe e resiliência. Mais do que saber o que fazer, o mercado valoriza cada vez mais o como fazemos.

Renê Skaraboto: com relação ao bom humor sendo colocado na vida do indivíduo de maneira automática e perene é óbvio que ele vai ter vários ganhos e um deles com certeza é o destaque profissional. Eu falo que candidatos bem-humorados, inclusive, é mais tempo para poder se apresentarem, porque as pessoas gostam de estar na presença de pessoas mais bem-humoradas. Então, um entrevistador que vai entrevistar alguém mais bem-humorado, ele vai estar mais propenso a ouvir um pouco mais, a querer saber um pouco mais daquela pessoa, a entender um pouquinho mais sobre as habilidades dela, enfim, podendo até mesmo gerar indicações um pouquinho melhores. Olha, escolhe esse indivíduo aqui porque nossa entrevista foi muito leve,  bem-humorada e ele conseguiu provar, mostrar todas as habilidades dele e tudo mais. Uma entrevista do outro lado, com uma pessoa mal-humorada, essa pessoa vai com certeza ter menos tempo, porque é inevitável, é do ser humano, a gente não quer ficar com pessoas mal-humoradas, com pessoas que trazem para dentro da sala aquela nuvem preta.