A profissional de RH, Cris Antoniol, fala da importância do pertencimentoArquivo pessoal
Luti Christóforo: Quando o ambiente de trabalho se torna mais leve e acolhedor, todos ganham. Iniciar reuniões com uma postura mais descontraída, permitir momentos de riso e promover uma comunicação mais humana ajuda a reduzir o estresse e aumenta a conexão entre os colaboradores. Isso cria um clima emocionalmente seguro, onde as pessoas se sentem à vontade para colaborar, criar e opinar.
Um passo importante nessa transformação é a adoção da psicoterapia institucional, com psicólogos atuando dentro da própria empresa ou por meio de parcerias externas. Esse cuidado preventivo fortalece o clima organizacional, ajuda a resolver conflitos antes que se agravem e oferece suporte emocional individualizado aos colaboradores. Empresas que investem nesse tipo de ação criam um ambiente de confiança, com mais engajamento, menos afastamentos e melhores resultados.
Renê Skaraboto: Analisando essa questão da terapia do riso, né, dentro das empresas, a gente precisa, num primeiro momento, desvencilhar daquele olhar de que a terapia do riso está vinculada somente às grandes risadas, às piadas, às gargalhadas e coisas assim. Claro que essas são uma das expressões mais fortes desse processo, mas a intenção é criar um ambiente leve, bem-humorado e tranquilo. Então, as empresas podem reestruturar os seus ambientes para que o ambiente todo possa conversar com isso, deixar as pessoas mais tranquilas, mais leves, com um humor mais alto. Então, numa reunião, por exemplo, obviamente que o líder não vai fazer uma piada quando entrar na sala de reuniões, mas dar um bom dia, boa tarde, boa noite pode parecer algo meio estranho, mas às vezes nessas reuniões os líderes ou os pares estão tão estressados que nem cumprimentam o outro. Então ter uma rotina saudável, garantindo um conforto melhor naquele ambiente.
O DIA: Com o crescimento dos afastamentos por Burnout, a pressão por entregas de resultados imediatos, em um curto espaço de tempo, e a competitividade entre os funcionários, quais alternativas podem ser aliadas no combate às frustrações que levam ao esgotamento físico e emocional?
Chrystina Barros: O esgotamento emocional pode trazer transtornos físicos. Então, a saúde física pode estar comprometida, mesmo naquele trabalho, por exemplo, dito e visto como um trabalho de escritório. E aí a gente precisa pensar em três pilares, de prevenir esse ambiente, o burnout, de dar o senso de pertencimento às pessoas e é óbvio que ninguém quer pertencer a um lugar ruim. Então trazer o senso de pertencimento já é você construir com as pessoas um bom ambiente. A gente pode estimular, por exemplo, que o momento do café, ao invés de dizer para as pessoas que elas não podem ter o tempo do café, que o tempo do café seja dentro do escritório e não na rua, por exemplo. que as pessoas possam compartilhar até os seus próprios alimentos, o lanche, o almoço, diretores, todas as pessoas. Então, com isso, você trazendo leveza ao ambiente, engajando as pessoas, você fortalece solidariedade e aí, dessa forma, você cria um ambiente para que elas tenham suas válvulas de escape, descarreguem as tensões e voltem de maneira objetiva para os seus trabalhos, para a resolução de problemas.
Luti Christóforo: O esgotamento emocional, tão presente nas queixas de burnout, geralmente nasce da soma entre pressão constante, metas excessivas, falta de reconhecimento e ambiente pouco acolhedor. Para enfrentar esse cenário, é fundamental criar espaços de escuta e apoio, oferecer pausas programadas, valorizar o esforço, e praticar uma gestão mais humanizada e equilibrada.
Entre as iniciativas mais eficazes, está a inclusão da psicoterapia institucional. Psicólogos que atuam dentro da empresa, ou como parceiros externos especializados, podem oferecer suporte contínuo, identificar sinais precoces de adoecimento psíquico e auxiliar na mediação de conflitos. Além disso, desde 2024, a nova Lei 14.831 reconhece e certifica as empresas que adotam práticas voltadas à saúde mental no trabalho, promovendo um ambiente mais saudável e produtivo. Cuidar das pessoas deixou de ser apenas uma virtude e passou a ser também um diferencial estratégico.
Renê Skaraboto: Todas essas patologias que estão acontecendo no campo corporativo, né, então, os burnouts, os esgotamentos dos colaboradores, a alta competitividade entre um e outro. Bom, como já dizia o Charlie Brown, o homem que está em paz não quer guerra com ninguém. Então isso vai diretamente alimentando essa ideia de que quando nós temos colaboradores bem-humorados, que estão com autoestima elevada, eles reduzem a competição interna e aumentam a colaboração interna. fazendo com que a própria equipe se ajude, a própria equipe queira crescer unida. Muitas vezes esses burnouts, esses esgotamentos estão muito vinculados mesmo a essa desorganização da corporação. Eu acredito que hoje as equipes estão passando por esse processo de desestruturação. Está cada um puxando para um lado e estressando o todo. Então ambientes amorosos e respeitosos, nos quais em que realmente o indivíduo se sinta bem, ele consegue se sentir com a potência elevada e vai dar o melhor dele para a equipe. Se todos fizerem isso, o todo acaba ganhando e automaticamente cada um recebendo o seu feedback positivo pelos louros da equipe.
O DIA: De que forma as relações podem se tornar mais humanizadas, sem que se perca o respeito e seja possível formar uma liderança mais empática? Isso pode combater a evasão ocupacional - o famoso, "turnover"?
Chrystina Barros: O chefe é uma pessoa que também erra, reconhece seus erros, pede ajuda, aceita a favor. Tem pessoas que não aceitam favor porque se sentem dessa maneira rebaixadas, digamos assim. Então você ter uma liderança que escuta, que é coerente, que tem clareza no que fala, uma empresa onde as políticas sejam claras e transparentes para todos, isso tudo ajuda a você engajar de uma forma séria. A gente com isso vê que tem trabalhos que mostram que 40% das demissões são as pessoas pedindo para ir embora daquele ambiente, mais até do que uma liderança.
Luti Christóforo: Nas relações no ambiente de trabalho é preciso reconhecer que por trás de cada colaborador existe uma história, emoções e necessidades que precisam ser ouvidas. Lideranças empáticas não anulam o respeito ou a autoridade, pelo contrário: elas inspiram confiança, engajamento e criam conexões verdadeiras com suas equipes.
Esse tipo de vínculo contribui diretamente para reduzir o turnover, pois colaboradores tendem a permanecer onde se sentem valorizados e compreendidos. Relações mais humanas são construídas por meio de escuta ativa, reconhecimento sincero, e uma comunicação que respeita a individualidade sem abrir mão da responsabilidade coletiva. É nesse equilíbrio que se forma uma liderança moderna e eficaz.
Renê Skaraboto: Com relação à parte de fixação, da estabilidade do funcionário, do colaborador na empresa, é mais do que óbvio que ambientes bem-humorados, leves, convidativos têm uma retenção de funcionário muito maior. E como fazer isso? Bom, nós precisamos de treinamento. As pessoas acham que ser bom, feliz e alegre é algo natural do indivíduo. E eu falo que não. É algo treinável A gente tem que treinar principalmente quando estamos falando do campo corporativo. Tem vezes que eu preciso entregar um bom humor, uma autoestima elevada, mesmo não sentindo muito aquilo. Porque, de repente, sou num cargo de liderança, num cargo de destaque, eu preciso camuflar um pouco aquilo. E isso, então, é treinável. Todas essas emoções positivas, potencializadoras do ser, do indivíduo, são adaptadas quando entram no campo corporativo para que seja compatível realmente ao ambiente, mas que ao mesmo tempo gere esse aumento de potência nos indivíduos. Então, aumente realmente o estado de eficiência, de concentração, de atenção, de bem-estar no colaborador e na equipe toda.
O DIA: Como a inclusão do humor, de forma natural, pode ser um diferencial competitivo? É possível que candidatos mais bem-humorados se destaquem em entrevistas de emprego?
Luti Christóforo: o bom humor é uma competência emocional que tem grande valor no ambiente corporativo. Quando bem dosado, ele traz leveza para momentos tensos, facilita o trabalho em equipe, amplia a criatividade e demonstra maturidade emocional. Pessoas bem-humoradas tendem a inspirar confiança, lidar melhor com frustrações e manter o ambiente mais positivo.
Em entrevistas de emprego, esse traço pode ser um diferencial importante. Transmitir serenidade, empatia e leveza (sem perder a seriedade) faz com que o candidato se destaque, especialmente em cargos que exigem trabalho em equipe e resiliência. Mais do que saber o que fazer, o mercado valoriza cada vez mais o como fazemos.
Renê Skaraboto: com relação ao bom humor sendo colocado na vida do indivíduo de maneira automática e perene é óbvio que ele vai ter vários ganhos e um deles com certeza é o destaque profissional. Eu falo que candidatos bem-humorados, inclusive, é mais tempo para poder se apresentarem, porque as pessoas gostam de estar na presença de pessoas mais bem-humoradas. Então, um entrevistador que vai entrevistar alguém mais bem-humorado, ele vai estar mais propenso a ouvir um pouco mais, a querer saber um pouco mais daquela pessoa, a entender um pouquinho mais sobre as habilidades dela, enfim, podendo até mesmo gerar indicações um pouquinho melhores. Olha, escolhe esse indivíduo aqui porque nossa entrevista foi muito leve, bem-humorada e ele conseguiu provar, mostrar todas as habilidades dele e tudo mais. Uma entrevista do outro lado, com uma pessoa mal-humorada, essa pessoa vai com certeza ter menos tempo, porque é inevitável, é do ser humano, a gente não quer ficar com pessoas mal-humoradas, com pessoas que trazem para dentro da sala aquela nuvem preta.
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