Representantes na Reunião de Chanceleres da Presidência Brasileira do BRICSReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - O Palácio do Itamaraty, no Centro do Rio, recebe a Reunião de Chanceleres da Presidência Brasileira do Brics (bloco liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de países convidados), nesta segunda-feira (28). O evento é realizado com a intervenção do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e é o principal encontro preparatório para a cúpula dos líderes, em 6 e 7 de julho, também na capital fluminense.
Os ministros e embaixadores dos países do grupo se reúnem hoje e na terça-feira (29) para discutir temas da atualidade, como política, comércio, finanças, saúde global e o desenvolvimento institucional do Brics. Entre as principais pautas do encontro estão as guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia, bem como conflitos na África.
Os chefes das delegações chegaram ao Palácio do Itamaraty por volta das 10h30. Participam do encontro os ministros das relações exteriores da China, Wang Yi; da Rússia, Sergey Viktorovich Lavrov; da Indonésia, Sugiono; da Etiópia, H.E. Gedion Timothewos Hessebon; o ministro de Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, Ronald Lamola; a ministra de Estado para Cooperação Internacional dos Emirados Árabes Unidos, H. E. Reem Bint Ebrahim Al Hashimy; e o ministro do Irã para a Diplomacia Econômica, Seyed Rasoul Mohajer.
Também estão presentes os embaixadores do Egito, Ragui El Etreby (Sherpa), e da Índia Dammu Ravi (Sherpa). A reunião teve início por volta de 11h15, com um discurso do ministro Mauro Vieira, que falou que o Brics está em uma posição única para promover a paz e a estabilidade baseadas no diálogo, no desenvolvimento e na cooperação multilateral.
"Estamos unidos por uma crença comum: a paz não pode ser imposta, deve ser construída. Ela deve se basear na inclusão, no respeito ao direito internacional e na igualdade soberana dos Estados (...) Defendemos a diplomacia em vez do confronto e a cooperação em vez do unilateralismo", disse o ministro das Relações Exteriores, que citou a situação na Faixa de Gaza.
"Não podemos falar do papel do Brics no avanço da paz e da segurança, sem abordar as crises urgentes que continuam vivas em todo o mundo. A situação devastadora nos territórios palestinos ocupados continua sendo uma fonte de profunda preocupação. A retomada dos bombardeios israelenses em Gaza e a obstrução contínua da ajuda humanitária são inaceitáveis, o colapso do cessar-fogo anunciado em 15 de janeiro é deplorável. Instamos as partes a cumprirem integralmente os termos do acordo e a se engajarem de boa-fé em prol de uma cessação permanente das hostilidades", afirmou o ministro.
Em seu discurso, Vieira defendeu a retirada total das forças israelenses de Gaza, a libertação de todos os reféns e detidos e a entrada de assistência humanitária na região, bem como dois Estados, sendo um Estado da Palestina independente e viável, dentro das fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como sua capital, vivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança.
"Uma solução justa e duradoura para o conflito entre Israel e Palestina só pode ser alcançada por meios pacíficos e sob o direito internacional".
Ainda na sessão que tem como tema “O papel dos Brics na abordagem de crises globais e regionais e no avanço de caminhos para a paz e a segurança", o ministro brasileiro também abordou o "pesado impacto humanitário" causado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, ressaltando a necessidade urgente de "uma solução diplomática que defenda os princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas".
Mauro Vieira lembrou que em setembro passado, Brasil e China sediaram, em Nova York, uma Reunião de Alto Nível dos Países do Sul Global sobre o Conflito na Ucrânia, que levou à criação do "Grupo de Amigos da Paz", reunindo países do Sul Global. "Permanecemos comprometidos em continuar trabalhando pela paz e por uma solução política para o conflito".
Na fala aos chanceleres, o ministro também pontuou que a deterioração da situação de segurança, humanitária e econômica do Haiti exige imediata ação do Brics, com apoio as autoridades haitianas e o povo haitiano em seus esforços para restaurar a ordem pública, desmantelar gangues armadas e estabelecer as condições para um desenvolvimento social e econômico duradouro.
"Devemos também fortalecer a diplomacia preventiva. Crises surgem frequentemente na ausência de desenvolvimento e diálogo inclusivos. Investir na paz significa abordar as causas profundas da instabilidade: pobreza, desigualdade, marginalização e instituições frágeis (...) Devemos também reafirmar nosso compromisso com os princípios humanitários. Em zonas de conflito, o acesso à ajuda deve ser incondicional e imparcial. O sofrimento humano jamais deve ser instrumentalizado. O Brics deve continuar a defender um sistema humanitário global neutro, despolitizado e genuinamente universal", apontou Vieira.
O ministro também ressaltou que o Brasil está "profundamente preocupado com a escalada das tensões no Sudão, na região dos Grandes Lagos e no Chifre da África" e disse que o país apoia plenamente os esforços da União Africana e das organizações regionais africanas, das Nações Unidas e de outras instituições e países em busca de soluções políticas e diplomáticas para essas crises. Vieira encerrou o discurso declarando que o Brics deve liderar pelo exemplo de cooperação para garantir paz e segurança em todo o mundo.
"O caminho para a paz não é fácil, nem linear. Mas o Brics pode e deve ser uma força para o bem, não como um bloco de confronto, mas como uma coalizão de cooperação. Devemos liderar pelo exemplo, reafirmando nossa crença em um mundo multipolar onde a segurança não é privilégio de poucos, mas um direito de todos".
BRICS
O Brics é um fórum de coordenação política e diplomática para países do Sul Global, que atua para fortalecer a cooperação econômica, política e social entre os membros, e aumentar a influência na governança internacional. O grupo busca ampliar a legitimidade, a equidade de participação e a eficiência de instituições globais como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC). O bloco também tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento social e econômico sustentável e promover a inclusão social.
O Brics é composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. O grupo ainda tem como países parceiros a Bielorrússia, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.