Praia da Barra nesta quarta (11): mancha escura surgiu no trecho no dia 14 de maioReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio – Cerca de um mês após uma mancha escura enorme surgir no mar da Praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, a Câmara Municipal do Rio promoveu, nesta quarta-feira (11), uma audiência pública externa a fim de debater soluções para a recuperação ambiental da origem do problema: as lagoas da Barra, Recreio e Jacarepaguá. 
Um dos presentes ao evento, realizado no auditório de um shopping da Barra, o vereador Carlo Caiado (PSD), presidente da Câmara, mencionou em determinado momento a necessidade de "obter uma atualização das obras de dragagem do complexo lagunar e das obras de saneamento nas áreas".
O promotor do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Alexandre Maximino, porém, afirmou que dragagens são insuficientes, já que “o esgoto vai continuar aportando para as lagoas de Camorim, Marapendi, Tijuca e Jacarepaguá”.
Uma sugestão do promotor do MPRJ foram os recursos do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam), criado, por lei, em 1986, para financiar projetos ambientais e para o desenvolvimento urbano em todo o estado.
Cauê Bielschowsky, representante do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), ressaltou que embora haja saldo remanescente, o Fecam já está com os recursos comprometidos: “É preciso diversificar a carteira de investimentos no tema ambiental, com fundos federais e internacionais para mais melhorias”.
Concessionária apresenta dados
Vencedora do bloco 2 do leilão da Cedae, há quatro anos, e responsável pela recuperação do complexo lagunar da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá, a Iguá Rio de Janeiro também enviou um representante à audiência pública. Lucas Arrosti, diretor de operações da concessionária, destacou avanços nos trabalhos, mas alertou que não há milagre: "Foram 40, 50 anos de avanço da estrutura, mas a infraestrutura de água e esgoto não acompanhou o boom na região da Barra, Recreio e Jacarepaguá. A ansiedade por uma melhora é legítima, mas não existe solução imediata”.
Com investimentos previstos acima da casa dos R$ 2 bilhões, a empresa injetou, entre 2022 e o primeiro trimestre de 2025, R$ 798,8 milhões. Uma das ações citadas por Arrosti foram os R$ 250 milhões para a revitalização do complexo de lagoas da Barra e de Jacarepaguá, que deve durar 36 meses. Até o momento, 562 mil m³ já foram dragados de um volume total de mais de 2 milhões de m³. Dentre outros benefícios, está a abertura de canais, com o aumento da troca hídrica e a melhoria no oxigênio dissolvido na água.
Mancha escura
Sobre a mancha vista na Praia da Barra em 14 de maio, Arrosti atribuiu o ocorrido a fatores naturais, como maré baixa, chuvas, ressaca e vento, e negou que se trate de uma consequência do trabalho da concessionária: "O fenômeno é recorrente e está atrelado a questões astronômicas e meteorológicas. Ele vai ocorrer, independente se é operação da Iguá".
Em entrevista recente ao DIA, Mário Moscatelli, biólogo e consultor do projeto da Iguá que também esteve na audiência desta quarta, atribuiu a mancha ao crescimento urbano, seja ordenado ou desordenado, sem o devido investimento em saneamento básico. O especialista em gestão e recuperação de ecossistemas costeiros, contudo, apontou avanços na região.
 
O biólogo Mário Moscatelli esteve na audiência pública promovida pela Câmara do Rio - Eduardo Barreto/CMRJ/Divulgação
O biólogo Mário Moscatelli esteve na audiência pública promovida pela Câmara do RioEduardo Barreto/CMRJ/Divulgação
“Desde 1999 eu tenho imagens dessa mancha. O que há de novo nos últimos anos é que conseguimos remover quase 300 toneladas de resíduos, principalmente das margens da Lagoa do Camorim. E, finalmente, após tantas promessas não cumpridas, a Lagoa da Tijuca está sendo dragada”.
Moscatelli ainda salientou que a macha pode ter se agravado, sim, devido a circunstâncias naturais, como ressaca e o fenômeno da maré de sizígia (período em que há variações extremas entre maré alta e maré baixa). "Tenho dezenas de fotos daquele trecho com o mesmo cenário durante a maré baixa de sizígia. O problema não é novo. Suas causas são históricas: crescimento urbano sem saneamento adequado”.
Para ele, a solução depende de três pilares: saneamento universalizado, dragagem das lagoas e ordenamento urbano contínuo. "Hoje vivemos uma situação inédita no sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá: recuperação e ampliação dos manguezais, dragagem e início do processo de universalização do saneamento, que nunca teve um cronograma real”, afirmou.
Ao fim da audiência pública, o vereador Diego Faro (PL), presidente Comissão de Meio Ambiente da Câmara, convocou participantes e moradores da região a enviarem dúvidas e perguntas à casa.