Mancha avistada no Canal da Joatinga, na altura do Quebra-MarArquivo/ Agência O Dia
No início de maio, uma faixa escura e espessa foi registrada saindo do Canal da Joatinga e se espalhando pela orla. O debate reacende uma questão urgente: as medidas necessárias para a recuperação ambiental das lagoas da Barra, do Recreio e de Jacarepaguá.
Quase um mês depois, moradores e frequentadores da praia ainda se perguntam o que motivou o surgimento da mancha, quais as consequências para o ecossistema e, principalmente, o que pode ser feito para evitar que o problema se repita.
"Frequento a praia da Barra, próximo ao Quebra-Mar, para praticar futevôlei há uns dois anos e confesso que não me sinto seguro para mergulhar ali. Em maio, quando a mancha surgiu, fiquei bem preocupado. Nunca tinha visto, mas colegas que moram há mais tempo disseram que, infelizmente, não é algo raro", contou Diego Santacruz, de 26 anos.
Também morador da Barra, Matheus Portella, de 24 anos, afirmou que costuma frequentar outro trecho da orla, mas que episódios recorrentes o fariam evitar certas áreas da praia. "A praia é uma das formas mais importantes de lazer no Rio. Não seria bom se a gente começasse a enfrentar problemas constantes com a qualidade da água", observa.
Em entrevista ao jornal O DIA, o biólogo Mário Moscatelli afirmou que o surgimento de manchas escuras na praia da Barra é uma consequência recorrente há pelo menos quatro décadas. Segundo ele, o problema é reflexo direto do crescimento urbano, tanto ordenado quanto desordenado, sem o devido investimento em saneamento básico.
Para ele, a solução depende de três pilares: saneamento universalizado, dragagem das lagoas e ordenamento urbano contínuo. "Hoje vivemos uma situação inédita no sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá: recuperação e ampliação dos manguezais, dragagem e início do processo de universalização do saneamento, que nunca teve um cronograma real", afirma.
Sobre a mancha registrada no dia 14 de maio, o biólogo aponta que é preciso considerar fatores naturais que podem ter agravado o quadro, como a ressaca e o fenômeno da maré de sizígia (período em que há variações extremas entre maré alta e maré baixa). "Tenho dezenas de fotos daquele trecho com o mesmo cenário durante a maré baixa de sizígia. O problema não é novo. Suas causas são históricas: crescimento urbano sem saneamento adequado", conclui.
A bióloga Stéphanie de Souza Cardim, mestre em Biodiversidade e Biologia Evolutiva pela UFRJ, reforça que o fenômeno provavelmente está relacionado ao uso inadequado do meio ambiente. "É necessário realizar uma análise bioquímica detalhada da mancha e da qualidade da água. Mas, considerando o contexto da região, é quase certo que a causa esteja ligada à poluição gerada pelos bairros do entorno: Recreio, Jacarepaguá e Barra da Tijuca", aponta.
Esses e outros pontos serão discutidos na audiência pública, que contará com a presença de vereadores, especialistas, técnicos, autoridades ambientais, representantes da concessionária Iguá, da Fundação Rio-Águas e da Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa).
O evento acontece no auditório do Shopping Città América (Avenida das Américas, 4.666 – 3º piso, Centro Médico), a partir das 9h, com transmissão ao vivo pelo canal da Rio TV Câmara no YouTube.
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