Bienal do Livro termina neste domingo (22)Gabriel Salotti / Agência O Dia
Cariocas elegem destaques da Bienal do Livro
Em dez dias, maior evento literário do Brasil apostou em 'conceito de parque', reunindo milhares de pessoas em palestras, lançamentos e outras atividades
Rio – Após dez dias, a Bienal do Livro, maior evento literário do Brasil, chega ao fim neste domingo (22), levando ao RioCentro uma multidão vinda de todas as regiões da cidade, além de municípios da Baixada e até de outros estados. O último fim de semana foi marcado pela grande movimentação nos corredores e estantes, com muitos visitantes procurando "pechinchas" em queimas de estoque. Apostando em "conceito de parque", o evento, que é tradição no calendário cultural do Rio, com programação para todas as idades e bolsos, atraiu mais de 740 mil pessoas, que levaram para casa cerca de 6,8 milhões de livros.
Logo na entrada, o painel em homenagem à "Turma da Mônica" chamou a atenção do jovem Fábio, de 5 anos, que compareceu ao evento, pela primeira vez, levado pelos seus pais, o funcionário público Fábio Alves, 38, e a jornalista Vanessa Almeida, 39. Eles vieram de São João de Meriti, Baixada Fluminense, para passarem o dia se divertindo no sábado (21).
"Vim para conhecer, trazer meu filho e ter essa primeira experiência com ele, que está superanimado, mais do que a gente. Ele tem experiência com livros desde a barriga, então ele ama, tem muitos livros, vê e quer comprar", disse Vanessa. Ela destacou a importância de incentivar a leitura às crianças. "Acho que faz toda a diferença, na formação deles, tanto acadêmica quanto cidadã."
Grandes filas nos estandes
O evento preencheu os quatro pavilhões do RioCentro, com cerca de 500 expositores, mais de 1850 autores nacionais e internacionais e palcos para apresentações. Uma das grandes inovações deste ano foi o Book Park, um "parque de diversões literário" com proposta imersiva em atrações distribuídas no evento, como a Escape Bienal, jogo em que as pessoas precisam escapar de salas baseadas em romances de detetive, e o Labirinto de Histórias, que proporcionou uma espaço interativo inspirado em contos como "Wicked" e "Alice no País das Maravilhas". A Roda-Gigante Leitura Nas Alturas, também animou o público, com cabines que reproduzem áudios personalizados relacionados a livros e quadrinhos, como "Percy Jackson" e "Turma da Mônica".
Um dos locais mais visados foi o Café Literário, espaço de palestras e debates com personalidades e especialistas de diversas áreas. No sábado, o médico Drauzio Varella e o ambientalista Ailton Krenak realizaram um debate sobre humanidade, futuro e sabedoria ancestral. O local, no entanto, não demorou para acumular uma grande fila e ficar lotado.
A estudante de direito Sara Haranny, 21, veio de Natal, Rio Grande do Norte, queria muito acompanhar a mesa redonda. "Eu estava doida para ver o Drauzio e o Krenak, gosto muito das obras deles, li quase todas deles dois, mas realmente, aparentemente, muita gente quis ver eles também", comentou, no lado de fora da sala.
Ela veio ao Rio para curtir a Bienal e a Maratona do Rio, e ressaltou a importância de exposições para promover a literatura. "Superou todas as minhas expectativas. A cidade onde eu moro não proporciona muitos momentos e eventos literários. Eu tinha idealizado estar aqui. Para mim, é uma realização", afirmou.
Ailton Krenak volta ao Café Literário neste domingo (22), às 16h, para um debate sobre o impacto das mudanças climáticas em grupos socialmente vulneráveis. A conversa também contará com as presenças da escritora e articuladora política Selma Dealdina Mbaye e o cientista Carlos Nobre, com mediação da jornalista Flavia Oliveira.
A fisioterapeuta Karina Robaina, 28, também veio de longe para curtir o evento. Ela é de Italva, Região Noroeste Fluminense, e garantiu que vem ao evento sempre que pode. "Eu estou muito surpresa, pois achei que o Brasil não estava lendo tanto quanto ele está, porque está muito cheio. Eu vim para ver o estande da Darkside, que está superlotado, e vim porque amo ler. Meu sonho é ter uma biblioteca. Eu comprei agora [o livro do] O.J. Simpson, e estou conhecendo novos autores, novos livros, não ficar presa em um tipo de livro específico."
Outro ponto de grande destaque foi o estande da HarperCollins, impulsionado pelas vendas das aclamadas franquias "O Senhor dos Anéis" e "As Crônicas de Nárnia", além de clássicos como "O Pequeno Príncipe" e obras da autora Agatha Christie (1890-1976). Os livros de colorir da artista Bobbie Goods, com desenhos de ursos e cachorros, são um fenômeno mundial e uma das obras mais concorridas do evento.
Presilhas de pato se tornam febre
Uma das maiores febres da Bienal foi a presilha com o "Pato Literário". Vendido no estande da editora Explosão Criativa, no Pavilhão 4, o acessório se tornou um sucesso, com pessoas de todas as idades pregando o pequeno objeto em suas roupas, mochilas e até cabelos. Os patos, que possuem chapéus com estilos diferentes, caíram nas graças do público.
Magnolia Mhoew, responsável pelo marketing da empresa, explicou ao DIA como surgiu a ideia e demonstrou sua surpresa pelo objeto ter se tornado um fenômeno. "A loja viu os patinhos na internet, achou legal e fizemos eventos com eles. A galera achou legal, mas na Bienal, se tornou uma febre absurda. É tipo um efeito manada, que todo mundo olha as pinças e sente necessidade de fazer parte desse movimento. É engraçado, é um acessório que você não vê em você. Você usa para ver nos outros, e eu achei isso maravilhoso. Em São Paulo foi bom, mas aqui está um absurdo. Tivemos até problema de fila, mas estamos fazendo o nosso melhor. Não esperávamos esse sucesso", explicou.
O dono da Explosão Criativa, Igor Barroso, também ficou surpreso com o número de vendas e contou sobre a origem do produto. "Os patos começaram no Brasil Game Show, em São Paulo, no ano passado. Para cada feira que a gente vai, damos uma nomenclatura aos patos combinando com o evento. No nosso caso, o pessoal que compra determinados produtos com a gente, além de ganharem o objeto, também ganham os patos. Mas viralizou tanto que o pessoal não quis comprar os produtos, e sim os patos. Então a gente começou a vender os patos", disse.
Por todos os corredores, centenas de pessoas usaram as presilhas. A servidora pública Sarah Ferreira, 28, de Itaboraí, se rendeu ao acessório. "Os patos pegaram a gente muito de surpresa. Também não sabíamos. Fomos pesquisar e o pato surgiu em um evento literário, em outro lugar, e veio como uma febre. E aí, acabou virando uma onda. Nos jogamos nessa do patinho", contou.
Encontro com artistas
A Praça de Autógrafos também registrou grandes filas ao longo dos dias de eventos. Nomes como Walcyr Carrasco, Mario Sergio Cortella, Ruy Castro, Thalita Rebouças e Lázaro Ramos marcaram presença no estande.
Raphael Montes, autor de romances como "Beleza Fatal" e "Dias Perfeitos", foi um dos destaques do espaço no sábado. Uma de suas fãs, a estudante de tecnologia da informação Giovanna Ximenes, 21, veio da Praça Seca para conseguir uma assinatura dele. "Eu já li esse livro faz um tempo, é muito bom. Ele fala sobre um grupo de colegas que se envolve em uma trama, sem querer dar spoiler. É um livro adulto, e que tem bastante reviravoltas", explicou.
Outros autores também divulgaram seus livros pelos corredores do RioCentro. O escritor Du Prazeres atendeu a fãs e comentou com o DIA sobre a sua nova obra, "Quilombo: Contos e Receitas", um livro que mistura histórias de conscientização com dicas de preparos de comidas.
"Minha família é oriunda de um quilombo, que não existe mais, em Mesquita. Minha mãe e minha vó eram cozinheiras, e eu resgatei as receitas que elas guardaram dos nossos ancestrais. Cada conto tem a ver com uma receita. São sete contos e sete receitas. Eles têm esse caráter de instrução antirracismo, e é um resgate da ancestralidade, a força e a valorização da cultura negra."
Du também esteve na última edição da Bienal para divulgar o seu livro "Antirracismo". Ele destacou a importância de promover obras e acender debates sobre o tema. "Eu sou professor, e só através da educação, você consegue botar na cabeça das pessoas para elas pensarem que todos somos iguais em busca da equidade", disse.
Patrimônio da cidade
Em 2023, quando completou 40 anos desde sua primeira edição, a Bienal do Livro foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da cidade do Rio. Segundo o decreto, o evento é "um marco literário para a cidade e um dos maiores eventos do município", além de "contar sempre com a presença de grandes autores nacionais e internacionais".
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