Rio - A Operação Abbraccio prendeu, nesta segunda-feira (30), um militar da Aeronáutica e outros quatro homens por violência contra meninas e mulheres em plataformas online. Os agentes cumpriram 32 mandados de busca e apreensão em Duque de Caxias e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e em outros sete estados e no Distrito Federal. A ação apreendeu mais de 200 mil arquivos com imagens das vítimas.
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O Departamento-Geral de Polícia de Atendimento à Mulher (DGPAM) atuou em 21 municípios do Rio e dos estados do Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Piauí, Santa Catarina, São Paulo e no Distrito Federal. Os envolvidos foram investigados por crimes de estupros virtuais, torturas, misoginia e racismo. A operação foi planejada a partir da investigação da delegacia de Caxias, quando a mãe de uma vítima procurou a especializada, em abril, relatando que imagens íntimas de sua filha estavam sendo divulgadas.
A ação ocorreu depois da prisão de um dos integrantes do grupo, no mês passado, e da perícia de cerca de 80 mil imagens, vídeos e áudios que levaram aos outros envolvidos e lideranças. De acordo com a delegada Fernanda Fernandes, da Deam de Caxias, o homem fingia um envolvimento amoroso e seduzia a vítima, que compartilhou imagens íntimas. Desde então, ela passou a ser a coagida a participar de desafios violentos na plataforma Discord. A titular apontou que esse era o modo de atuação adotado por todos os investigados.
"Essa vítima começou a recusar alguns desafios, alguns ela teve que cumprir, acreditando que não ocorreriam consequências. Mesmo tento cumprido parte dos desafios, eles criaram outro grupo para divulgar dados pessoais da vítima, da mãe da vítima, inclusive salário, profissão, tudo, e a partir dali, também, os vídeos íntimos dessa vítima com cenas do estupro virtual. Esse grupo criado posteriormente à live do Discord foi justamente para divulgação para terceiros e para os familiares dessa vítima. Foi assim que essa mãe teve conhecimento", explicou a delegada.
Nesta segunda-feira, foram cumpridos quatro mandados de prisão e houve ainda um preso em flagrante, em Goiás, pelo crime de pedofilia virtual, por exposição de conteúdo envolvendo crianças e adolescentes. Entre os presos, está o soldado da Força Aérea Brasileira (FAB), Pedro Henrique Silva Lourenço, suspeito de aliciar as vítimas. Segundo a delegada, o militar tinha participação ativa nos grupos e acabou denunciado por associação criminosa e estupro virtual.
Procurada, a Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Terceiro Comando Aéreo Regional (COMAR III), informou que tomou conhecimento e acompanha o caso, "contribuindo com as autoridades policiais para elucidação dos fatos". A nota diz também que o Comando da Aeronáutica "repudia, veementemente, as ações criminosas" e reforça que "qualquer possível envolvimento de militar de seu efetivo será devidamente apurado e as medidas administrativas e disciplinares cabíveis serão tomadas". A corporação concluiu afirmando que está à disposição para contribuir com as apurações dos órgãos policiais.
Rede criminosa virtual
Nas investigações, os agentes descobriram uma rede criminosa com dezenas de outras vítimas. Tudo era transmitido online, em plataformas como Discord, e em alguns casos, a gravação era posteriormente exposta na internet. O grupo as forçava a atos violentos ou a se mutilar com navalhas, escrevendo os nomes dos autores na própria pele. O objetivo, segundo a delegada Gabriela Von Beuvais, diretora do DGPAM, era humilhar meninas e mulheres através de violência psicológica, física e sexual, virtualmente.
"Eles se aproximavam dessas meninas e mulheres através de aplicativos de namoro, ganhavam a confiança delas e quando elas compartilhavam "nudes", começava toda a questão violência psicológica, ameaças para que elas participassem de grupos de desafios da plataforma Discord. Ali elas eram obrigadas a se mutilarem de uma forma muito cruel, escrevendo o nome dos homens em partes dos seus corpos. A gente vê que realmente era para humilhar essas mulheres e essas meninas", declarou a delegada, que fez um alerta.
"Às vezes a gente acha que o perigo está na rua, mas não, muitas vezes ele está dentro de casa, o perigo pode estar no celular. A gente quer alertar toda a sociedade, principalmente os pais de crianças e adolescentes, para que eles monitorem as redes sociais, usem de formas para bloquear, que não deixem de forma irrestrita. É necessário que os pais monitorem o que elas andam fazendo nas redes sociais, porque ali são praticados crimes cruéis".
Já a delegada da Deam de Caxias destacou que os jovens podem também ser autores. "Os pais, não só das vítimas, de crianças e adolescentes, devem monitorar as redes sociais, porque muitas das vezes o seu filho está ali na rede social, na plataforma, ou sendo vítima ou praticando ato infracional como adolescente infrator (...) Muitas das vezes os pais acham que os filhos estão seguros e não estão. Os pais têm desconhecimento dessas plataformas, como Discord, e seus filhos já estão ali com perfil, navegando. É importante que os pais monitorem, blindem as redes sociais, estejam ali presentes, porque isso pode acabar resultando na morte dessas crianças e adolescentes vítimas".
Até o momento, dez vítimas foram identificadas, com idades entre 11 e 19 anos, aproximadamente. A suspeita é de que os bandidos tenham feito dezenas de outras, já que muitas podem não ter denunciado, por terem sido ameaçadas ou constrangidas. A ação apreendeu celulares, computadores, mídias digitais e mais de 200 mil fotos e vídeos de meninas e mulheres em situações de automutilação e pornografia. O material será analisado e poderá levar a novas diligências, além de responsabilizações penais e civis.
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