Museu Nacional reabre pela primeira vez ao público sete anos após incêndio
Até 31 de agosto, visitantes poderão ter uma experiência que articula natureza, patrimônio e arte, com destaque para o meteorito Bendegó e para o esqueleto de uma baleia cachalote
Museu Nacional reabriu para exposição temporária, nesta quarta-feira (2), sete anos após incêndio - Érica Martin / Agência O Dia
Museu Nacional reabriu para exposição temporária, nesta quarta-feira (2), sete anos após incêndioÉrica Martin / Agência O Dia
Rio - O Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na Zona Norte, reabriu as portas para o público, nesta quarta-feira (2), pela primeira vez desde que um incêndio destruiu 85% do acervo, em 2018. Até 31 de agosto, visitantes poderão ter uma experiência que articula natureza, patrimônio e arte, com destaque para o meteorito Bendegó, o maior já encontrado no país, e para o esqueleto de uma baleia cachalote.
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A exposição convida o público a acessar temporariamente três ambientes internos do Paço de São Cristóvão, sede do Museu, que continua em obras. O Bendegó, pedra com cinco toneladas descoberta no ano de 1784 no sertão da Bahia, é o ponto de partida da visita. Perto dele, poderão ser encontradas obras de Gustavo Caboco, um artista visual do povo indígena wapichana.
No pátio da escadaria, visitantes encontrarão o esqueleto da cachalote, com 15,7 metros de comprimento, afixada na claraboia do edifício. O trabalho de restauração e da preparação do material biológico - como a pintura, reposição de estruturas esqueléticas, consolidação óssea, além do içamento e afixação de peças - durou cerca de dois meses.
A terceira sala é dedicada à história e à reconstrução do palácio, destacando aspectos arquitetônicos e de restauro, expondo acervos originais, como duas esculturas de mármore de Carrara, originais e réplicas de ornamentos artísticos e uma série de imagens sobre o cotidiano do trabalho na obra.
Ao DIA, o professor aposentado Armando Maia, de 73 anos, contou que se emocionou ao retornar sete anos depois do incêndio no museu.
"Quando soube que ia ter essa abertura temporária parcial, fiquei muito emocionado porque eu me lembro perfeitamente do dia em que a minha afilhada, que mora em frente à Quinta da Boa Vista, me ligou dizendo que o museu estava pegando fogo. A gente chorou junto no telefone. Lembrei que havia estado uma semana antes com os meus netos e eles ficaram encantados, na época eles tinham três e quatro anos. Poder entrar naquele museu histórico de novo, eu que morei em São Cristóvão e sempre visitei, é muito emocionante", destacou.
Armando ainda valorizou a experiência para futuras gerações. "É importante chamar atenção da sociedade que o serviço ainda não está concluído, que a gente precisa que os governos deem verbas para continuar a reconstrução. A exposição é simbólica, diz que o Museu Nacional está vivo, pulsando e em reconstrução É um museu que traz a história brasileira. Você tem que dar valor para a história do seu país, principalmente para a ciência, em um momento em que muita gente acha que isso não vale pra nada. É muito importante que as escolas vão até lá para apoiar o Museu Nacional", completou.
A reabertura do museu marcou não apenas um momento histórico para a ciência e a cultura no Brasil, mas também reacendeu memórias afetivas profundas em quem cresceu frequentando o espaço. Entre os visitantes emocionados estava a professora de inglês Flávia Perrone, que retornou ao local acompanhada da filha.
"É extremamente emocionante. Chorei muito, pisar ali mais uma vez e, dessa vez, com a minha filha do meu lado. O sentimento é de esperança que minha filha possa crescer nesse novo museu como eu cresci no antigo", afirmou.
Frequentadora assídua desde a infância, Flávia lembra com carinho da relação íntima que construiu com o espaço. "Basicamente fui criada ali, né. Meu pai mora ali perto desde que me entendo por gente. Ia todos os finais de semana ao museu. Lembro que eu costumava dar nome para as peças, principalmente as múmias", relembrou. O que mais a tocou foi reencontrar um velho conhecido: "Poder entrar ali mais uma vez, ver o meteoro que tantas vezes passei, às vezes até despercebida, hoje foi como reencontrar um velho amigo."
Para o analista e desenvolvedor de sistemas William Sant’Anna, a visita foi marcada por sentimentos ambíguos: "Meus sentimentos foram de alegria e tristeza, pois percebi que o museu não foi esquecido e, ao mesmo tempo, ver a realidade da destruição de várias exibições da nossa história", lamentou. Apesar do impacto, ele destaca a importância da reconstrução: "O fato de ele estar sendo restaurado me sugere que ainda há interesse pela cultura e conhecimento, e isso me dá esperanças pelo respeito à história."
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