Time i Awaete Assurini do Xingu e sua mulher, Carla RomanoArquivo Pessoal

Rio - O artista e pesquisador indígena Time i Awaete Assurini do Xingu, de 31 anos, presidente do Instituto Janeraka, no Pará, relatou ter sofrido racismo no restaurante Frontera, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Ele disse que foi chamado de "índio do pica-pau" e "índio de madeira" por um funcionário do estabelecimento.
Segundo Time i, o caso aconteceu no último dia 26, mas o registro da ocorrência na  delegacia foi feito na segunda-feira (30). Ele e a mulher, a produtora cultural e designer Carla Romano, estão no Rio de Janeiro para receber o Prêmio Cunhambebe Tupinambá por meio da Funai e Ministério da Cultura.
De acordo com a vítima, o casal foi almoçar no restaurante por volta das 13h. Enquanto servia Time i, um churrasqueiro o chamou de "índio do pica-pau, índio de madeira", completando que ele era "um índio chique", pois "achava que só tinha índio no mato" e que "agora o índio do pica-pau estava se alimentando, comendo bem na Barra".
"Foi muito desrespeitoso. Só faltou ele fazer 'Huuuu' para mim. Minha esposa está aborrecida, passou mal e eu também estou triste. Quando ela questionou o funcionário do restaurante sobre a fala ofensiva, ele respondeu com grosseria, perguntando 'o que ela tinha a ver com isso'. Carla respondeu a ele que 'racismo é crime e que ele deveria ter outra postura, principalmente no lugar de trabalho'", disse o pesquisador.
O churrasqueiro, segundo a vítima, disse a Carla que a bisavó dele era indígena. A produtora cultural respondeu que, por isso mesmo, o churrasqueiro deveria ter mais respeito à ancestralidade.
Após as ofensas, o casal solicitou conversar com a gerente. Ainda de acordo com a vítima, ao saber da situação, a funcionária teria dito que os dois não precisariam pagar pela refeição e receberiam uma sobremesa.
"A primeira funcionária, apresentada como gerente, inicialmente, se demonstrou empática à situação, se desculpando pelo ocorrido, oferecendo isenção dos custos da refeição e cortesia de sobremesa, além de se colocar disponível para esclarecimentos", explicou.
No entanto, Time i detalhou que um outro funcionário se identificou como gerente-geral e passou a adotar outra postura quando o casal solicitou os dados do churrasqueiro para registro da ocorrência em delegacia. Segundo o pesquisador, o gerente enviou as informações por mensagem, mas apagou o texto logo em seguida.
"Eles disseram que iam aguardar os advogados e foram mudando de ideia durante a conversa. Primeiro, forneceram alguns dados, depois apagaram tudo. Sorte que eu já tinha feito o salvamento de pelo menos parte do conteúdo, mas notadamente agiram de má fé após o contato com os advogados", afirmou Carla.
"Infelizmente estávamos sem os celulares em mãos no momento da ocorrência, já que estávamos nos servindo no buffet de almoço, o que impediu a filmagem, mas o ato foi testemunhado por outros funcionários", relatou.
Por meio de nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) investiga o caso. "Testemunhas estão sendo ouvidas e agentes realizam outras diligências para apurar os fatos", comunicou.
O DIA tenta contato com o restaurante Frontera, mas ainda não obteve sucesso. O espaço segue aberto para qualquer manifestação.