Rio - Um dia após criminosos armados terem invadido e promovido terror na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Costa Barros, Zona Norte do Rio, o equipamento de saúde segue de portas fechadas nesta quarta-feira (1º). Pacientes que estiveram nesta manhã no local se depararam com os serviços suspensos. Diante da situação, moradores fizeram um protesto pedindo pelo retorno dos atendimentos e pelo fim da violência.
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Uma viatura e um blindado da Polícia Militar reforçam a segurança na entrada da unidade, que segue sem previsão de reabertura. Na grade de acesso ao espaço, cartazes foram colados clamando pela paz. "Somos todos um só. Paz"; "Já não temos saneamento básico, sem UPA não dá"; e "Não à violência" eram algumas das mensagens expostas.
Sheila Fernandes dos Santos, uma das moradoras da região presentes no ato, manifestou preocupação com o fechamento da unidade.
"O crime está em tudo quanto é canto do nosso Rio, não só aqui em Costa Barros. Só que, nenhuma unidade é fechada. Nós precisamos da unidade. A minha irmã ontem [terça] estava aqui na UPA. Tiveram que retirar a menina e nem sempre temos dinheiro para ir em outras unidades. A UPA atende muito bem a população. Estão generalizando como se todo mundo fosse envolvido, mas todos sofrem. Fico triste não só por Costa Barros como pelo Rio todo em si", disse.
A equipe de reportagem de O DIA chegou a flagrar uma ambulância chegando na unidade. Ela encostou no portão de entrada, um dos ocupantes chamou algumas vezes, mas, como não houve resposta, o veículo foi embora.
Um morador, que não quis se identificar, externou revolta com a impossibilidade de atendimento.
"Bandido tem pai e mãe que precisam da UPA. Eu como morador antigo aqui já falei pra eles (pros bandidos). Essa é a melhor coisa que temos aqui e agora querem tirar."
Questionada nesta quarta-feira (1º) sobre a situação, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que a unidade seguirá fechada até ter condições plenas de segurança e que, inclusive, funcionários da saúde chegaram a pedir transferência, suporte psiquiátrico e psicológico.
"Devido à instabilidade e intensos tiroteios na porta da UPA Costa Barros, não há segurança para o atendimento de pacientes no local. A Secretaria Municipal de Saúde aguarda a ocupação da região pelas forças policiais, de forma permanente, e a prisão dos bandidos que invadiram a unidade e sequestraram a ambulância, funcionários e pacientes.", explicou a pasta.
A instabilidade da segurança na região também causou impactos em unidades de ensino. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), duas escolas sofreram alterações no funcionamento. O Ginásio Educacional Tecnológico (GET) Anton Makarenko ficou fechado nesta manhã.
A invasão
Nesta terça-feira (30), por volta das 5h45, bandidos invadiram o espaço e agrediram dois pacientes – um estava na Sala de Medicação, e o outro, na Vermelha. As vítimas chegaram a ser levadas do local, mas foram liberadas na sequência.
Pouco depois, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou ao DIA que os bandidos ameaçaram a equipe de profissionais e levaram pânico aos 11 pacientes internados naquele momento. Eles foram transferidos para o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, também na Zona Norte. Nesta ocasião, o secratário disse que a UPA seguiria fechada por estar "sem segurança para abrir".
Os invasores estariam em busca de homens baleados em um confronto de facções. Em retorno à reportagem de O DIA, no entanto, as forças policiais não mencionaram pacientes baleados ou retirados da UPA.
A PM informou não ter sido comunicada sobre entrada de feridos por arma de fogo na unidade, tampouco sobre a invasão de criminosos na unidade. A corporação alegou que tomou conhecimento dos fatos somente por meio da imprensa e, em seguida, reforçou o policiamento na região.
Já a Polícia Civil divulgou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) foi acionada após informação de que criminosos haviam sequestrado uma ambulância para levar um comparsa baleado à UPA de Costa Barros. O homem, porém, já chegou sem vida à unidade. A investigação segue para apurar a morte e o uso irregular do veículo.
Quanto à "suposta invasão na unidade", a corporação destacou que, até o momento, a SMS não comunicou o fato na 39ª DP (Pavuna).
Invasão ao Pedro II
A ofensiva criminosa na UPA de Costa Barros acontece pouco mais de duas semanas de um caso semelhante no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste. No último dia 18, um grupo rendeu os seguranças na garagem e se dirigiu ao centro cirúrgico em busca do paciente Lucas Fernandes de Souza, 31 anos, que estava internado após sofrer um atentado. Um dos criminosos usava colete à prova de balas da Draco.
Os bandidos permaneceram cerca de 20 minutos na unidade e não encontraram o Lucas, que já havia sido liberado e estava na enfermaria. O caso aconteceu por volta de 2h30.
Segundo investigações, Lucas tem passagem pela polícia por envolvimento com a milícia. Informações iniciais apontam que ele migrou para o tráfico, o que teria motivado o atentado.
Soranz e o secretário estadual de Segurança Pública, Victor Santos, bateram boca, por meio de entrevistas, sobre a recorrência com a qual unidades de saúde têm sido afetadas por situações de violência na capital fluminense.
“Só esse ano, 516 vezes, uma unidade de saúde precisou ser fechada por um conflito armado ou por uma questão de segurança. A situação vem aumentando numa velocidade muito grande na cidade do Rio”, observou Soranz, na ocasião.
“O secretário Soranz está mentindo. Ele é mentiroso! Isso não condiz com a verdade. Não existe esse número de ocorrências”, rebateu Santos, no mesmo dia.
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