Barricadas foram incendiadas em diversos pontos, com a fumaça tomando conta das comunidades Divulgação

Rio - Vídeos cedidos pelo governo do estado mostram cenas de guerra com policiais sendo atingidos, barricadas em chamas e criminosos fortemente armados durante a megaoperação que ocorreu nos complexos da Penha e Alemão, na Zona Norte, na terça-feira passada (28). A ação, considerada a mais letal da história do país, deixou 121 mortos, incluindo quatros policiais.
Veja o vídeo:


Nas imagens é possível ver diversos focos de barricadas em chamas, com a fumaça tomando conta de grande parte das comunidades. Além de bandidos fortemente armados, quase todos com roupas pretas e camufladas. À medida que o tiroteio avançava, eles corriam para se esconder no topo da Serra da Misericórdia.

Em outra filmagem, policiais aparecem sendo encurralados e baleados durante confronto. Ao serem atingidos, dois agentes se arrastaram pelo chão na tentativa de se proteger. Um deles foi ferido na mão e outro na barriga. Na sequência, eles pediram reforço por telefone. As imagens foram feitas por drones da corporação.

"Muro do Bope" cercou criminosos

Em entrevista coletiva na última quarta-feira (29), o comandante da PM, coronel Marcelo de Menezes, contou que os agentes formaram o "muro do Bope" - uma linha de contenção na Serra da Misericórdia - durante a megaoperação.

A incursão das tropas teve início pela área do Complexo do Alemão, com equipes da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (UPP) ocupando as localidades da Fazendinha e Nova Brasília. O 3° BPM (Méier) atuou nas áreas do Juramentinho e Flexal, enquanto o 41° BPM (Irajá) esteve nas comunidades do Trem e Ipase, na Vila da Penha. Policiais civis operaram na Vila Cruzeiro, junto com o Batalhão de Polícia de Choque (BPChq). Por fim, o Bope montou a linha de contenção na área mais alta da montanha da Serra da Misericórdia.

"Policiais incursionados nessa área, fazendo com que os marginais fossem empurrados através das nossas incursões para essa área mais alta. Isso tinha o objetivo claro de proteger a população de bem que mora naquela região. Nosso objetivo principal era garantir a integridade física das pessoas de bem. A grande maioria dos confronto e posso dizer que quase que a totalidade se deu na área de mata", explicou o coronel Menezes.

Policiais mortos em confronto

A megaoperação resultou na morte de quatro agentes de segurança, sendo dois da Polícia Civil, e os outros do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar.

Um dos PMs é o 3º sargento Heber Carvalho da Fonseca, de 39 anos, que estava na corporação há 14. Ele deixa mulher, dois filhos e um enteado. O outro é o sargento Cleiton Serafim Gonçalves, 42, atingido no abdômen, que ingressou na PM em 2008. Ele deixa mulher e uma filha.

De acordo com a corporação, ambos chegaram a ser socorridos e encaminhados ao Hospital Getúlio Vargas, mas não resistiram aos ferimentos.

Dentre os policiais civis estão Rodrigo Velloso Cabral, 35, lotado na 39ª DP (Pavuna). O agente estava na instituição há apenas dois meses. Ele deixa mulher e uma filha de 6 anos.

Já o outro agente foi identificado como Marcos Vinícius Cardoso de Carvalho, da 53ª DP (Mesquita), conhecido como Máskara. Segundo testemunhas, ele foi atingido no pescoço e também chegou a ser levado ao Getúlio Vargas, mas não resistiu.

Delegado teve perna amputada e outros agentes ficaram feridos

O delegado assistente da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) Bernardo Leal Anne Dias precisou ter uma perna amputada após ser baleado. Ele deu entrada inicialmente no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, para depois ser transferido para o Hospital Samaritano, na Barra da Tijuca, na Zona Sudoeste.

O agente foi baleado na perna e o projétil atingiu a veia femoral, o que causou uma hemorragia. Além dele, outros três policiais civis também ficaram gravemente feridos e seguem internados. Todos precisaram de doações de sangue.

Ainda na ação, outros nove policiais militares foram atingidos. Quatro já tiveram alta, mas cinco seguem se recuperando no Hospital Central da Polícia Militar, na Região Central.
Mais de 60 corpos foram retirados da mata
No dia seguinte a operação, moradores retiraram 63 corpos de uma área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde aconteceram os principais confrontos entre as forças de segurança e traficantes. Na ocasião, os cadáveres foram levaram até a Praça São Lucas, no Complexo da Penha, onde ficaram enfileirados sob uma lona até serem encaminhados ao IML.
No fim da noite de domingo (2), o Governo do Estado divulgou o perfil oficial de 115 dos 117 suspeitos mortos na megaoperação. A lista revela que mais de 95% dos identificados tinham ligação com o Comando Vermelho e 54% eram de fora do estado. Apenas dois laudos resultaram em perícias inconclusivas.
O trabalho de inteligência desenvolvido pela cúpula de Segurança Pública do estado identificou que 59 tinham mandados de prisão pendentes, pelo menos 97 apresentavam históricos criminais relevantes e, dos 17 que não apresentaram histórico criminal, 12 apresentaram indícios de participação no tráfico em suas redes sociais.

A lista mostra, ainda, que 62 mortos são naturais de outros estados - mais da metade. Até o momento, 19 do Pará, 9 do Amazonas, 12 da Bahia, 4 do Ceará, 2 da Paraíba, 1 do Maranhão, 9 de Goiás, 1 do Mato Grosso, 3 do Espírito Santo, 1 de São Paulo e 1 do Distrito Federal. O relatório indica que, no Rio de Janeiro, há chefes de organizações criminosas de 11 estados da federação, de quatro das cinco regiões do país.