Rio - A Prefeitura do Rio deu início às obras do Centro Cultural Rio-África, espaço que ajuda a consolidar a região da Pequena África, na Zona Portuária, como território de memória, identidade e resistência. Na manhã desta sexta-feira (21), as equipes começaram a demolir o muro da antiga maternidade Pró-Matre, na Avenida Venezuela. Essa é a primeira etapa do processo de construção do novo espaço.
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A demolição acontece um dia após o município anunciar importantes transformações na região da Praça XI, Catumbi, Centro e Estácio, que reforça a valorização e preservação do patrimônio e da história da cidade
De acordo com o prefeito Eduardo Paes, o projeto representa a consolidação de tudo o que foi descoberto na região a partir da implantação do Porto Maravilha.
"A grande descoberta do Cais do Valongo, a conexão com a história da diáspora africana e da formação do Rio de Janeiro. Mais de um milhão de negros escravizados chegaram por aqui, e queremos contar essa relação profunda entre a construção da cidade, a África e o povo africano. Isso faz parte de um projeto muito maior, que agora avança junto com a Praça Onze Maravilha, complementando o Porto Maravilha", explicou.
Paes contou ainda que há um acervo arqueológico encontrado durante as obras do Porto Maravilha. "A gente tem um acervo enorme que ainda está longe dos olhos da população, todo o material arqueológico que nós achamos aqui na época das obras de Porto Paraíba. Então, vamos relembrar a história do povo negro na formação da nossa cidade e transformar mais o espaço para os turistas e cariocas", disse.
Sobre o prazo para conclusão, o prefeito esclareceu que falta resolver algumas burocracias. "A ideia original era até ter um prédio, mas ele não foi aprovado em razão da gente estar muito próximo do Cais do Valongo. E aí a própria construtora Cury, dona de terreno numa negociação com a prefeitura, assumiu essa responsabilidade. A nossa ideia agora é conseguir essa licença de demolição. Ao longo do primeiro trimestre do ano que vem a gente já inicia a demolição e as obras. Só o trabalho de demolição dura uns três meses", contou.
Em relação a maternidade, o prefeito informou que não há nenhum simbolismo por trás da demolição. "Maternidade é o lugar que muita gente nasce, né? É a função de uma maternidade. Mas, a vida evolui, não há nenhum simbolismo, não há nenhum valor histórico no prédio, na maternidade, a não ser história de vida das pessoas que nasceram aqui. O ex-presidente da época, o presidente Fernando Henrique nasceu aqui, o Erasmo Carlos nasceu aqui, as quatro filhas da Mercedes nasceram aqui, mas é bom que a maioria delas está viva, algumas já foram, e vamos aqui homenagear. Mas eu acho que é muito mais simbólico a gente ter aqui contando a história da presença do povo dentro da nossa cidade", finalizou.
Já o arquiteto urbanístico Marcos Damon, responsável pelo projeto, comentou o que o público pode esperar do novo espaço.
"O projeto começa nas materialidades. Os materiais são trabalhados com esse tom mais terroso, com uma origem dos trabalhos feitos através dos escravizados, trabalhos com terra, terá também estruturas que remetem ao trabalho de metalurgia, que também foi apropriado nesse período africano. A praça, logo na chegada, é um lugar que vai acolher diversas manifestações culturais, rodas de samba, capoeira, palestra, aulas. Então, o centro cultural, além dos espaços fechados, também terá várias áreas abertas que vão permitir diversas manifestações culturais", informou.
História Pró-Matre
A Pró-Matre foi uma tradicional maternidade do Rio, situada na Avenida Venezuela, nº 153, no bairro Saúde, próximo à Praça Mauá, na Zona Portuária. Fundada em 1º de abril de 1918, a instituição foi uma associação beneficente sem fins lucrativos criada para atender gratuitamente gestantes carentes.
Entre as crianças nascidas nesta unidade, encontram-se o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (1931) e o cantor Erasmo Carlos (1941). Ao todo, foram mais de 400 mil partos em 91 anos de existência da instituição, que encerrou suas atividades no final de 2009, após grave crise financeira.
Em outubro de 2022, dois dos três prédios que abrigaram a maternidade foram arrematados, em leilão, pela Construtora Cury por cerca de R$ 6,3 milhões. O objetivo inicial é a construção de um condomínio com cerca de 400 apartamentos e lojas no andar térreo.
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