Ato em homenagem a Allane de Souza e Layse Costa aconteceu no CefetArquivo pessoal

Rio - Amigos e familiares da diretora Allane de Souza Pedrtti Mattos e da psicóloga Layse Costa Pinheiro realizaram, nesta quarta-feira (10), um ato de homenagem póstuma no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), no Maracanã, na Zona Norte. As duas, que eram funcionárias da unidade, foram mortas a tiros por João Antônio Miranda Tello Gonçalves, docente afastado do setor de pedagogia, que tirou a própria vida no episódio.
Durante o ato, João Gabriel Pinheiro, irmão de Layse, disse que a psicóloga tinha consciência das falhas de segurança na unidade e já havia reportado sobre isso, mas continuava presente no dia a dia para acolher os estudantes.
"Para vocês que tiveram o privilégio de conhecer, minha irmã era uma pessoa doce, amorosa e acolhedora. Era minha melhor amiga e melhor irmã que eu poderia ter. É uma falta e uma dor que são inesgotáveis, nada vai mudar isso. O único alento tem sido aprender sobre o impacto que nossas irmãs tiveram na vida de muita gente aqui dentro, reconhecer a história do trabalho delas e como elas impactaram nas vidas dos alunos", disse.
"As nossas irmãs sabiam e eram conscientes dos riscos envolvidos em estar aqui dentro. Elas já tinham reportado seus medos, sabiam da inadequada condição de segurança, dos riscos, mas elas estavam aqui, elas estavam presentes. Estavam aqui principalmente pelos alunos, porque nada importava mais para minha irmã do que o bem-estar, a proteção e o acolhimento aos alunos", completou João Gabriel.
Ainda no Cefet, o grupo protestou contra a retomada das atividades presenciais, que aconteceu nesta terça-feira (9), 11 dias após o ataque. Irmã da Allane, Alline Algaravia afirmou que a volta representa uma normalização do feminicídio que aconteceu no local.
"É uma desonra à memória da minha irmã as aulas e as atividades estarem retornando essa semana. É uma completa mancha na história das duas, as famílias estão muito tristes com isso. Além de ser uma desonra à memória das duas, é um jeito muito cruel de educar esses adolescentes, porque normaliza o que aconteceu aqui", lamentou.
O caso aconteceu no último dia 28. João Antônio invadiu uma das salas do Cefet, armado, e atirou contra Allane e Layse. Segundo as investigações da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), o atirador teria problemas de convivência com mulheres e não tolerava ser chefiado por elas
Após conflitos com a diretora, João foi transferido para outra unidade. Inconformado com a mudança, ele chegou a recorrer ao Ministério Público Federal (MPF) para tentar retornar ao posto original. Na mesma época, também teve problemas no novo local de trabalho, o que levou a um afastamento cautelar. Entretanto, um laudo psiquiátrico atestou que ele estava apto a regressar às atividades, novamente na unidade Maracanã.
A tradutora Andressa Gatto é amiga de infância da Allane. Ao DIA, ela ressaltou a falha de segurança no Cefet e apontou que a retomada das atividades passa a impressão de que o ataque foi um "detalhe".
"As medidas que eles tomaram não foram eficazes, não poderiam jamais ter colocado os dois na mesma unidade, não poderiam ter permitido que esse cara voltasse para o presencial, não poderiam ter permitido que ela ficasse sem uma medida protetiva... Não foi dado o devido apoio institucional a ela. Facilitaram o assassinato das duas, não tem a mínima segurança no local, viram na câmera e não fizeram nada", desabafou.
"É aquela música: 'morreu na contramão atrapalhando o tráfego'. É isso que está acontecendo, a morte delas é só um detalhe. Virou a página, é fim de ano, vão fazer festinha de fim de ano. Não faz o menor sentido. E os alunos que conheciam elas, que tinham relações com elas? Elas eram conhecidas e amadas pela comunidade. E os professores, colegas, funcionários que trabalhavam com elas? O terror que foi aquele dia. É como se tivessem normalizado. É horrível", concluiu Andressa.
Allane, de 41 anos, era chefe da Divisão de Acompanhamento e Desenvolvimento de Ensino (Diace) da instituição. Ela deixou uma filha adolescente, era torcedora apaixonada pelo Fluminense e também cantora de samba, pandeirista e compositora.
Já Layse, de 40 anos, trabalhava como psicóloga escolar na unidade desde 2014. Ela era graduada em Psicologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e desempenhava funções de apoio emocional e acompanhamento dos estudantes.