Pesquisadora da UFF estuda o avanço do garimpo de ouro na Amazônia.Divulgação
Cada professor possui uma frente. A parte do professor Roldan é voltada ao mercado internacional, porque a Amazônia brasileira pode ser enquadrada como área de alto risco de conflito, já que os metais extraídos do país vêm de áreas com violência e violações de direitos humanos. Já a frente coordenada pelo Luiz se refere ao mapeamento desses conflitos. Dito isso, a gente entra na terceira parte do projeto, que é a mais associada ao trabalho de campo. Tem muito garimpo de ouro nessa região e uma boa parte da população vive em função disso. Nós visitamos a cidade de Itaituba, que é um caso emblemático. Ela possui 100 mil habitantes, dos quais muitos dependem dessa extração porque ela gira a economia, o setor de serviços e o dinheiro que circula dentro da cidade. Simplesmente coibir o garimpo não é uma solução.
Como foi realizar esse trabalho de campo e de que forma ele ajudou na coleta de informações e reunião de material para a pesquisa?
Por se tratar de um contexto muito específico e de um mercado informal, baseado na ilegalidade, é um grande desafio obter informações oficiais e fidedignas sobre o garimpo na Amazônia. O trabalho de campo realizado em dezembro de 2022 em Santarém e Itaituba nos permitiu obter dados primários sobre a dinâmica do garimpo e entender como a região e sua economia giram em torno desta atividade. E, claro, também foi importante para compreendermos melhor o contexto e o posicionamento dos atores que compõem esta cadeia.
O projeto possui estimativa do volume de ouro movimentado pela ‘economia do garimpo’?
O volume de ouro extraído foi estimado em uma tonelada por mês. A perspectiva de quantos garimpeiros estão no Tapajós é bastante incerta. Durante as entrevistas, a estimativa era de 40 mil a 60 mil pessoas trabalhando em função do garimpo na região. Ainda que não seja possível quantificar com precisão a magnitude da economia do ouro, há algum consenso de que pelo menos 70% dos recursos movimentados em comércios, serviços e os empregos dependem direta ou indiretamente do garimpo na região.
Até o momento, qual alternativa viável para coibir o garimpo ilegal e irregular na Amazônia sem prejudicar a vida das pessoas que dependem dele para sua subsistência?
É necessário restringir a atividade garimpeira às áreas onde ela é permitida (Reserva Garimpeira do Tapajós, uma área historicamente reconhecida para este fim). Não pode haver de forma alguma garimpo em Terras Indígenas e em Unidades de Conservação em que a atividade não seja permitida – é necessária uma governança e que se faça cumprir a lei, o que não ocorre atualmente na região. Nas áreas em que o garimpo é permitido, é necessário que as permissões de lavra tenham todas as licenças necessárias, incluindo a licença ambiental e o cumprimento de condicionantes ambientais.
Com base no estudo e no contexto político atual, você acredita que a situação do garimpo na Amazônia pode mudar de que forma?
Como já está acontecendo, estamos vendo o Governo Federal priorizando e mobilizando muitos recursos e pessoal para combater a crise na terra indígena Yanomami. Há inúmeros casos de violações também nas terras dos povos Munduruku e Kayapó. Então, espero que estes outros territórios sejam priorizados em algum momento. É uma mudança brusca de direção com relação ao garimpo, pois a gestão Bolsonaro tinha abertamente um discurso pró-garimpo, marcado inclusive por esforços legislativos para flexibilizar a proteção ambiental ligada ao garimpo (PL 191), além do desmantelamento das capacidades de fiscalização dos órgãos competentes.
Como você acredita que o estudo pode impactar nessa sociedade dependente do garimpo?
Pretendemos mostrar que o garimpo tal qual acontece hoje requer grandes investimentos iniciais. Dessa forma, uma elite com capacidade financeira é quem se beneficia, enquanto os garimpeiros seguem vivendo de forma precarizada e bastante marginal, sem conseguir romper com o ciclo de pobreza que impera na região. Ao mesmo tempo, gostaríamos de mostrar que a região gira em torno da atividade e que não basta coibir o garimpo sem oferecer alternativas de emprego e renda para as pessoas que ali vivem.
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