Os alimentos ultraprocessados são atrativos, práticos e baratos.Divulgação

A Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e a Universidade de Harvard, ao visar entender mais sobre os alimentos ultraprocessados desenvolveram um estudo colaborativo, intitulado: “Ultra-Processed foods elicit higher approach motivation than unprocessed and minimally processed foods”, que mostra como os alimentos ultraprocessados despertam emoções positivas e intensas nos indivíduos, os quais são induzidos ao consumo dos mesmos em larga escala.

A pesquisa conta com a colaboração de Isabel de Paula, docente da UFF na área de nutrição e neurociências, e de Thayane Lemos, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biomédicas da UFF. A professora Isabel é membro do Laboratório de Neurofisiologia do Comportamento (Labnec), o qual desenvolve pesquisas sobre o comportamento humano, com foco nos processos emocionais e atencionais.
A professora  Isabel de Paula concentrou suas investigações na linha de pesquisa voltada para o comportamento alimentar. “A neurociência entra com a fisiologia do comportamento para entender como esses alimentos influenciam na escolha do consumidor. Nós achamos que estamos escolhendo, mas essas escolhas são moduladas por processos que nem sempre temos conhecimento. Uma das coisas que é muito importante para a escolha de um alimento em detrimento de outro são as emoções”, destacou Isabel.

O estudo interdisciplinar ressaltou que as características sensoriais dos alimentos ultraprocessados ativam o nosso sistema emocional. "Os ultraprocessados são alimentos concentrados em açúcar e gordura. Eles têm cor intensa, formato simétrico e, em muitos casos, possuem ultra crocância. Além de todos esses atrativos, que estimulam os nossos sentidos e não são encontrados nos alimentos naturais, os ultraprocessados ainda contam com ampla divulgação através do marketing", afirmou o documento no texto.

"Outro aspecto relevante é que a produção e o consumo dos ultraprocessados têm impactos negativos tanto para a natureza quanto para a saúde dos indivíduos. No primeiro caso, há a emissão de gases poluentes, o desmatamento e a produção de embalagens que geram resíduos. No segundo, esses alimentos podem desencadear uma série de problemas de saúde como obesidade, diabetes, hipertensão, câncer e doenças crônicas degenerativas", disse a UFF no texto.

O Labnec desenvolveu medidas capazes de mensurar as respostas emocionais dos indivíduos aos alimentos apresentados. Dentre as medidas, é possível citar a escala não verbal, as modificações da frequência cardíaca, os marcadores cerebrais e as modificações da eletromiografia da face. No estudo, a utilização de uma escala autoavaliativa comprovou que os alimentos ultraprocessados provocam uma reatividade emocional maior nos indivíduos.
O experimento foi conduzido com 174 graduandos de ciências da saúde da UFF. Os alunos foram expostos a 16 figuras de alimentos (oito ultraprocessados; oito naturais ou minimamente processados) e 74 fotos de outras categorias. Os participantes classificaram as imagens em uma escala, de acordo com a agradabilidade e a ativação emocional. Em seguida, os estudantes viram novamente as fotos dos alimentos e avaliaram sua intenção de consumi-los.
Os alimentos ultraprocessados receberam maiores avaliações afetivas e de intenção de consumo. As imagens de alimentos industrializados como lasanha, pizza, barra de chocolate, panetone e disco de chocolate foram classificadas como extremamente agradáveis e prazerosas. Além disso, o estudo constatou que os ultraprocessados são sensorialmente mais apetitosos. Esses produtos possuem propriedades que estimulam os diferentes sentidos: o paladar, a visão e o olfato. Por isso, esses atributos sensoriais podem fazer com que seja mais difícil resistir ao consumo desses alimentos.

"Logo, identificar e compreender essas respostas emocionais é importante para a saúde pública, uma vez que essas evidências serão usadas como base para discussão de políticas públicas na área da saúde", realçou o estudo.
A professora destacou a importância dessas evidências e quais medidas podem ser tomadas: “estamos inseridos em ambientes alimentares cheios de pistas, então uma primeira iniciativa seria restringir a disponibilidade desses alimentos ultraprocessados e oferecer alimentos in natura ou minimamente processados. É importante reduzir os ultraprocessados nos ambientes alimentares, assim como taxar esses produtos. Outra medida seria regular e restringir a propaganda para o público infantil”, concluiu Isabel de Paula.