Alcimar avalia que São João da Barra não investe em infraestrutura e as atividades econômicas regridem Foto NUPERJ/Divulgação

São João da Barra – Quem ouve falar de São João da Barra, que recebeu somente este ano mais de R$ 391.099.312,95 em royalties e participação especial referentes ao petróleo; com um orçamento estimado em R$ 600 milhões para 2024 e onde está construído o maior complexo porto-indústria privado da América Latina, imagina tratar-se de uma “oitava maravilha”.
O município de 35 mil habitantes fica na região norte do Estado do Rio de Janeiro, completou 173 anos no último dia 17, e tem o privilégio de ser foz do Rio Paraíba do Sul. No mapa do turismo fluminense, a cidade também aparece em linhas fortes; porém, administrativamente, deixa a desejar.
O dinheiro “entra com força” nos cofres do governo municipal; mas, não há transparência nem investimento compatível. A conclusão é relatada pelo economista, pesquisador e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Alcimar das Chagas Ribeiro.
Não se trata de indicativo isolado. Além de reproduzir opiniões de pessoas que moram no município, resume pauta de seminário do Núcleo de Pesquisa Econômica do Rio de Janeiro (NUPERJ) realizado na tarde de terça-feira (03), no auditório do prédio P5, na UENF; o objetivo foi apresentar o Índice de Dinâmica Local (INDEL); São João da Barra aparece na última colocação.
Coordenador do NUPERJ, Alcimar explica que o INDEL utiliza variáveis diferentes das comumente utilizadas pelos índices que medem o desenvolvimento econômico, como o PIB (Produto Interno Bruto), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre outros, cuja intenção é medir a dinâmica econômica local de cada município.
“Nosso Índice não tem a pretensão de investigar o desenvolvimento econômico nos municípios e sim a dinâmica econômica”, diz o economista pontuando: “Até porque, entendemos que, antes de se pensar no desenvolvimento econômico, temos que pensar exatamente nessa dinâmica”.
A realidade é analisada de forma ilustrada por Alcimar: “Quando olhamos para os indicadores econômicos dos municípios da nossa região, corremos o risco de ter uma visão muito diferente do que realmente ocorre naquele sistema econômico local”. O caso de São João da Barra é um dos exemplos citados por ele.
APARÊNCIA ENGANA - “Se olharmos o PIB per capita, podemos comparar estes municípios com algumas capitais da Europa; e a gente sabe que isso não representa a realidade”. O economista ressalta que a escolha da variável ‘histórico de emprego e renda no comércio’ sanjoanense é mais adequada do que o histórico geral de empregos.
“Isto porque, grandes empreendimentos, como o Porto do Açu, por exemplo, contratam, em sua maioria, profissionais de fora do município; já os empregos no comércio são quase todos preenchidos pela população local”, assinala o professor resumindo que São João da Barra não investe em infraestrutura, as atividades econômicas regridem e há anos não atrai novas empresas.
De acordo com Alcimar, o índice criado pelo NUPERJ permite corrigir distorções, dando uma ideia mais clara da situação econômica de cada município: “São João da Barra, com grande orçamento apresenta baixa produtividade econômica e não prima pela transparência.
O Dia ouviu o secretário de Comunicação (Secom) do governo, que argumenta, através de mensagem pelo WhatsApp, que o município retomou seus investimentos após o grave período de pandemia de Covid-19.
“Hoje temos 40 obras em andamento no município e dezenas de outras em fase de licitação; temos investido cada vez mais em transparência, inclusive disponibilizando todas as informações exigidas pela lei em nosso site”, conclui o secretário.