
Rio - De volta aos palcos cariocas até 25 de fevereiro, no Teatro Grandes Atores, na Barra,a peça 'Os Monólogos da Vagina', de Eve Ensler, com direção e adaptação de Miguel Falabella, propõe uma reflexão sobre a relação da mulher com sua sexualidade, com humor e sem preconceitos. No elenco, Adriana Lessa, Cacau Melo e Maximiliana Reis.
ODIA: Esse texto comemora 17 anos de sucesso. O que mudou sobre a sexualidade feminina nos últimos anos?
ADRIANA: Atualmente, fala-se mais abertamente sobre a sexualidade, mas muitas mulheres ainda tem dificuldade em falar sobre o assunto. Importante chamar a atenção para que saibam que o corpo e a sexualidade feminina pertencem à própria mulher, às suas escolhas e não às violência e abusos masculinos.
E como percebem a relação da mulher com sua sexualidade hoje?
Cacau: É inegável que a mulher lida muito melhor com a sua sexualidade. Mas isso não quer dizer que tudo esteja resolvido. Não mesmo. Foram séculos e séculos de opressão, abusos, de escuridão. Estamos vivendo um momento muito especial, onde a mulher está tomando as rédeas de sua vida, sua voz. Acredito que as gerações mais novas, nascerão e crescerão num outro mundo. Saberão qual o seu espaço, serão muito mais empoderadas, autoconfiantes. Mas para isso, precisamos continuar fazendo a nossa parte, preparando o terreno, lutando para quebrar todos os paradigmas de uma sociedade extremamente machista, preconceituosa.
Vocês interpretam depoimentos de mulheres reais (a autora colheu mais de 200 depoimentos de mulheres em todo o mundo). Isso gera maior identificação do público?
Maximiliana: São 12 quadros com várias situações completamente diferentes uma das outras. O público feminino vai se identificando com aquelas histórias desde a primeira menstruação, até se sentir valorizada e desejada através do olhar do homem. E os homens passam a entender melhor nosso universo e se sentem incluídos dentro desses relatos.
Cada atriz vive nove personagens. Como é a experiência?
M: Quando assisti esse espetáculo pela primeira vez fiquei encantada com a proposta. É um grande exercício para nós, e é um desafio diário com cada platéia. Grandes atrizes passaram por estes personagens (Zezé Polessa, Cláudia Rodrigues, Cissa Guimarães, entre outras). E tenho certeza que muitas ainda desejam estar em nossos lugares (risos).
Alguma história sua poderia estar no espetáculo?
C: Algumas, inclusive (risos).Durante a minha vida tive que aprender a cuidar de mim, a me defender. Na verdade, acho que toda menina passa por isso de alguma forma.Aprende a proteger sua energia, seu coração, sua integridade física. Isso me fez ser um pouco impetuosa, ir em busca daquilo que quero, me colocar e algumas vezes me impôr mesmo. Tenho uma certa fama de braba(risos). Por isso, por algumas vezes, tive problemas em relacionamentos. Certa vez, durante uma discussão, um ex-namorado gritou que eu queria ter o pau maior que o dele (risos). Ali entendi que aquele relacionamento jamais poderia ir adiante. Recentemente me envolvi com uma pessoa que me disse: "Talvez se você ficasse quietinha na sua, eu estivesse louco atrás de você". Respondi que não era uma princesa de contos de fada esperando passiva, o príncipe encantado ir resgata-la. Muitos homens se encantam por mulheres fortes, sua luz, sexo, postura, mas poucos são capazes de lidar com isso em um relacionamento. Mulheres muito seguras de si, são para muitos, uma ameaça.
Pode ser considerado um espetáculo feminista? Se considera feminista ?
C: Me descobri feminista nos últimos anos e tenho me tornado cada dia mais. Tenho me informado, participado de debates, visto filmes, tudo que diz respeito à cura de feminino, espiritual e socialmente falando. E também considero o espetáculo feminista, já que ele nasceu da indignação da autora, quando numa conversa com um grupo de amigas, percebeu que todas, inclusive ela própria, tinha sofrido algum tipo de abuso. Essa foi a gota d'água para que ela, enquanto jornalista e mulher, quisesse fazer algo para mudar esse triste quadro. A partir daí Eve saiu a campo entrevistando tantas mulheres quanto pôde, de idades, culturas e idiomas diferentes, buscando compreender o que nos fazia tão distantes, mas ao mesmo tempo tão próximas. O texto nasceu das nossas dores, alegrias, mistérios, histórias.
O que o público pode esperar desta montagem do 'Monólogos'?
M: Fizemos algumas atualizações, porém preservando a direção original de Miguel Falabella, para ganhar mais ritmo e dinâmica cênica. O público tem saído do teatro querendo retornar com mais amigos e familiares. É um espetáculo pra se ver várias vezes. O público se identifica, emociona e morre de rir do começo ao fim.