Em pouco mais de duas horas, registros de velocidades entre 175 e 188 km/h. Não se trata de uma competição de Fórmula 1, mas apenas uma blitz de rotina da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Rodovia Presidente Dutra, entre Porto Real e Volta Redonda, no Sul Fluminense, no dia 26 de janeiro. O limite nesse trecho, com extensão de 39 quilômetros, varia de 80 a 110 km/h. Ao todo, 226 veículos foram autuados por excesso de velocidade naquele dia.
De acordo com agentes da PRF, abusos idênticos são registrados diariamente nas principais estradas do estado. E, segundo especialistas, o absurdo não se limita apenas às vias federais, mas também às de responsabilidade do estado e dos municípios. De acordo com estatísticas do Detran-RJ, infrações por excesso de velocidade encabeçam, há três anos, a lista das 10 maiores incidências das mais de 8,7 milhões de multas emitidas no Rio entre 2015 e 2017.
"A imprudência e a certeza da impunidade continuam sendo os principais combustíveis que geram mortos e feridos nas rodovias", lamentou o diretor Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Dirceu Alves Júnior.
A preocupação não é para menos. As altas velocidades nas malhas rodoviárias mais movimentadas do estado fluminense continuam sendo as principais causas de morte nas estatísticas.
As rodovias da União, mais extensas e de melhor conservação, são também as mais perigosas. Nelas, em janeiro, ocorreram 13 mortes, em decorrência de 363 acidentes, que também deixaram 300 feridos. Em 2017, 342 pessoas perderam a vida quase uma por dia em 5.955 acidentes.
"Tudo isso é fruto da falta de reeducação geral no trânsito e da conivência das autoridades, que não investem em campanhas de prevenção perenes. As propagandas que alertam para a carnificina que nossas estradas se transformaram, aparecem apenas pontualmente, antes de alguma data especial, como Carnaval ou Ano Novo", explicou o engenheiro Fernando Diniz, fundador da ONG Trânsito Amigo, da qual é presidente. Em 2003, ele perdeu o filho Fabrício, de 20 anos, em um acidente.
No dia 26 de janeiro, durante a blitz, os agentes da PRF foram surpreendidos diversas vezes. Eles flagraram, por exemplo, um Fiat Bravo a 186 km/h, na Via Dutra, na altura de Porto Real; um Passat a 183 km/h, na mesma região, e uma moto BMW a 175 km/h, próximo à Barra Mansa.
Na Rodovia Washington Luís, altura de Petrópolis, na Região Serrana, em um dia, 140 motos foram autuadas pelos radares da PRF, uma delas estava a 188 km/h. De acordo com os agentes, tratava-se de um 'pega'. Algumas motos tinham placas descaracterizadas, cobertas com adesivo, para despistar a fiscalização. Em dezembro, no mesmo trecho, uma moto foi flagrada a 191 km/h, 73% a mais do que a velocidade permitida na via, que é de 110 km/h.
"Estudos comprovam que uma colisão a 65 Km/h, os passageiros sofrem um impacto equivalente a 820 Kg. A 188 km/h, esse mesmo impacto vai a 2,5 toneladas", advertiu Dirceu, ressaltando ainda que pesquisas europeias mostram que uma colisão a 64 km/h, resulta na morte de 85% das vítimas.
Flagrante de velocidade 50% superior à permitida, resulta em infração gravíssima, multa de R$ 880,41 e suspensão do direito de dirigir. O Detran não informou quantos motoristas tiveram as carteiras de habilitação suspensas por esse motivo.