Caracas - Pacientes e ONGs protestaram nesta quinta-feira para denunciar a "sentença de morte" dada a cerca de 300.000 doentes crônicos na Venezuela devido à grave escassez de medicamentos, que chega a 95%. Cerca de 200 pessoas, entre trasplantados renais, hemofílicos, pessoas com câncer e afetados por outras doenças crônicas, se manifestaram na praça Alfredo Sadel de Caracas com cartazes nos que se lia "Não queremos morrer", "Venezuela agoniza" e "Sem remédios, morro".
"Necessitamos ação imediata, não podemos aguentar mais, estão nos condenando à morte", denunciou Francisco Valencia, transplantado renal que dirige a ONG Codevida. Segundo ele, o panorama é extremamente grave e atinge 16.000 pacientes dependentes de diálise, 75.000 com HIV, 20.000 com câncer e 5.000 hemofílicos.
Ainda de acordo com Valencia, ao menos dez transplantados já morreram nos últimos dias por falta de imunossupressores, medicamentos, usados para evitar a rejeição do órgão transplantado. Além disso, outras cinco pessoas também morreram recentemente por falta de material para diálise, segundo familiares e ONGs.
"Isto é uma condenação à morte sem ter cometido nenhum delito", disse Yolimar Sánchez, de 59 anos, que há oito anos recebeu um rim de sua irmã e agora pode perdê-lo porque não consegue o tratamento completo. Miguel Alvarado, de 36 anos, percorreu cerca de 174 km de sua cidade até Caracas para se unir ao protesto. Segundo ele, os poucos remédios que se consegue são insuficientes: "Uma caixa de remédios custa seis milhões de bolívares e dura 15 dias", lamentou o venezuelano, que recebeu um rim da sua mãe há sete anos.
O salário mínimo na Venezuela é 798.510 bolívares (cerca de três dólares no mercado negro), de modo que seria necessário o equivalente a sete salários para comprar a caixa de remédios. Várias ONGs propuseram ao governo que aceite cooperação internacional da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS), sem sucesso.
O presidente Nicolás Maduro lançou no final de janeiro um "plano de saúde ancestral" para tratar doenças com ervas e produtos naturais.
Em 30 de janeiro, aprovou 12,3 milhões de euros para adquirir "medicamentos hemoderivados, insumos para bancos de sangue" e para máquinas de diálise.