Por rafael.souza

São Paulo - Um vídeo, gravado informalmente por um suposto policial militar, mostra o garoto de 11 anos que que estava junto com Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira, de 10 anos, morto por um PM depois de ter roubado um carro em um condomínio na região do Morumbi, em São Paulo, na última quinta-feira contando o que teria acontecido -- entre o roubo e a troca de tiros. A conversa aconteceu após a suposta troca de tiros entre as crianças e os PMs e sem o acompanhamento do advogado da vítima.

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Na gravação, cujo áudio tem também sons de comunicação por rádio como os da PM, o menino disse que seu companheiro deu três tiros durante a fuga e deu alguns detalhes de como teria sido a ação. O vídeo aparenta ter ocorrido logo após a morte, no local onde foi a troca de tiros sustentada pela polícia e mostra apenas um pedaço do rosto do menino, além de luzes vermelhas.

Criança chegando á delegacia após comparsa%2C de 10 anos%2C ser morto pela PMReprodução / TV Globo

“Ele me chamou para roubar um prédio. Aí eu fui. Ele estava com arma. Aí ele falou para mim, ‘vou matar os moradores para dormir no prédio’”, afirmou o menino. “Ele viu o carro aberto, aí ele pegou e dirigiu. Aí ele atirou nos polícias. Ele deu três tiros”, disse, ao ser questionado se Ítalo pretendia roubar um carro – na quinta-feira, após invadirem o edifício eles pegaram um utilitário esportivo que estava com a chave no contato. Segundo a Polícia Civil, a moradora teria voltado para casa pegar algo que havia esquecido, por isso o deixou aberto.  

Ao ser questionado se teria ficado com medo, o garoto confirmou. “Fiquei. Eu fiquei falando ‘para, para’. Ele falou, ‘tô dando fuga’”, disse o menino. que afirmou já ter sido chamado pelo parceiro para outros roubos e que o conhece da rua. “Ele tava dando tiro, eu estava com medo”, contou ao policial.

Ao ser indagado sobre onde Ítalo havia conseguido a arma -- que teria sido roubada no ano passado em um assalto em Jundiaí, no interior paulista -- o menino foi enfático: “Ele disse que roubou. Falei vamos embora. Ele disse que ‘se você não for comigo vou te matar’, ele falou para mim. Eu fiquei com medo.”

O garoto também disse que a avó do companheiro não queria mais morar com ele, porque ele vivia roubando. Por fim, com duração de cerca de três minutos, conforme o vídeo, o policial trava um diálogo com o garoto, o induzindo a responder que não iria mais entrar no mundo do crime. “Todo mundo te tratou bem depois? Agora você está protegido?”, questionou o policial para ouvir “tô.” E o PM continuou. “Você nunca mais vai sair para roubar com um amigo seu, né? Você não quer, né?”. E ouviu: “Só quero estudar”.

“Você quer estudar e virar jogador de futebol. Aí, sim, parabéns. Não faz mais isso não, porque é muito feio. Você viu seu amigo lá, ele se machucou. Obrigado por ter ajudado a gente, obrigado por ter falado tudo. E não fica com medo, não. É para falar a verdade, não pode mentir. Fica com Deus”, diz uma voz masculina que seria a de um policial. 

Depoimentos 

O menino de 11 anos deu dois depoimentos oficiais à Polícia Civil. No primeiro, que seria este que aparece no vídeo, confirmou que Ítalo teria atirado três vezes. O menor falou sem a presença dos responsáveis e de um advogado, o que é condenado pelos direitos humanos.

Mas, à noite, negou o terceiro tiro, que teria provocado o revide quando um policial saltou de sua moto ao abordar o carro batido. No enterro de Ítalo,  parentes do menino negaram que ele tinha uma arma. A família contestou a versão da PM, apesar de o revólver calibre 38 ter sido encontrado no veículo furtado. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública disse que vai incluir o vídeo ao inquérito.

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