Por luana.benedito

Brasília - Pressionado por denúncias surgidas das delações dos executivos da Odebrecht reveladas na semana passada, o presidente Michel Temer reconheceu ontem, em reunião com deputados, que existe uma “situação delicada”. Sem se referir diretamente às investigações da Lava Jato, Temer disse que “não podemos nos acoelhar” e acrescentou, mostrando-se incomodado: “Eu tenho resistido o quanto posso”.

Temer já havia reagido, na noite de segunda-feira. à acusação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha de que ele, quando era candidato a vice-presidente, em 2010, teria agendado a reunião com um executivo da Odebrecht na qual os dois estiveram presentes e foi acertado repasse de recursos de cerca de US$ 40 milhões ao PMDB, a título de propina.

Michel Temer fala aos deputados%3A ‘Eu tenho resistido o quanto posso’Marcos Corrêa / PR

“Esse foi uma das dezenas de empresários que foram levados à minha presença. Aliás, eu só soube o nome dele agora. Eu confesso que nunca me preocupei em saber o nome dele e não sabia, efetivamente, o seu nome", disse Temer, em entrevista ao SBT. Cunha, da prisão, contou versão bem diferente. Segundo ele, a reunião foi agendada com Temer e ele foi convidado a participar na hora.

Segundo o delator João Faria, a reunião foi marcada com a cúpula do PMDB para que ele, como presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, “abençoasse” o pagamento de 5% do valor de um contrato da área internacional da Petrobras ( PAC SMS, no valor de US$ 825 milhões). O percentual já tinha sido acertado por seus subalternos com representantes do partido. No encontro, sem falar em valores, o executivo confirmou o “compromisso”. “Vamos contribuir com o que o deputado falou”, teria dito Faria, segundo o relato de sua delação.

Temer não tornou-se alvo de inquérito porque não pode ser responsabilizado, enquanto for presidente, por atos cometidos antes de sua gestão.
Quando Cunha, já preso, convocou Temer para ser sua testemunha, dirigiu questões sobre a reunião com a Odebrecht no escritório do então candidato a vice. A questão foi vista na época como uma espécie de ameaça.

Palocci mais perto de delação

Por unanimidade, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu ontem manter preso o ex-ministro Antonio Palocci. Conhecido como ‘Italiano’ na planilha da Odebrecht, Palocci, que foi ministro da Fazenda no governo Lula e da Casa Civil durante a gestão Dilma Rousseff, é acusado de ser um dos principais negociadores de propinas da Odebrecht. Os valores envolvidos, segundo os delatores, teriam atingido R$ 128 milhões — parte desse valor teria sido destinado para despesas da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010. 

Preso desde setembro do ano passado, Palocci, que é réu por corrupção e lavagem de dinheiro, estaria avaliando negociar um acordo de delação premiada. A sentença definitiva do ex-ministro é esperada para as próximas semanas.

Marqueteiro confessa Caixa 2

João Santana, marqueteiro das campanhas presidenciais de Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014), disse ontem ao juiz Sérgio Moro que foi “cúmplice de um sistema eleitoral corrupto”. “Eu assumo toda a minha responsabilidade”, declarou, em audiência do processo que responde na Lava Jato. Ele disse que se adaptou ao “senso comum do Caixa 2”.

João Santana disse ainda que “é o momento de os próprios marqueteiros abrirem os olhos sobre isso, e da Justiça também”.
Santana e a mulher, Mônica Moura, celebraram acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato e terá as penas de suas eventuais condenações reduzidas. 

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