Brasília - O deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) aceitou propina de R$ 15 milhões para resolver pendências da J&F, holding que controla a JBS, no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), conforme pedido de inquérito enviado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em conversa gravada, o empresário Joesley Batista, acionista do grupo, promete dar ao congressista 5% de um lucro anual de R$ 300 milhões que obteria ao resolver o imbróglio no órgão. "Tudo bem, tudo bem", respondeu imediatamente o peemedebista.
Rocha Loures conversou com Joesley em 13 e 16 de março, depois de ter sido indicado pelo presidente Michel Temer como seu interlocutor, no dia 7 do mesmo mês. A J&F controla a Empresa Produtora de Energia, de Cuiabá, que consome gás proveniente da Bolívia. Porém, é obrigada a comprar o produto da Petrobras, a preço bem mais alto que o praticado pelos bolivianos. O interesse de Joesley era o de adquiri-lo diretamente do país vizinho ao preço de custo da estatal brasileira, o que lhe garantiria uma economia diária de cerca de R$ 1 milhão.
Durante a conversa, o deputado se compromete a resolver a questão e tenta ligar, sem sucesso, para o superintendente do Cade, Eduardo Frade. Em seguida, consegue falar com o presidente em exercício do órgão, Gilvandro Araújo, explica a questão e avisa ao empresário que ele havia "entendido o recado". A proposta de propina para solucionar a questão veio logo depois, conforme o documento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
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Nos diálogos, o empresário diz ao deputado também que há algumas "posições-chave" no Cade e outros órgãos, como Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Receita Federal e na Procuradoria da Fazenda Nacional, nos quais precisa de pessoas capazes de resolver seus problemas.
Janot salienta que o deputado se compromete a levar algumas indicações para esses órgãos ao presidente. "Eu só preciso é resolver meus problemas. Se resolverem, eu nem...", afirma Joesley. "O importante é que resolva", retruca Rocha Loures. "Resolve o problema, aê resolve, então pronto", emenda o empresário.