Brasília - Responsável pela delação que está levando caciques da política nacional para o abatedouro, a JBS já foi o filé mignon dos doadores de campanha. A maior exportadora de carne bovina do mundo, dona da marca Friboi, doou, oficialmente, mais de R$ 300 milhões a candidatos e partidos nas eleições de 2014, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“É muito dinheiro, principalmente quando comparado com a segunda colocada”, avalia o cientista político Lier Pires Ferreira, professor do Ibmec/RJ. A diferença é abissal. Depois da JBS quem mais contribuiu com as campanhas foram as construtoras Andrade Gutierrez, com R$ 10.4 milhões, Queiroz Galvão, R$8.8milhões, OAS R$7 milhões e UTC Engenharia, com R$6.8 milhões. “Só o que a JBS doou à campanha da Dilma (R$73,3 milhões), supera a doação de todas as construtoras (R$33.091.449,00)”, destaca o professor.
Segundo Ferreira, as doações registradas no TSE não correspondem à realidade. “Falta a Odebrecht com seu departamento de propinas”. Entre 2008 e 2014, a empreiteira fez pelo menos 645 contribuições ilegais a políticos, no valor de R$ 246 milhões, bem menos do que a JBS declarou em 2014.
O cientista político destaca que está mais do que claro que a JBS doava em busca de vantagens. “É um aliciamento das forças políticas”, lamenta. Segundo ele, o que chama a atenção é que, na delação, a JBS aponta muitas doações de boa vontade.
“Desinteressadamente, mas se lá na frente acontecer algo que necessite a intervenção do parlamentar, ele seria suscetível a atender. Isso mostra o quanto nosso processo político é fisiológico”.
As doações da JBS para políticos, em 2014, obedeceram a seguinte ordem: R$ 112 milhões para candidatos à presidência, R$ 82 milhões para o governo dos estados e R$ 22 milhões para o Senado Federal. Para candidatos a deputados federais, a JBS distribuiu R$ 53 milhões a 176 parlamentares, segundo pesquisa da FGV. Hoje, pela lei, as doações são limitadas a R$20 milhões por partido.
“Mesmo assim interfere na manifestação livre da vontade do povo”, reclama o professor, salientando que boa parte da verba é utilizado em campanhas de marketing mirabolantes que acabam induzindo o eleitor. “O elemento econômico interfere e ninguém doa se não tiver quiser retorno, seja através de políticas ou concorrências públicas”, resume Ferreira.
Um acordo vantajoso
O acordo de colaboração premiada entre o Ministério Público Federal e os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo J&F, holding que controla a JBS, é tão escandaloso quanto as revelações dos empresários sobre o mau cheiro dos bastidores da política nacional. O acordo prevê imunidade completa e continuidade no comando das empresas.
Os irmãos Batista não serão denunciados criminalmente e pagarão multa de R$ 220 milhões, bem menos do que doaram, seja declarando ou por baixo dos panos, aos políticos. Apesar de toda a benevolência do MPF com os delatores, os irmãos Batista aproveitaram as tratativas com os procuradores para lucrar. Prevendo a tempestade política e financeira que viriam com as revelações, compraram, às vésperas do vazamento da delação, cerca de US$ 1 bilhão. E, em seguida, venderam cerca de R$ 300 milhões em ações da própria JBS.
No dia em que a fita entre Joesley e o presidente Michel Temer tornou-se pública, as ações da JBS desvalorizaram 10%, perda em torno de R$2,5 bilhões. Durante gestão petista, a JBS tornou-se a maior companhia de proteína animal do mundo. Em 10 anos, o faturamento do grupo passou de R$ 4,3 bilhões para R$ 170 bilhões.
Onde foi parar o dinheiro da JBS
Doações para presidente
- Dilma - R$73.378.042
- Aécio - R$30.440.942
- Marina Silva - R$4.596.728
- Eduardo Campos - R$3.576.056
Doações para governador
- PT - R$ 24.000.399
- PSDB - R$ 19.535.601
- PMDB - R$ 19.285.383
- PSD - R$ 11.328.739
- PSB - R$ 3.175.832