Por rodrigo.sampaio

Brasília - O presidente Michel Temer disse que foi vítima de uma "armadilha" montada em várias frentes, com o aval da Procuradoria-Geral da República (PGR), para desestabilizar o governo. Em conversa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e também com o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), na noite de segunda-feira, Temer pediu apoio do partido para a votação das reformas trabalhista e da Previdência e disse não ter dúvidas de que provará sua inocência no Supremo Tribunal Federal (STF).

"Eu não renuncio sob nenhuma hipótese", repetiu o presidente aos tucanos, dando a entender que a batalha pode ser longa, até mesmo na Justiça. No diálogo, Temer usou várias vezes a palavra "armadilha" e disse que o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) - flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil - acabou caindo na "cilada" planejada pelos delatores da JBS.

Apesar de estar sob pressão, Michel Temer deu indícios de que não irá renunciar à presidência do BrasilValter Campanato/Agência Brasil

Os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, também participaram do encontro, em um hotel da capital paulista.

Apesar da pressão das bases tucanas e da bancada da sigla na Câmara dos Deputados pelo desembarque do PSDB do governo, o apelo do presidente surtiu um resultado imediato favorável ao Palácio do Planalto, que tenta emplacar a narrativa de que o pior já passou.

Durante o Fórum de Investimento Brasil 2017, evento com empresários que ocorreu ontem no mesmo hotel da reunião de cúpula, os principais quadros do partido aproveitaram as câmeras para fazer discursos solidários a Temer.

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, foi o mais enfático diante dos microfones. Ele declarou em discurso que o governo está fazendo "profundas e audaciosas" reformas. Temer foi chamado de "reformista" e Nunes afirmou "ter certeza" de que o peemedebista entregará ao seu sucessor em 1.º de janeiro de 2019 "um Brasil muito melhor".

Colega de Nunes na Esplanada dos Ministérios, Imbassahy seguiu a mesma linha. "A posição (do PSDB) permanece inalterada: é a posição que o Tasso havia anunciado de apoio ao governo, às reformas e na expectativa de algo que possa melhorar a situação", disse o ministro ao chegar para abertura do fórum.

Julgamento

Questionado sobre como ficaria a situação se o julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcado para começar no dia 6 de junho, resultar em cassação de Temer, Imbassahy evitou opinar. "Aí, é especular."

Já Temer "garantiu" que o Brasil vai chegar ao fim de 2018 "com a casa em ordem". Ao falar da crise política atual, o peemedebista disse que vai ficar até o fim de seu mandato, destacou que tem confiança no bom funcionamento das instituições e que é preciso respeitar o que estabelece a Constituição.

Nos bastidores, porém, auxiliares do presidente Temer não escondem o receio de uma delação de Rocha Loures e do possível desembarque do PSDB. Não sem motivo: até agora, o PSDB mantém a posição de "compasso de espera".

Otimismo

Moreira Franco, que esteve na reunião com os tucanos anteontem, disse acreditar que o PSDB continua "firme" no governo Temer. "Foi uma conversa boa e proveitosa, capaz de garantir, a eles e nós, que as reformas passarão", disse ao Estado.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência definiu os assuntos ali tratados como "caminhos para o futuro".

A portas fechadas, Temer afirmou que o pedido de abertura de inquérito apresentado contra ele no Supremo pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está "cheio de falhas". Ele contou aos aliados que, além de seu advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, vários juristas já analisaram o caso e emitiram a mesma opinião sobre a debilidade das acusações de Janot.

Fernando Henrique observou, porém, que o PSDB tem feito um monitoramento rigoroso da crise, com todas as atenções voltadas para não deixar a economia degringolar. Ele não garantiu, no entanto, apoio incondicional ao governo Temer. A próxima reunião da bancada tucana será o termômetro da adesão ao Planalto.

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