Por karilayn.areias

Rio - O doleiro Lúcio Funaro se comprometeu, em acordo de colaboração premiada, a pagar uma multa R$ 45 milhões e a cumprir dois anos de prisão em regime fechado. A pena ao todo tem 30 anos e deverá ser cumprida uma parte em prisão domiciliar, uma parte por meio da prestação de serviços à comunidade e outro período com a realização de estudos; essas atividades poderão reduzir ainda mais a pena.

Lúcio FunaroReprodução

O corretor Lúcio Funaro disse em sua delação premiada que o presidente da República, Michel Temer (PMDB), dividiu com Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), ex-homem forte de seu governo, propina da Odebrecht. Nos anexos de sua colaboração, já homologada pelo Supremo Tribunal Federal, ele afirmou ter buscado R$ 1 milhão em espécie, supostamente pagos pela empreiteira, no escritório do advogado e ex-deputado José Yunes, amigo de Temer. Relatou também ter mandado a quantia para Geddel, na Bahia.

Essas declarações condizem com a versão apresentada pelo ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Mello Filho em sua delação. Ele relatou ter negociado com Temer e seus aliados, entre eles o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), doações de caixa dois para campanhas em 2014, no total de R$ 10 milhões. Parte desse valor teria sido distribuída por meio de Yunes, apontado como um dos "operadores" do presidente.

Nesta sexta-feira, foi divulgado pela Folha de S. Paulo vídeo do depoimento de Lúcio Funaro, prestado à Procuradoria-Geral da República durante o procedimento de delação premiada, em que o operador financeiro afirmou que era "lógico" que o ex-assessor especial do presidente Michel Temer José Yunes sabia que havia entregue a ele uma caixa com dinheiro em setembro de 2014.

"Ele (Yunes) tinha certeza que era dinheiro, ele sabia que era dinheiro, tanto que ele perguntou se meu carro estava na garagem, porque ele não queria que eu corresse risco de sair com a caixa para a rua. E até pelo próprio peso da caixa, para um volume de R$ 1 milhão, é uma caixa bem pesada", afirmou Funaro em declaração feita ao Ministério Público Federal no dia 23 de agosto.

A revelação do caso, no fim de 2016, em meio às delações da Odebrecht, levou à saída de Yunes do Palácio do Planalto em dezembro do ano passado. Na versão do ex-assessor de Temer, no entanto, ele diz ter sido "mula involuntário" do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e que não tinha conhecimento do conteúdo do que estava entregando a Funaro. 

Advogado de Temer classifica vazamento de depoimento como 'criminoso' 

Em nota divulgada neste sábado, 14, o advogado do presidente Michel Temer, Eduardo Pizarro Carnelós, atacou o vazamento "criminoso" dos vídeos com depoimentos do operador financeiro Lúcio Funaro ao Ministério Público. Ele classificou a divulgação da fala do delator como "mais um abjeto golpe ao Estado Democrático de Direito".

Para o advogado, o vazamento teve o "claro propósito de causar estardalhaço" e constranger os parlamentares da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, que votarão na próxima quarta-feira o "bem fundamentado" parecer do deputado Bonifácio Andrada (PMDB-MG) sobre o pedido de autorização à Procuradoria Geral da República para dar sequência à denúncia contra Temer.

"É evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no País, por meio da instauração de ação penal para a qual não há justa causa", afirma. "Só isso explica essa divulgação, ao final de uma semana em que a denúncia formulada pelo ex-Chefe do MPF foi reduzida a pó pelo parecer do deputado Bonifácio de Andrada."

Na nota, Carnelós critica as autoridades que permitiram ou promoveram o vazamento, pois elas deveriam "respeitar o ordenamento jurídico". Ele atacou também a imprensa, afirmando ser inaceitável a "publicidade espetaculosa à palavra de notório criminoso, que venceu a indecente licitação realizada pelo ex-PGR para ser delator, apenas pela manifesta disposição de atacar o Presidente da República."

O advogado diz que as afirmações do "desqualificado delator" são "acusações vazias", sem provas e baseadas no que ele diz ter ouvido do ex-deputado Eduardo Cunha, "que ele já desmentiu de forma inequívoca", assim como o fizeram outras pessoas mencionadas pelo delator.

No vídeo da delação, obtido e divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, Funaro diz que era "lógico" que o ex-assessor especial do presidente Michel Temer José Yunes sabia que havia entregue a ele uma caixa com dinheiro em setembro de 2014. Diz, também, que Temer tentou favorecer empresas que atuam no porto de Santos (SP) durante tramitação da Medida Provisória (MP) dos Portos, em 2013.

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