Outros setores também começaram a se mobilizar. Representantes da indústria química e da indústria de máquinas e equipamentos chegam nesta terça-feira, a Brasília para fazer um corpo a corpo com os congressistas. "Queremos falar com o maior número possível de parlamentares sobre a importância de se aprovar a reforma", diz Fernando Figueiredo, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). "A ideia é afastar do deputado o temor de que o trabalhador será prejudicado."
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) cobrou empenho das 85 entidades filiadas em todo o País. Os membros de vários Sinduscons (sindicatos da construção civil) visitaram pessoalmente os deputados em suas casas para pedir apoio ao texto. Segundo o presidente da Cbic, José Carlos Martins, entre sábado e ontem pela manhã, 15 deputados indecisos foram convencidos a votar pela Previdência. A estratégia é focada principalmente nesse grupo, onde a resistência é menor.
O governo corre contra o tempo para aprovar a reforma ainda este ano na Câmara. As discussões sobre o texto estão previstas para começar esta semana, na quinta-feira. A votação ficaria para a semana do dia 18 de dezembro, caso o Planalto consiga os 308 votos necessários para aprovar o texto.
A mobilização dos empresários atende a um pedido do presidente Michel Temer, na semana passada. Em encontro com empresários da indústria química, Temer fez um apelo para que o empresariado pressionasse os parlamentares para votar a favor da proposta. "Não devemos menosprezar a capacidade deste governo de votar matérias no Congresso", disse Martins. Ele contou ter visto um mapa de votações e se disse impressionado com a forma como o monitoramento é feito. "É coisa de profissional", disse.
Os cruzamentos de posições por partido, por bancada, por grupo profissional e por região permitem saber onde estão os pontos de sensibilidade. Segundo Martins, muitos dos indecisos compreendem a importância da reforma, mas temem "queimar o filme" com o eleitorado no ano que vem. Ao mesmo tempo, não querem ficar mal com o governo, em caso de vitória. É nesse dilema que os empresários da construção foram instruídos a trabalhar.
"O ponto é deixar claro que a reforma não causa prejuízo para as pessoas de baixa renda, mas ataca os privilegiados que se aposentam com altos benefícios", diz Fernando Figueiredo, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Representantes da Associação da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) também estarão em Brasília nesta segunda, para se encontrar com parlamentares.
O presidente da entidade, José Veloso, diz que há um esforço da associação em alertar os 270 integrantes da frente parlamentar que representa o segmento, a maioria deles da base do governo, da importância de aprovar a reforma.
Verba à vista
O governo escalou, nesta segunda, uma tropa de choque de ministros para negociar diretamente com os deputados os votos pela aprovação da reforma da Previdência e acenou com mais recursos de emendas. A negociação entrou agora no "varejão" com as demandas individuais sendo analisadas. De olho nas eleições de 2018, há políticos que pedem até mesmo para que seus adversários não sejam beneficiados pelos recursos, num xadrez complexo de ser administrado pelos líderes dos partidos.
Como a arrecadação de novembro surpreendeu positivamente, os números apontam para a possibilidade de uma nova liberação de recursos do Orçamento nesses últimos dias do ano. Cálculos preliminares indicam um resultado entre R$ 2 bilhões a R$ 5 bilhões acima do previsto, segundo informou um integrante da equipe econômica. Com esse espaço, segundo outra fonte da equipe econômica, o governo avalia que é "bem possível" fazer um novo desbloqueio. A tarefa é calibrar a ampliação das despesas sem comprometer o cumprimento da meta fiscal, de R$ 159 bilhões.
Na ofensiva final para tentar aprovar a reforma da Previdência, os ministros da Integração Nacional, Saúde, Cidades entraram numa negociação de "varejo" com os deputados. O presidente Michel Temer e os ministros dessas áreas se reuniram com o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, que avalia o espaço orçamentário.