Gustavo Bebianno morreu aos 56 anos vítima de um infarto fulminante - Valter Campanato/Agência Brasil
Gustavo Bebianno morreu aos 56 anos vítima de um infarto fulminanteValter Campanato/Agência Brasil
Por ESTADÃO CONTEÚDO

Brasília - A demora para que o vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro faz elogios ao ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência seja colocado nas redes sociais irritou ainda mais Gustavo Bebianno nesta segunda-feira em que ele foi exonerado do governo, segundo uma fonte.

A divulgação do vídeo nas redes sociais, preferidas por boa parte dos eleitores de Bolsonaro, fazia parte do acordo fechado entre o presidente e o ex-ministro. Era uma questão de honra para Bebianno, que foi chamado de mentiroso pelo filho do presidente, o vereador no Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC).

Na mensagem divulgada para aliados, Bolsonaro usou um tom apaziguador, de trégua, para se referir ao ex-auxiliar, a quem chamou de "senhor Gustavo Bebianno". "Comunico que desde a semana passada diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação", afirmou o presidente no vídeo, sem especificar as divergências. "Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal entendidas de parte a parte, não sendo adequado prejulgamentos de qualquer natureza", completou ele, ao desejar a Bebianno "sucesso em sua nova jornada".

Até o início da madrugada desta terça-feira, no entanto, o vídeo só tinha sido compartilhado por meio de aplicativos de mensagens.

Bebianno deve ficar em Brasília nos próximos dias. A um interlocutor, o ex-ministro teria dito que teme por sua segurança. Ele continua recebendo ameaças pelo WhatsApp e disse que já identificou algumas pessoas.

General Floriano Peixoto substituirá Bebianno

Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, o general da reserva Floriano Peixoto substituirá Bebianno, que era até agora o único interlocutor do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Planalto. Atual secretário executivo da pasta, Peixoto será agora o oitavo ministro militar na Esplanada.

Antes, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse que a exoneração do ministro ocorrera por "razões de foro íntimo "

Ex-coordenador da campanha de Bolsonaro e responsável por levá-lo para o PSL, Bebianno caiu após um ruidoso embate público com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Na semana passada, Carlos chamou o então chefe da Secretaria-Geral de "mentiroso" por ele ter dito que havia conversado três vezes com Bolsonaro. Bebianno tentava com isso negar que estivesse isolado por causa de uma crise, mas foi desmentido por Carlos e pelo próprio presidente.

O clima azedou de vez após Bolsonaro ser informado de que o ministro deixara vazar para interlocutores mensagens de áudio com conversas privadas entre os dois. Antes disso, o nome de Bebianno também havia sido citado em denúncias sobre um esquema de desvio de dinheiro do Fundo Eleitoral do PSL para patrocinar candidaturas laranjas, em 2018.

"Acho que a questão entre o presidente e o ministro Bebianno tem mais problemas do que a questão dos laranjas", disse nesta segunda o vice-presidente Hamilton Mourão. "Agora vamos ver como colocar uma gaze úmida nessa queimadura de terceiro grau (no governo)", emendou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), mostrando preocupação com o impacto da crise sobre o Congresso.

A "fritura" de um dos homens fortes do governo se arrastou por dias. Para evitar que a instabilidade contaminasse votações prioritárias para o governo no Congresso, como a reforma da Previdência, ministros do núcleo político, militares e até Maia tentaram convencer Bolsonaro a manter Bebianno no cargo.

O plano não surtiu efeito e os "bombeiros" políticos fizeram de tudo para construir uma "saída negociada", que não deixasse o ex-ministro na "chuva". Emissários do presidente chegaram a oferecer a Bebianno - que comandou o PSL em 2018 - uma diretoria de Itaipu Binacional e até uma embaixada em Roma ou em Portugal, para que ele saísse do Brasil. Bebianno, porém, não aceitou. "Tudo o que fiz foi por garra, não foi por emprego ou para ganhar dinheiro", disse o ex-ministro ao Estado. "O tempo é o senhor da razão".

O receio de auxiliares de Bolsonaro é de que, mesmo com os agradecimentos feitos pelo presidente, Bebianno seja o que no jargão político se chama de "homem-bomba" e aja para detonar o governo e o filho do presidente. A oposição, por exemplo, vai convidá-lo para prestar depoimento.

"Preciso pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura de Bolsonaro. Nunca imaginei que ele seria um presidente tão fraco", afirmou Bebianno a amigos.

Áudio

Na prática, a gota d'água que levou à demissão do ministro - assinada no fim de semana, mas só anunciada nesta segunda - foi a divulgação de um áudio de WhatsApp no qual o presidente dizia a ele que não queria "aproximação" com a TV Globo.

O episódio ocorreu na última terça-feira, quando Bolsonaro, ainda internado no Hospital Albert Einstein, mandou o então ministro suspender audiência que teria com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Carvalho.

"Como você coloca nossos inimigos dentro de casa?", perguntou ele a Bebianno, segundo o site Poder 360. Para Bolsonaro, a divulgação do áudio foi uma "deslealdade". Um interlocutor do presidente confirmou o teor da mensagem ao Estado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

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