Maia reclama de insistência de Moro na tramitação do pacote anti-crime; segundo presidente da Câmara, Bolsonaro combinou de priorizar Previdência. Alfinetada de Carlos Bolsonaro irritou parlamentar - Luiz Macedo / Câmara dos Deputados
Maia reclama de insistência de Moro na tramitação do pacote anti-crime; segundo presidente da Câmara, Bolsonaro combinou de priorizar Previdência. Alfinetada de Carlos Bolsonaro irritou parlamentarLuiz Macedo / Câmara dos Deputados
Por O Dia

Brasília - Irritado com os ataques que tem recebido nas redes sociais, com a falta de articulação do governo e com os recentes embates com o ministro da Justiça, Sergio Moro, e alfinetadas vindas do filho do presidente Carlos Bolsonaro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ameaçou se afastar da articulação pela reforma da Previdência, pelo menos por enquanto, segundo relato de aliados. 

O jornal O Estado de S. Paulo divulgou que ele avisou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que deixará a articulação política pela reforma da Previdência. Maia tomou a decisão após ler mais um post do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), com fortes críticas a ele. Irritado, o deputado telefonou para Guedes e disse que, se é para ser atacado nas redes sociais por filhos e aliados de Bolsonaro, o governo não precisa de sua ajuda.

A ligação do presidente da Câmara para o titular da Economia foi presenciada por líderes de partidos do Centrão.

Maia afirmou a interlocutores não entender porque o núcleo do governo não o defendeu e deixou os ataques aumentarem se ele estava ajudando na articulação. Maia fez questão de enfatizar que quem pediu urgência na tramitação da proposta da Previdência foi o próprio presidente Jair Bolsonaro. A tentativa do ministro da Justiça, Sergio Moro, de ganhar mais protagonismo na tramitação do pacote anticrime motivou o início do mal-estar. Líderes governistas avaliaram que o afastamento de Maia mina um dos únicos canais de interlocução que o Congresso ainda tinha com Planalto. 

"Eu estou aqui para ajudar, mas o governo não quer ajuda", disse o presidente da Câmara, segundo deputados que estavam ao seu lado no momento do telefonema. "Eu sou a boa política, e não a velha política. Mas se acham que sou a velha, estou fora."

O presidente da Câmara dos Deputados manifestou insatisfação nesta quinta-feira após receber alfinetadas do filho do presidente Carlos Bolsonaro, vereador pelo PSC no Rio. Ao ler essas mensagens, Maia não se conteve, pois, dias antes, já havia sido chamado de "achacador". A interlocutores, o deputado disse que não era possível ajudar a obter votos favoráveis ao governo nem mesmo construir a base aliada de Bolsonaro na Câmara sendo atacado desse jeito.

Entre parlamentares do PSL também há insatisfação com o governo.

Guedes procurou acalmar Maia. O presidente da Câmara tem fama de "temperamental" e há até mesmo entre seus amigos quem o esteja aconselhando a recuar da decisão de deixar a articulação pela reforma, da qual é o fiador na Câmara. Na prática, muitos bombeiros entraram em ação para apagar o novo incêndio político

Bolsonaro foi, mais uma vez, aconselhado a conter seu filho para evitar uma crise em um momento no qual o governo precisa de votos para aprovar as mudanças nas regras da aposentadoria, consideradas fundamentais para o ajuste das contas públicas.

Nos bastidores, o presidente da Câmara avalia que é o próprio Bolsonaro quem alimenta ataques nas redes. Para Maia, ao não condenar a ofensiva de ódio na internet, Bolsonaro está desprezando o seu trabalho de articulador político para angariar votos favoráveis à reforma.

O movimento de Maia começou a gerar reações. Os líderes do Centrão, já insatisfeitos com a proposta da Previdência para os militares, aproveitaram o clima para rejeitar a relatoria da PEC da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.  

No Chile, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em entrevista ao jornal El Mercurio, que a sociedade brasileira tem maturidade hoje para uma reforma da Previdência e que cabe aos parlamentares aperfeiçoar e aprovar a proposta enviada ao Congresso.

Esta sexta-feira o dólar está pressionado para cima por aversão ao risco com a reforma da Previdência e nos mercados internacionais em meio a receios renovados de desaceleração global e de recessão nos EUA, de acordo com operadores do mercado. Protestos de rua contra a reforma da Previdência estão marcados para esta sexta-feira, 22, no país e serão monitorados pelo mercado para avaliar o grau de adesão da população às manifestações.

O investidor opera na defensiva temendo sobretudo os desdobramentos dos ruídos entre o presidente da Câmara e o ministro da Justiça Sérgio Moro.

Às 9h47, o dólar à vista estava em alta de 1,69%, em R$ 3,8647. O dólar futuro de abril subia 1,91%, aos R$ 3,8660.

* Com Estadão Conteúdo

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