Ex-presidente Lula em sua primeira audiência como réu em Curitiba, na bancada de acusação: Carlos Fernando Santos Lima, Julio Noronha e Roberson Pozzobon  - Reprodução
Ex-presidente Lula em sua primeira audiência como réu em Curitiba, na bancada de acusação: Carlos Fernando Santos Lima, Julio Noronha e Roberson Pozzobon Reprodução
Por O Dia
Rio - Uma crítica do então juiz Sergio Moro à procuradora Laura Tessler levou procuradores da força-tarefa da Lava Jato a rever a escala das audiências, de acordo com informações obtidas pelo site Intercept e divulgadas nesta quinta-feira pelo jornalista Reinaldo Azevedo no programa 'O É da Coisa', na Rádio BandNews FM. Na audiência no Senado, ministro da Justiça disse que reclamação de procuradora ao coordenador da força-tarefa não teve nada de anormal e que a procuradora continuou continuou realizando audiências e atos processuais.
Na suposta conversa, realizada por meio do aplicativo Telegram, Deltan e Carlos Fernando decidiram que Tessler não deveria estar sozinha na audiência do ex-presidente Lula, hoje preso.
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Depois de receber reclamação do ex-juiz em relação ao desempenho da procuradora Laura Tessler em audiências, o coordenador da força-tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol, procurou o colega Carlos Fernando dos Santos Lima para falar do assunto. Os dois decidiram que ela só deveria realizar audiências se estivesse acompanhada dos procuradores Júlio Noronha e Roberson Pozzobon.

No diálogo, Deltan só explicou qual era a reclamação de Moro depois de se certificar de que Carlos Fernando não estava visualizando as mensagens em um computador, que poderia ser visto pelos colegas.

De acordo com reportagem do Intercept da semana passada, Moro se queixou a Deltan do desempenho de Tessler e recomendou que ela fosse submetida a um treinamento para fazer audiências.
Confira o diálogo do dia 13 de março de 2017:
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Moro – 12:32:39. – Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.
Dallagnol – 12:42:34. – Ok, manterei sim, obrigado!

Durante sabatina no senado na quarta-feira, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) indagou o ministro da Justiça sobre a interferência na seleção dos procuradores. Moro disse que não há nada demais no diálogo revelado:"Senador, pelo teor das mensagens, se elas forem autênticas, não tem nada de anormal nessas comunicações", disse.
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"Eu não me recordo especificamente dessa mensagem, mas o que consta no caso divulgado pelo site é uma referência de que determinado procurador da República não tinha o desempenho muito bom em audiência e para dar uns conselhos para melhorar. Em nenhum momento no texto, há alguma solicitação de substituição daquela pessoa. Tanto que essa pessoa continua e continuou realizando audiências e atos processuais, até hoje, dentro da operação Lava Jato (…). Se aconteceu, de fato, não tem nada de ilícito. Não estou comandando a força-tarefa da Lava Jato", declarou o ministro.
O novo trecho, revelado na quinta-feira, mostra que após a crítica de Moro, o procurador Deltan Dallagnol procurou o então procurador Carlos Fernando, que hoje está aposentado, para tratar do assunto. Ele encaminha o diálogo com o juiz ao colega. 
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Confira as mensagens divulgadas pelo jornalista Reinaldo Azevedo em parceria com o site Intercept Brasil:
12:42:34 Deltan - Recebeu a msg do moro sobre a audiência tb?
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13:09:44 Carlos Fernando - Não. O que ele disse?
13:11:42 Deltan - Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegram não tá aberto aí no computador e que outras pessoas não estão vendo por aí, que falo
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13:12:28 Deltan - (Vc vai entender por que estou pedindo isso) 
13:13:31 Carlos Fernando - Ele está só para mim.
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13:14:06 Carlos Fernando - Depois, apagamos o conteúdo.
13:16:35 Deltan - Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem. (Mensagem atribuída a Moro e encaminhada a Deltan naquele dia)
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13:17:03 Carlos Fernando - Vou apagar, ok?
13:17:07 Deltan - apaga sim
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13:17:26 Carlos Fernando - Apagado.
13:17:26 Deltan - Vamos ver como está a escala e talvez sugerir que vão 2, e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar ela
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13:18:11 Carlos Fernando - Por isso tinha sugerido que Júlio ou Robinho fossem também. No do Lula não podemos deixar acontecer.
3:18:32 Carlos Fernando - Apaguei.
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A conversa aconteceu dois meses antes do primeiro depoimento de Lula a Moro em Curitiba. Na audiência, compareceram os procuradores Carlos Fernando Santos Lima, Júlio Noronha e Roberson Pozzobon. Laura Tessler, criticada por Moro, não participou.
Outro lado. Procurado pelo jornal o Estado de S. Paulo, a força-tarefa da Lava Jato de Curitiba informou que não irá se manifestar. O Ministério da Justiça afirmou em nota que a mensagem atribuída a Moro "pode ter sido editada ou adulterada" pelo grupo criminoso que hackeou o seu celular. O texto diz ainda que a troca de mensagens, "mesmo se autêntica nada tem de ilícita ou antiética". Disse ainda que não há "nenhuma contradição com a fala do ministro ao Senado".
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*Com Estadão Conteúdo