O governo tem resistido à compra de outras vacinas, como a da Pfizer, que deu prazo até esta semana para ter resposta. Para especialistas, governos locais podem ter programas próprios de imunização, desde que haja aval da Anvisa. Doria disse que serão oferecidas 4 milhões de doses a outros Estados, para profissionais de saúde. A Coronavac, porém, ainda não teve resultados de testes sobre eficácia divulgados e ainda depende de registro da Anvisa.
Segundo Doria, oito unidades da federação já manifestaram interesse pela Coronavac. O governador Camilo Santana (PT), do Ceará, escreveu nas redes sociais que conversa com Doria desde novembro. João Azevêdo (Cidadania), da Paraíba, disse ter liberado sua equipe para negociar com São Paulo. "É uma ação paralela ao plano do Ministério da Saúde, para nos anteciparmos e começarmos a vacinação o quanto antes", disse, também nas redes.
Já o secretário da Saúde do Maranhão, Carlos Eduardo Lula, confirmou à reportagem que deve receber doses. Ele não informou o total de doses nem os primeiros grupos vacinados.
O prefeito Rafael Greca (DEM), de Curitiba, celebrou em vídeo um acordo que garante "reparte de vacinas para os profissionais de Saúde" da cidade no começo do ano. O consórcio de municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre marcou encontro esta semana em São Paulo. O grupo reúne prefeitos da capital gaúcha e de 15 cidades do entorno.
"Esse movimento de descentralização da compra de vacinas não é comum, mas é válido. Não está claro o plano de aquisição de vacinas do governo federal", disse Natan Katz, secretário de saúde adjunto de Porto Alegre. Adversário político de Doria, Bolsonaro teme que a Coronavac dê força ao tucano na eleição de 2022.
Pfizer
Outros Estados se preparam para negociação direta com a farmacêutica Pfizer se a conversa não avançar com o ministério. O Espírito Santo já calculou investir entre R$ 370 milhões e R$ 400 milhões em 6 milhões de doses do imunizante, que será usado a partir deste mês na Europa e no México.
Esse total de doses seria suficiente para imunizar todos os capixabas (menos o público infanto-juvenil), começando pelos grupos de risco, que somam um milhão. "Estabelecemos negociação com a Pfizer para o Estado. Não avançamos por causa da prerrogativa do ministério", afirmou Nésio Medeiros, secretário de Saúde.
"Se não for aceita pelo governo federal, a proposta da Pfizer talvez possa interessar aos governos estaduais."
A Bahia faz cotações de cem freezers especiais para guardar a vacina da Pfizer, que precisa ficar a -70ºC. "Se a apresentação comercial for semelhante às vacinas da influenza (gripe), considerando a dose de 0,5 ml, cada frasco com 10ml teria 20 doses. Cada freezer armazenaria 1,5 mil frascos, em um total de 30 mil doses cada", disse o secretário de Saúde, Fábio Villas-Boas. Mato Grosso também não descarta a compra direta.
A Pfizer diz ter solução para armazenar: uma embalagem para 5 mil doses, com temperatura controlada e gelo seco. A vacina duraria 15 dias. A necessidade de baixíssimas temperaturas é o principal argumento para a resistência do ministério.
Espera
Mas negociações isoladas não são a aposta de todos os governos. Procurados, Rio, Pernambuco e Tocantins disseram aguardar definição federal. O ministro Eduardo Pazuello tem reunião prevista para esta terça com governadores para tratar de vacinas - alguns participarão por vídeo.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que espera votar até quinta medida provisória pela qual a Casa poderá participar da definição da estratégia de vacinação. Não citou qual seria a MP, mas uma das medidas que aguardam deliberação é a 1.003, que autoriza a adesão ao consórcio Covax. "Vamos avançar de qualquer jeito (no debate sobre vacinação) até porque o STF também vai avançar. E acho que o melhor caminho é que se faça de maneira integrada entre Executivo, Legislativo e depois a decisão final do Supremo."
Segundo ele, já há certo "pânico" da sociedade sobre o assunto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.